terça-feira, 24 de janeiro de 2012

À PROCURA DO TEMPO PERDIDO

À PROCURA DO TEMPO PERDIDO
       
O título não é o  livro famoso de Marcel Proust, À La Recherche du Temps Perdu, quando ele, ao comer uma madeleine, pequeno bolo francês, fez uma volta ao passado, que acabou em uma reflexão sobre a literatura. A obra, em sete volumes, foi escrita em 1908 e publicada só em 1929.
            Um vezo comum, hoje, de grandes escritores maduros, sessentões, é escrever textos sobre            sua adolescência, a mocidade. Até a grande Martha Medeiros, um pouco mais nova, um dia desses teve uma crise de melancolia e voltou à época do Grupo Escolar.
            O tema central deste artigo é comentar um sentimento bizarro de se ter saudade, não do que se perdeu, mas do que nunca teve. Insólito e muito raro, são os jovens confessarem certo tédio diante do hábito de ficar com muitas meninas, da banalização do beijo, que é dado como brincadeira, nas festas, da ausência total do lirismo, do romantismo.
            Alguns, mais sensíveis, chegam a dizer que talvez a época de seus pais, de seus avós, que acreditavam no amor, na paixão, era mais bela. Hoje, tudo é muito comum e insosso. Alguns, todavia, nunca pensaram nisto, ou têm uma consciência tão elástica, tão moldada pelos chamados tempos modernos, que chegam a confessar uma total ignorância ou até certa ingenuidade hilária. Lembro-me da meninazinha de dez anos, perguntando-me: A senhora sabe muitas coisas sobre sexo? Eu sei tudo... Jamais me esquecerei do aluno inteligente, bonito como um príncipe, que estava triste porque não encontrava menina séria para namorar. Eu então mencionei uma garota linda, do seu grupo. Ele disse, com sarcasmo: Pergunte com quem ela ainda não dormiu, na nossa cidade... 
            Certos psicólogos afirmam que o mundo não está pior, nem melhor, mas diferente. São outros enfoques, uma cosmovisão nova. Sim, mas e os resultados, as consequências, o aumento da gravidez precoce, das drogas, da Aids, entre os jovens, as famílias desestruturadas, a péssima qualidade do ensino, a violência na Escola? É apenas um modus vivendi atual?
            Geralmente, quando se tenta abordar causas de problemas tão complexos, mencionam-se as consequências e jamais as soluções. Ou então, discute-se tudo pela rama. Como são problemáticas globalizadas, já se pensou em um Congresso Internacional de Educadores, de Sociólogos e Psicólogos, à procura de soluções mais concretas, ou ao menos, possíveis? Enquanto isto debate-se sobre problemas de importância ínfima, como se deve ou não dar um tapa na bunda das crianças, quando elas são mal educadas, ou não querem obedecer.
            No mundo moderno, a maldade humana perdeu os imites. Maltratam-se os animais, grassa a pedofilia, aumentam os roubos, os assassinatos, até mãe e pais matam os filhos ou vice-versa. O estupro é uma praga maldita que viceja no mundo todo. O  tráfico e o trágico uso de drogas crescem sempre.  Realmente, não haverá soluções para, ao menos minimizar tanta desgraça?
            Esperar pela justiça divina é muito cômodo. Rezar apenas é duvidoso. Se nós fizemos do mundo este circo de horrores, somos responsáveis e temos a obrigação de procurar caminhos, saídas. Onde está a eficácia e a veracidade da propalada racionalidade humana? Ela é apenas um mito, uma ficção?

2 comentários:

  1. “Na primeira noite
    eles aproximam-se
    e colhem uma flor
    do nosso jardim

    e não dizemos nada.
    Na segunda noite,
    já não se escondem;
    pisam as flores,

    matam o nosso cão,
    e não dizemos nada...
    Até que um dia
    o mais frágil deles
    entra sozinho
    em nossa casa,

    rouba-nos a lua e,
    conhecendo o nosso medo,

    arranca-nos
    a voz da garganta.
    E porque não dissemos nada,
    Já não podemos dizer nada”.

    Há muito tempo foi-nos roubada a inteligência. Fomos emburrados pelas mídias. Aceitamos, ou melhor, compactuamos com a futilidade de certos programas. Estes nada acrescentam.

    “A televisão leva o homem
    ao esquecimento e
    à perda de si mesmo...”

    A família? Totalmente acéfala na conduta! Princípios? Desmoronados pela fraqueza de caráter.

    Estamos impotentes diante de tudo!
    “Tudo mudou!
    Os homens, as coisas, os animais. As palavras já não são as mesmas. É a civilização globalizada, a cultura de massa.
    As palavras foram fragmentadas e tudo virou um fastfood”.

    Aparecida

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    1. Aparecida, minha querida,
      Belo comentário, sempre muito pertinente. Ainda mais com o poema belíssimo, em epígrafe, cuja autoria provocou certa celeuma. Ele é do autor brasileiro, Eduardo Alves da Costa e, por muito tempo, foi conhecido como sendo de Maiakovski. Gosto especialmente do texto. Usei-o, também em epígrafe, no meu conto Os Amantes, do livro Os Girassóis de Girona, que sairá em segunda edição, agora em 2012,
      Beijos
      Ely

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