domingo, 30 de dezembro de 2012

PASSAGEM DE ANO


PASSAGEM DE ANO                              
      
        
         Alguns leitores pediram para que eu publicasse de novo o texto abaixo.  São reflexões sugestivas para a passagem do ano que se aproxima. Como negar?
O Réveilon é uma data estranha. Sentimentos confusos nos brotam na alma: agradecimento pelo ano que passou, um alívio pelo final dos percalços enfrentados, um misto de cisma e de medo, diante do porvir. Palavra bizarra. Tempo que há de vir, futuro. O velho ano, alquebrado, repleto de frustrações, abandona o palco e vai descansar nas coxias, após a exaustiva luta. Dali a pouco, 2013 entrará lampeiro, menino, feliz, repleto de sonhos, de planos. Ele não sabe ainda (é bom que não saiba) que muito pouco do seu programa de governo será concretizado.  Mil dificuldades se levantarão contra ele, ondas bravas, tsunamis, furacões. Os sonhos que escapam e se realizam são heroicas criaturas, bravos soldados.  Na realidade, quase sempre o ano experimenta uma vitória de Pirro: pelo que se concretiza, batalhas ganhas, tudo tem um preço muito alto.
         Contudo, toda realização pessoal tem sabor único. É a nossa vitória e não a do outro. No final do ano, mais do que nunca, reflexões nos vêm aleatoriamente, visitas não convidadas. A figura que escolho é Procusto. Na mitologia grega, ele era um salteador sanguinário que obrigava suas vítimas a deitar-se e nenhuma saia com vida. Se elas fossem mais curtas que o leito, esticava-as com cordas e roldanas; se ultrapassassem as medidas, cortava a parte que sobrava.
Em uma interpretação bem livre, a vida age como o perigoso vilão. Quando somos jovens, temos tantos sonhos, que é preciso cortar alguns para que caibam na cama da existência. Quando a velhice chega, por pessimismo ou cansaço, os ideais vão mirrando, caindo pelos caminhos, como folhas mortas. Ai é necessário alargá-los, espichá-los, porque são pequenos, pífios e o leito parece imenso.
É justamente no Réveillon, passagem, catraca, cancela, que grandes dúvidas nos atacam, como nuvem de vespas. Olha-se para o vazio do futuro amorfo, sem nenhuma certeza, tudo são dúvidas. O ano que virá será feliz ou turbulento? Conseguir-se-á realizar o saldo negativo do tempo que se acaba? Virá a messe farta ou o rebotalho de restos e sementes sáfaras, estéreis, sinônimos de refugo e aborto?
É uma época insólita, quando um ano passa e o outro chega, é passagem, páscoa.  Algo notável é a flor da esperança renascer sempre, apesar de todos os infernos que possam ter surgido, flagelando a carne ou o espírito. O símbolo do Homem não deveria ser Sísifo, mas a Fênix. Ele é persistente sim, mas antes de tudo, eterno, no seu renascer
Tudo dependerá da crença, da força, do otimismo que é dínamo e, principalmente, do fazer. Porque deixar nas mãos de Deus trabalho nosso é covardia, lerdeza e acomodamento. Urge que peguemos as rédeas de nossa vida e façamos tudo acontecer.
Nós não somos a plateia, mas os atores principais em cena. E o tempo é hoje e agora. O futuro agradece.

terça-feira, 25 de dezembro de 2012

ELEGIA A UM PEQUENO PÁSSARO


ELEGIA A UM PEQUENO PÁSSARO
    Era uma manhã comum, tínhamos uma grande lista para concretizar em Ribeirão Preto.    O céu de verão distraiu-se pensando que era primavera, azulou, límpido e opalino, trouxe até uma brisa doce, marota. De repente vi meu marido achegando-se, meio pálido, com um semblante muito triste. Pediu-me se podíamos cancelar todos os compromissos. Aquiesci, mesmo sem entender. Só aí vi em suas mãos em concha o pequeno pássaro.
     Miúdo, o curió tinha a cabecinha caída para o lado, como morto. Acontecera algo com o bebedouro, à noite, e a avezinha estava desidratada, morrendo de sede. Tentou-se de tudo, dar gotas de água fresca no seu biquinho, alisar-se a cabeça, o corpinho minúsculo. Em vão...      Era uma fêmea, seu nome, Monumental. Excelente criadeira, já nos dera lindos filhotes. Nós a envolvemos em papel alumínio e a enterramos no quintal, enquanto sua alminha voou para o céu dos passarinhos.
     A vida ficou mais triste. Poucos dias antes, um filhotinho batizado de Mandelinha, também morrera, sem causa aparente, leve passarinho, sem mesmo pedir licença para São Francisco de Assis, que deve ter se distraído. Comecei a pensar que por amar muito os animais, paga-se elevado ônus. Vive-se com medo de perdê-los, principalmente os pássaros, que são pura fragilidade.
     Em 2008 lancei meu livro Replantio de Outono, com uma enorme variedade de poemas líricos, eróticos, trágicos, metafísicos. O livro se abre com uma trilogia, à qual dei no subtítulo de Elegias a um Pequeno Pássaro. São três poemas, sobre três mortes de passarinhos. Eu os amo pela sua leveza delicada e grande fragilidade. São versos de um dos poemas: “Sua almazinha ainda / voeja, sem saber que a liberdade foi comprada por alto preço? / No céu dos inocentes / em lugar especial / feito de plumas e leveza / é recebida com a beleza / dos espíritos intocados / do humano mal”.
      Com a alma acinzentada, à tarde e à noite, não consegui assistir aos jornais televisivos. Estamos passando por uma época quando a violência acirrou mais do que nunca. Reina um caos de mortes, assassinatos em massa, chacinas, revanches, todo mundo teme e ninguém entende bem as causas dessa loucura, desse banho de sangue. O mundo enlouqueceu?! Sinto-me então, mais do que nunca, vivendo em mundo que não é o meu.  Enquanto os homens se trucidam, se massacram, eu sofro com a morte de pequenos seres, como os pássaros.  Quem perdeu o juízo?
     Parei de ler jornais e de ver televisão. Mergulhei nas obras literárias, nos livros, que sempre foram meu refúgio, minha fuga, minha catarse. E ontem, para alegrar minha alma, a femeazinha chamada Brisa teve dois filhotes, lindos, minúsculos, só bicos pedindo alimento. E a esperança foi voltando, com aquelas duas vidinhas novas.

      Mas por que estou com o coração amolecido, contando coisas pessoais, que não interessam a ninguém? A culpa é do Natal, daqui a dois dias. Neste 25 de dezembro de 2012, eu queria mandar um recado   ao Deus Menino. Ele sabe que o mundo e o Homem foram criados com a melhor das intenções. Se a receita desandou, a culpa não é Dele. Será que, em sua infinita sabedoria, com o auxílio dos Santos, poderiam  dar juízo aos pobres mortais, tão desorientados, e consertarem o mundo? É presente muito difícil, inacessível? Espero que não.          
  

domingo, 16 de dezembro de 2012

O GRANDE EVENTO


O GRANDE EVENTO

   
      Em artigo anterior eu realçava ser Ribeirão Preto um verdadeiro celeiro de Cultura. A noite do dia sete desse mês comprovou a assertiva, com o Lançamento da Segunda Antologia Ponto&Vírgula, publicada pela Funpec-Editora e organizada por Irene Coimbra. O evento foi inesquecível: organização perfeita, programação rica, buffet excelente.
      O Prefácio da obra é de autoria do escritor e poeta Antônio Carlos Tórtoro, que saudou os quarenta e seis escritores que fazem parte do livro e uma plateia alegre, com cem pessoas encantadas e cheias de entusiasmo.  Tudo contribuiu para o sucesso da sessão lítero-musical: o eufórico mês de dezembro, o local amplo e elegante, uma programação variada e de extremo bom gosto.
      A Antologia apresenta textos, separadamente, em  verso e prosa, com poemas, crônica e contos. No final, uma minibiografia de cada autor. Todos os presentes receberam um exemplar do livro.  Irene Coimbra iniciou o Encontro  falando sobre a importância da publicação e que Antologia é sempre sinal de riqueza cultural e união.
      Houve música e declamações. Os musicistas brilharam com Gustavo Molinari, ao piano e o jovem seresteiro Leandro Silva arrebatou a todos, com um repertório de grande agrado da plateia. Ele foi acompanhado pelo violonista Raphael Heijy, de técnica perfeita. Carolina Strackovinch encantou os presentes, com sua beleza juvenil e voz límpida, belíssima.
      Os declamadores, cada um com seu estilo único, muito pessoal, foram: Adélia Ouêd,  Antônio Ventura, Débora Soares Perucello Ventura, Elisa Alderani, Lucília Junqueira de Almeida Prado, Nilva Mariani e Nely Ciryno de Mello, que no final da noite deu um show de dança, acompanhando o nosso seresteiro Leandro Silva. Constou também do programa, leituras dramáticas de textos em prosa e verso, lidos por Ely Vieitez Lisboa e Irene Coimbra.
      Houve ainda, na programação, o sorteio do livro Sherazade, de Dante Marcucci.  Após,  uma surpresa : ao som de músicas natalinas, chegou “Mamãe Noel”, caracterizada por Graça Novaes, que distribuiu um mimo para todos os presentes.                              
      Enfatize-se que  todo o Evento foi televisionado pela equipe da TVRP do Canal 9 Net Ribeirão Preto e dia 20 de dezembro irá ao ar, no programa Ponto & Vírgula, da apresentadora Irene Coimbra.        

   Enfim, bela festa comemorando uma obra literária de escritores e poetas de Ribeirão Preto.  Nossos votos de sucesso à Antologia, que ela alimente o espirito de leitores de bom gosto, enriquecendo sua sensibilidade. Mas há algo especial a mais, não só a importância cultural do evento. Era o ambiente meio mágico, de uma alegria contagiante.  Havia uma forte aura de fraternidade, todos se comunicavam, trocavam livros, palavras gentis, pura alegria.
      Não conheço uma maneira mais bela e significativa estava no EVENTO de se comemorar o Natal, data espiritualizada que tem sido tão distorcida, principalmente pelo consumismo exacerbado. Tenho a certeza de que o Deus Menino deve ter gostado muito dessa reunião festiva e que Ele também.

domingo, 2 de dezembro de 2012

MATURIDADE


MATURIDADE

                Muita idade não é sinônimo de maturidade. Que é ser maduro, adulto? Tudo é tão incerto, mutável, inseguro, que não se sabe nunca se a peça já começou, está no meio ou no final. Há uma distância enorme entre a sinopse que você propõe e o texto pronto que lhe é entregue. Como manusear, conviver, coabitar com uma realidade que não é jamais a que você pediu, idealizou? Há tramas e mistérios no ar, que mudam os temas do romance de sua vida, desvirtuam até atores e atrizes que eram apenas máscaras vazias. Que fazer? Voltar? Para onde? Na maratona da existência só há ponto de partida e uma inexorável bandeirada final. No durante, tudo são novidades, treinos, tentativas, reina o inesperado, rege a surpresa.         Maturidade é sublimar os sonhos que morreram e criar outros, numa renitência de animal ferido e de Fênix renascida. É fazer do ensaio um passo de dança. Grande é a distância entre o desejado e o que se possui. Sonho e realidade não se coadunam? Felicidade e (in)felicidade não é apenas uma questão de prefixo?De quem a culpa?Quem manipula os loucos cordéis das desnorteadas marionetes? Aí vem o inaudito (então Deus leva um susto ou sorri orgulhoso de sua obra mágica): a criatura sofrida, esmagada pela milésima decepção, sangrando mais uma vez, eternamente presa na armadilha do que é e não do que deveria ter sido, ressurge, renasce, ressuscita, toma o presente não pedido, transforma-o, muda-o, extrai diamante do carvão, bálsamo da madeira ferida. Isso é ser maduro. É reestruturar. É ter a coragem de recomeçar apesar de. É ser taumaturgo quando os milagres não mais existem. É o demiurgo que cria do nada, parte dos cacos, do zero e reinicia a competição, a luta, a conquista de ser dono de seu próprio destino. Ao seu redor, forças estranhas, invisíveis, intocáveis mudam constantemente as regras do jogo, trocam as peças do xadrez, sabotam a grama antes da partida, dosam, inacreditável e estranhamente, nosso direito à felicidade: para cada minuto de alegria, uma eternidade de sofrimento. Quem é o sádico distribuidor de tal porcentagem? Quem fez de anos felizes, segundos, e séculos, das horas infernais? Loucura estranha, lógica imperfeita, sofisma. Em compensação, o herói da história (eu / você / nós) não desiste, parece jogador trapaceiro que tem sempre trunfo escondido na manga. Quando todos o julgam perdido, acabado, ele volta, retorna, louco Sísifo sem causa, que não seja sua própria insanidade.
                O grande Bernanos, de aguda religiosidade, afirma que “o trabalho que Deus faz em nós é raramente o que esperamos”. Aceito a contestação, tenho detectado esta verdade a vida inteira. Impressiona-me, no entanto, por que não pode haver harmonia entre os altos desígnios divinos e a vontade nossa, por que tudo é tão fugaz, efêmero, sofrido, difícil. Conquista é sinônimo de dor e de chaga viva. Pagam-se por ela altos juros, ágios absurdos. Há qualquer coisa errada na fórmula, nos planos, pois o homem nasceu para a alegria, para o prazer. Todo ser humano alimenta-se de sonhos, joga para ganhar. Surgem, todavia, trapaça, a troca de caminhos, os fracassos, as desilusões. A vítima morre um pouco, nutrindo-se da dor autofagicamente, transforma-se em dínamo que gera a própria força e recomeça todo o processo. Aí está sua grandeza. Pode receber, então, o Atestado de Maturidade. Temperado como o aço, mas maduro. Repleto de cicatrizes, mas maduro. Gente grande, gente feita, obra acabada, dita à imagem e semelhança de Deus, divino como seu Criador, invencível, eterno.

terça-feira, 27 de novembro de 2012

DE PÁSSAROS E DE HOMENS


DE PÁSSAROS E  DE HOMENS

         Cada dia entendo menos o mundo. A pombinha fez o ninho bem em cima do carro. Despreocupada e dona do pedaço, não se preocupou com a sujeira toda que fez sobre o veículo. Quando meu marido descobriu o fato, cuidadosamente aconchegou as palhinhas sobre uma pilastra da garagem, cuidou de escolher o lugar abrigado do vento, pois lá estavam dois filhotinhos, com os bicos abertos, pedindo comida. Ficou muito preocupado. A mãe aceitaria a mudança? Abandonaria os filhinhos mal empenados?
         Logo foi uma alegria. A mãe sábia aceitou o novo local, aninhou sobre os filhos e lá ficou a nos olhar de olhitos muito abertos e atentos.  Mas desgraças acontecem. Não se sabe como nem o porquê, um dia depois, um dos filhotes apareceu morto, no chão. É algo triste e melancólico ver um filhotinho de pássaro morto, todo abandono, fragilidade. Lembrei-me de um acontecimento macabro, em Ribeirão Preto, após um vendaval. De manhã, indo à Igreja, as ruas, os passeios estavam coalhados de cadáveres de vários tipos de passarinhos, um tapete de pequenas aves, retrato trágico da efemeridade da vida. Não seremos nós pobres pássaros à mercê de possível vendaval divino?
         Quanta tristeza! Embrulhei o filhotinho morto em um papel alumínio, para que ele tivesse uma mortalha bonita, enterrei-o. Felizmente, o outro filhote escapou. Empenado, arisco, deu seus primeiros voos e alçou ao céu, em busca da liberdade. O mundo pareceu mais alegre e naquela tarde, até o mico estrela, que raramente vem por aqui, apareceu, pegou rápido os dois pedaços de banana que deixamos para ele e saiu moleque, alegre, com seu longo rabo dançante.
         Naquela mesma noite, no jornal televisivo, foram veiculadas só notícias brutais e macabras. Uma imensa tristeza abateu sobre meu coração. Senti-me pequena e mesquinha, porque sofri com a morte de  um filhote de passarinho. E, mais do que nunca, constatei que o ser humano é complexo e a vida, um labirinto com inúmeras veredas repletas de abismos.
         Ainda é primavera, o céu está azul, a brisa doce. Todavia, a maneira de agir dos seres humanos não condiz com isto. Parece um eterno agosto, triste, aziago. Sempre me impressionou por que os homens não aprendem com a Natureza que segue leis lógicas, coerentes. Ao contrário, o pretenso Rei do Universo, o propalado animal racional muitas vezes é um monstro, ou frágil, controverso, com atitudes inexplicáveis. Lembro-me de uns versos do famoso poema de Thiago de Mello, Estatutos do Homem. São lições utópicas que só um grande poeta poderia dar. No Artigo IV, ele diz: Fica decretado que o homem não precisará nunca duvidar do homem. Que o homem confiará no homem como a palmeira confia no vento, como o vento confia no ar, como o ar confia no campo azul do céu. O poema todo é uma mensagem de beleza, de paz e de lirismo.
         Realmente foi apenas um poeta sonhador que escreveu o magnífico
 Código. Deus preferiu criar o Homem inteligente e capaz, mas deu-lhe o livre arbítrio. Aconteceu o que aconteceu. Sempre achei que esta dádiva divina foi um presente de grego.





domingo, 18 de novembro de 2012

PECADO GRAVE


PECADO GRAVE

         Há algum tempo tentou-se atualizar os sete pecados capitais. Muitas foram as mudanças e enfatizou-se que o mais grave é o acomodamento, a omissão. Ora, o conceito de pecado é complexo, há religiões que negam sua existência. Em um livro de um grande teólogo, ele termina suas reflexões com uma frase sábia: O único pecado é cortar relação com Deus.
         Aprofundar a interpretação da assertiva acima não é fácil. Todavia, é certo: a omissão é um dos exemplos vivos do perigo de violentar nosso relacionamento com a bondade, com tudo que é digno, generoso, altruísta, excelso.
         Numa tarde chuvosa, na periferia de Ribeirão Preto, senti grande tristeza. Cometi esse pecado abominável. Ao fazer a curva, diante de uma casa simples, estava o cachorro. Para surpresa minha, era um labrador cor de chocolate, de olhos claros. Magro, sujo, costelas à mostra. Parei e reparei nele. Havia beleza e dignidade ainda no seu focinho meio quadrado, bonito. O olhar era uma imensa tristeza, sem nenhuma esperança. Percebi, então, que seus membros traseiros estavam meio comprometidos.
         Eu lera sobre displasia da anca, uma doença que foi descrita em 1935, típica nas raças pastor alemão e labrador retriever. O principal sintoma é que o cão começa a claudicar. Não é doença hereditária e nem congênita: o cão não nasce com displasia, mas ela pode surgir devido a influências de fatores ambientais, alimentares e excesso de exercício.
         Aquele cão triste, infeliz e doente, parecia sofrer muito. Olhamo-nos, senti-me misérrima diante dele, mas não desci do carro. Era quase noite e quando cheguei em casa experimentei a pior das sensações: remorso, culpa, falimento. Eu vira a dor, o sofrimento e nada fizera. Fui omissa, covarde. Vontade de sair e voltar lá, acolher o cão doente, levá-lo a um veterinário. Mas, por Deus, não conhecia aquele bairro tortuoso, cheio de ruas estreitas. Eu nem mesmo saberia localizar o cão. A prova disso é que não conseguira achar o endereço no Parque Industrial.
         Foi uma noite de pesadelos. Sartre disse que o inferno são os outros, denunciando a falta de comunicação, a dificuldade de aceitar o outro, de entendê-lo e respeitá-lo. Tentei jogar a culpa no dono do pobre cachorro. Que os céus o castigassem como a todos que têm um animal e não cuidam dele.
         Na verdade, era um subterfúgio, uma tentativa para punir a verdadeira culpada: eu. A omissa, a alienada, a desalmada, a detestável criatura que vê um cão cor de chocolate, de olhos claros, doente, sofredor e nada faz. Abominei-me. Tentei consolar-me, indo ver minhas cadelinhas labradoras, da mesma cor e de belos olhos verdes. Quando as olhei, alegres, sadias, roliças, vacinadas, muito bem alimentadas com uma das melhores rações, foi pior. Chorei no maior desalento. Elas, compreensivas, doces e sempre amorosas, lamberam-me as mãos. Pareciam me dizer: Não sofra. Os seres humanos são mesmo falhos.
         Agora é madrugada e o sono não vem. Sim. Realmente o maior dos pecados é a omissão. Livrai-nos dela, Senhor.

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

A MAGIA DA INTERNET


A MAGIA DA INTERNET
        Não canso de repetir a sábia frase de famoso psicólogo: A Internet é algo sofisticado, instrumento notável nas mãos de quem sabe manuseá-lo e arma perigosa para os ingênuos ou incautos. Recentemente eu me lembrei da asserção, por um pps que recebi, sobre a mágica cidade de Córdoba. Música maravilhosa da Orquestra Sinfônica de Córdoba, fotos, locais, dança. Ou ainda, algo precioso: de minha casa, pelo computador, conhecer e ouvir Bobby Mc Ferrin, gênio iluminado, de outro planeta.  
        Não fossem os e-mails, eu jamais teria conhecido a  Maria Carpi e Raquel Naveira, uma gaúcha, outra do Mato Grosso do Sul. De nossos contatos surgiu uma amizade plena de encantamento, com recados, notícias e troca de livros. E assim, não mais que de repente, como disse o Poetinha, fiquei amiga íntima das duas maiores poetisas vivas brasileiras. Amigos novos, notícias recentes, em sua casa, logo ao amanhecer, textos notáveis e reencontros com ex-alunos que surgem de um passado longínquo e hoje são brilhantes profissionais, nas mais diversas áreas.  No presente,  mulheres e homens maduros,  mas quem me escreve são os eternos adolescentes, jovens, repletos de sonhos. É como se, magicamente, o tempo não houvesse passado e eles continuam quase meninos ainda, dinâmicos, idealistas. E é a Internet que me propicia tudo isto,
          Relembrando esses presentes que recebi através da tela mágica, eu me comovo. Não poderia falar de todos, mas citemos Jacy Antunes, exemplo vivo do que afirmo. Leitora voraz, cinéfila, mulher inteligente e sensível, não adiantou ela retrucar que já tinha mais de cinquenta anos. Para mim, lendo-a, ou ouvindo-a ao telefone (voz de menina!), não era a farmacêutica ou a mãe de duas jovens, mas a eterna adolescente, cujos olhos só viam belezas em um futuro brilhante. Ou Eunice Mendes, que teima ter mais de quarenta, mas eu converso sempre  com a menina ; atriz, professora que ministra Cursos em todo o Brasil, ensinando pessoas a falar bem, como ter uma postura eficiente nos empregos. Antônio Ventura, juiz aposentado, poeta famoso. Como olhar para ele, com sessenta e não ver o menino de catorze, sentado à minha frente, fascinado com as palavras? O fenômeno Adriano Chan, escritor, professor, cineasta, diretor de teatro. É o meu adolescente que tem pouco mais de trinta anos. E a minha menina Sílvia Pereira, jornalista e cinéfila brilhante? Mais recentemente, a querida      Thaís Ismail. Eles são tantos, enriquecem meu mundo!
        Se não fora a Internet, eu não poderia conversar com eles sempre e com muitos outros que me visitam em e-mails inteligentes, íntimos, falando de seus planos, de seus sonhos. O que me aborrece é o mau gosto, porque não dizer, o crime contra a sabedoria de viver, de quem utiliza a Internet só para coisas tolas, vulgares, e o pior, às vezes fazem dela uma arma para falcatruas e/ou  cometer crimes hediondos.
        Os seres humanos são sempre um mistério. Vejo nas ruas, nos jornais televisivos, um formigueiro de pessoas com celulares, enviando eternas mensagens, ou utilizando a Rede Social só para tolices corriqueiras, filmezinhos de péssimo gosto, diálogos inócuos e vazios. Por que não utilizar a tecnologia, para enriquecer o conhecimento, a vida ?
        Sei que conselhos não são para serem seguidos. Ou como alguém disse, com ironia, são para serem usados ao contrário. Mas se muita gente acessasse  a Internet  de maneira sábia, talvez pudéssemos ser, realmente, a Era da Comunicação e não da Solidão.

domingo, 4 de novembro de 2012

REFLEXÕES


REFLEXÕES 

        Novembro é um mês triste, talvez porque comece com o Dia de Finados, Quando os cemitérios ficam plenos de gente, como em um feriado funesto. Seria muito bom que se visitassem nossos mortos, não só no início de novembro. Será que eles se sentem solitários, rodeados de túmulos, pequenas capelas e esculturas sombrias?
         Já confessei oralmente e por escrito que, quando jovem, mal olhava para os Campos Santos, desviando o olhar quando por lá passava. Hoje não. Com tanta gente querida lá, rezo em paz, experimento uma saudade profunda e uma grande paz, como se ali fosse a moradia definitiva. Depois saio em visita aos amigos que partiram e aos ex-alunos que nos deixaram prematuramente.
         Nesse dois de novembro, a data me pareceu mais dolorosa. A perda recente, de minha mãe, ainda dói muito. Quando voltei da visita que lhe fiz (eu a sinto muito mais presente em casa, diante das flores, do céu azul, quando converso com ela e rezo), fui ler um texto que aprecio há muito tempo, o poema de Carlos Drummond de Andrade, TU? EU? Por que estes versos? Porque o nosso Mago de Itabira, quando sentiu que a morte se avizinhava, publicou, em 1968, o livro Boi Tempo, ou A Falta que Ama. Obra triste, amarga, o Poeta fala obcecadamente da morte, mas de maneira lírica, lindíssima.
         Jamais vou me esquecer. Quando comprei e li o livro, gostei muito, apesar de toda a tristeza e melancolia que permeava todos os poemas. Adotei a obra para meus alunos da Instituição Universitária Moura Lacerda. Quando líamos e comentávamos os poemas, algumas alunas choraram. Dias depois, escrevi ao Drummond, comentando seu livro e narrando o que acontecera aos jovens, lendo-o. Para minha surpresa e alegria, recebi uma cartinha do Poeta, agradecendo-me e enviando-me um poema inédito, sobre o Natal; estávamos em dezembro.
         No poema TU? EU? , o universalismo é muito sugestivo, porque a temática central fala sobre a inexorabilidade da morte. Contudo, Drummond, além de explorar a questão metafísica, enfatiza alguns enfoques trágicos, denunciando a morte como algo injusto e inesperado, porque ela vem sempre sem aviso, ou hora apropriada ( haveria alguma?) e afirma fatidicamente: “Não morres satisfeito / morres desinformado”. Seus argumentos são inquestionáveis: “A vida te venceu/ em luta desigual./ era todo o passado/ presente presidente/ na polpa do futuro/ acuando-te no beco/ Se morres derrotado, / não morres conformado”.
         Há versos antológicos, jogos semânticos, metáforas inesperadas e o grande poeta cria neologismos notáveis: “Nem  sabes se és culpado/ de não ter culpa. Sabes/que morres todo o tempo/ no ensaiar errado/ que vai a cada instante/ desensinando a morte/ quanto mais a soletras,/ sem que nascido, mores/ onde, vivendo, morres”. O livro todo é um aviso, uma análise, uma reflexão profunda e sábia. Às vezes ele é quase cruel e herético, quando diz: “Deram-te um defensor/ cego surdo estrangeiro/ que ora metia medo/ ora extorquia amor”.
         O que fica, após uma leitura cuidadosa da obra, é um alerta a nós, os “morituros”, como ele nos chama,  e uma profunda admiração pela lucidez de Drummond, ao falar sobre o grande tema, de modo terrível, amargo, todavia sábio e de um lirismo belíssimo.

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

PESADELO


PESADELO
                   
                       Na sala do dentista eu esperava atendimento. Por que o pavor, a depressão, tanto medo? Uma mulher madura, amedrontada como uma criança. Explica-se. Não tenho nenhuma experiência odontológica. Mais de cinquenta anos apenas fazendo limpeza de tártaro. Nunca uma inflamação de gengiva, nunca um tratamento de canal, jamais uma dor de dente. Nada. Mesmo assim, sempre achei que os dentistas têm um pacto com o Diabo, aqueles aparelhos, ferrinhos, o motor com o barulho infernal.
                     Mas meu caso era ridículo; eu morrendo de medo, porque teria, pela primeira vez, que arrancar um dente. E o dente do siso. Alguém me contando histórias. Tirou o dente do siso e ficou quarenta dias de cama... Havia raízes inclusas, tortas, inesperadas, surpresas como nos pesadelos. A moça ao meu lado, com vinte e oito anos, já extraíra  uns dez dentes! A senhora à minha frente, fizera um implante e tirara todos! Por Deus, o que fazer de uma mulher já com certa idade, em uma tarde tão quente, com tanto medo, porque vai, pela primeira vez arrancar um dente?
                       Afinal, eu era uma mulher ou um rato? Que covardia era aquela? O problema é genético. Meu pai, um espanhol alto, saudável,  quando tinha uma gripe, ficava tão aborrecido, que dizia: Ah, é melhor morrer... Meu tio, ao ir a primeira vez ao dentista, protestou: Não acredito que todo mundo tenha tanta dor! Levantou-se da cadeira e nunca mais voltou. À minha frente, uma bela mulher de uns cinquenta anos. Ao levantar-se, mancou um pouco. Contou-me que aos dez anos já colocara uns dez pinos na perna, depois quebrou o fêmur, tinha uma placa no quadril.
                      Aqueles relatos tétricos, ao invés de me consolar, deixavam-me mais envergonhada ainda. Eu era a última criatura da Terra, a mais covarde, a menos digna. Lembrei-me de minha sogra, que tivera treze filhos, sozinha. Não permitia no quarto nem o marido. Entrava, fechava a porta, ela e Deus. Será que na feitura, nos seres humanos, há receitas erradas, quanto aos ingredientes? Na minha puseram um exagero de medo de dentistas. O que fazer?
                       Lembrei-me de uma crônica poética do excelente escritor sertanezino, Vasco Pereira de Oliveira. Em seu livro “Crônicas & Agudas”, em “Sobre Dores e Dentes”, o poeta diz: “O tratamento do canal é uma tentativa de desvendar a alma do dente, do paciente. Furam, perfuram, retiram a vida em busca da alma. Não conseguindo, desistem e fecham o buraco, para que a alma não escape. Lacram o túmulo sem inscrição, não há epitáfio para um dente morto”.  Amei a crônica tão criativa, mas por Deus!, eu ia apenas extrair o siso.
                      Não adiantou. A lembrança literária não serviu de consolo. Minha autoestima foi a zero. Covarde! Vil criatura! Lembrei-me de que eu já enfrentara situações seríssimas, trágicas. E até com certa valentia, com muita serenidade. Mas por que no consultório dentário era diferente?! Comecei a me recordar de episódio terrível, no exterior, quando passei fome e frio e resolvi o problema com bravura. Os minutos passavam. Eu tentava me convencer de que a tragédia não era tão grande,   o medo só aumentava.
                      Aí aconteceu. Reuni toda minha coragem, convoquei os Santos de minha devoção. Quando a atendente chamou meu nome, heroicamente me levantei, dei alguns passos firmes e,  de cabeça erguida, como quem enfrenta o Inferno, dirigi-me para a sala de cirurgia.
 
 

domingo, 21 de outubro de 2012

À PROCURA DA INFÂNCIA PERDIDA


À PROCURA DA INFÂNCIA PERDIDA

         Tenho criticado, intimamente, uma síndrome bizarra de autores maduros, que estão sempre a escrever sobre sua adolescência e a mocidade. Como o castigo vem a cavalo, um dia desses tive uma crise de melancolia, relembrando cenas, episódios de tempos longínquos.
         Resolvi brincar. Salvei o que achei interessante na minha Caixa de Entrada, deletei fatos, joguei muita coisa para a lixeira. Ora, a vida sempre nos ensina homeopaticamente. Assim, tentei estabelecer uma cronologia pelos sentimentos experimentados, o que foi mais marcante.
         Dos cinco aos sete anos, a existência era uma sinfonia de sensações tácteis, visuais e gustativas; olfativas não, porque sou deficiente do nariz. Uma sinestesia contínua. Nessa época, o palco central, na pequena cidade da Pratinha, no sul de Minas, era o meu pomar. Meu pai e um tio não negavam suas origens: espanhóis do pequeno pueblo Pardesoa, a cem quilômetros de Santiago de Compostela.
         Os galegos trazem plasmado no sangue o amor pela agricultura. A Galícia é um jardim, uma joia verde, com seus milharais sem fim, as árvores frutíferas, incríveis macieiras, pereiras e cerejeiras, que primeiro se engrinaldam de flores e após, ficam pejadas de frutos. Na primavera, os campos se transformam em um inacreditável tapete de flores doiradas.
         Algum tempo depois que habitávamos aquela casa grande e sombria, o pomar já estava formado, com uma variedade de frutas nunca vistas na cidadezinha: maçãs rubras, várias espécies de laranjas, peras, ameixas do Japão e as outras, bem brasileiras, amarelas, caldentas, com linda penugem. Pessegueiros, os pés de carambola, baixos e arredondados, oferecendo seus frutos gomosos e meio ácidos.
         Sempre fui uma menina meio solitária, sem irmãos, tinha poucos amigos e preferia passar horas infindas deitada na terra morna do pomar, olhando com encantamento os frutos, oferendas coloridas e deliciosas. Meu encantamento pelas árvores, desde aquela época, dura até hoje. Elas têm personalidade própria, orgulhosas, altaneiras, outras pequenas, mais humildes. Quase entro em transe diante de ipês floridos, paineiras níveas ou róseas, exuberantes, ipês do jardim, palmeiras e coqueiros. A Natureza e o verde me fascinam.
         Às vezes penso que temos dentro de nós várias personagens, com tempo, espaço e características diferentes. Na Peça da Vida (escrita e dirigida por quem?) representamos, como podemos, nossos papéis. Não há ponto, ensaios, orientação definida. É tudo no happening, no acontecendo, dia a dia. Até que nos tornamos adultos, com mais capacidade de reflexão e, às vezes, não cometemos mais traquinagens. Somos personagens que se sucedem e vistas da plateia, agora, parecem artistas bizarros, meios desarvorados.
         O que tem a ver a professora, a mulher adulta, a escritora, a personagem madura de hoje, por exemplo, com a menina de oito anos, vivendo, pela primeira vez, no campo, fazendo travessuras, apostando corrida sobre a eguinha em pelo, com os cabelos soltos, sob o céu azul da Fazenda do Morro do Ferro? Ou, um ano depois, sentindo-se prisioneira no Colégio Sacre-Coeur, de Belo Horizonte, amordaçada na sua linguagem  coloquial, repleta de mineirices, quando na famosa Casa de Ensino só se podia falar em francês?
         Vieram outras épocas, mais mudanças de cidade e de Estado, novos pesadelos. Mas tudo me parece, hoje, um filme mal dirigido, com roteiro desconhecido e esta realidade só ressurge nos pesadelos, nos sonhos. Gostaria mesmo é de fazer uma viagem pelo Inconsciente, visitar o Id, pôr ordem nesses porões.

  
        

domingo, 14 de outubro de 2012

DESAGRAVO


DESAGRAVO  
Já se tornou muito comum escrever algo sobre o Professor, no seu Dia. Contudo, nessa época em que a figura do mestre anda tão desgastada, quando o magistério virou profissão de risco, parece-me pertinente uma mensagem de desagravo.
Como se não bastasse, a TV Globo está levando ao ar a minissérie Gabriela, obra famosa de Jorge Amado,  adaptação feita por Walcyr Carrasco, novelista de renome. Por conta mais do adaptador do que do romancista, entre as personagens há um professor, criatura infeliz, que mal ganha para subsistir, canhestro, inteligente, mas totalmente gauche, uma caricatura bizarra de um ser humano, na pior das profissões.
         Nos jornais televisivos há sempre notícias de agressões de alunos aos professores e de vez em quando, algum mestre, não suportando mais, revida os tapas e pontapés.  Muitas escolas são de péssima qualidade, o Ensino é fraco, há professores mal preparados e os jovens raramente se interessam pelo magistério. As causas não são somente a violência que grassa nas Escolas, mas também os baixos salários. 
Sei que os mestres jamais serão desnecessários, substituídos pelas novidades da alta tecnologia, como afirmam  algumas teorias falaciosas. Não acredito em tal tolice e enfatizo que nunca me arrependi pela opção profissional que fiz e até hoje, após ter lecionado durante cinquenta e dois anos, se preciso fosse, faria tudo de novo. Dar aulas, participar do desenvolvimento, da educação e da formação dos jovens continua sendo para mim, uma das mais dignas e nobres  profissões. Talvez o professor seja ainda uma das chaves para minimizar o cipoal caótico de alguns problemas sociais e educacionais. Por isso ele deveria ser levado mais a sério, tratado com dignidade e respeito.
Continuo otimista. Sempre que estou em uma reunião de jovens, ao perguntar-lhes o que pretendem seguir, fazer no futuro, quando alguns dizem que farão Letras, Geografia ou História, começo a vê-los como criaturas especiais, mais espiritualizadas e idealistas, alguém que acredita que pode melhorar o mundo. Sinto neles uma fagulha do fogo de Prometeu, uma dose de quixotismo.
Ora, recebi no final de setembro o Boletim Informativo do Centro do Professorado Católico. Interessante, com várias informações importantes, na última página vem um texto de John W.   Schlatter, famoso educador americano, poeta e filósofo. Senti necessidade de transcrevê-lo, porque sua maneira de ver os professores é a minha. Neste seu dia 15 de outubro, a homenagem é pertinente e soa como um desagravo:
Sou professor.
Fui muitas pessoas em muitos lugares.
Sou Sócrates, estimulando a juventude de Atenas a descobrir novas ideias através de perguntas.
Sou Anne Sullivan, extraindo os segredos do universo da mão estendida de Helen Keller.
Sou Esopo e Hans Christian Andersen, revelando a verdade através de inúmeras histórias.
Os nomes daquele que praticaram minha profissão soam como um corredor da fama para a humanidade: Buda, Confúcio, Moisés e Jesus. Sou também aqueles cujos nomes foram há muito esquecidos, mas cujas lições e o caráter serão sempre lembrados nas realizações de seus alunos.
         Cite-se, ainda, a asserção sábia e complexa do grande Guimarães Rosa, nosso Mago de Cordisburgo: Mestre não é quem ensina, mas quem, de repente, aprende.