quinta-feira, 16 de agosto de 2012

AXIOMAS

AXIOMAS

                          A Língua Portuguesa é muito rica. O termo acima é sinônimo de dito, provérbio, ditado popular, anexim, máxima, sentença, refrão, rifão, aforismo e brocardo. São verdades insofismáveis e se tornam tão conhecidas que não têm mais autor. Viram “chavões” repetidos por todos. Alguns, no entanto, não caem no gosto popular ou são menos usados. Quando se escreve, citar os muito comuns é considerado de mau gosto, como: “A união faz a força”, “Quem semeia vento colhe tempestade”. Apesar de muito conhecido, há algo mais certo que a assertiva: “Cabeça vazia, oficina do diabo”?
                          Raramente falo (ou escrevo) sobre o passado. Gosto dele (houve muita coisa boa!), mas prefiro deixá-lo em paz. Um dia  desses, todavia, assim de repente, um axioma galego me veio à cabeça. Eu o ouvi em uma das inúmeras viagens à terra de meu pai, a poética Pardesoa, aldeia que fica a uns cem quilômetros de Santiago de  Compostela. A prima alegre e despachada disse no seu “portunhol” ( o que é o galego senão, até historicamente, a mistura de português e espanhol?): “As coisas não são como começam, mas como acabam”. Sábias palavras. Justifiquemos. Todo início é dúvida. Negócios, passeios, casos de amor, até casamento. Há uma enorme distância entre o planejado, o  que se espera e o final, quando se olha para trás e em flashback analisa-se como tudo se deu. Por isso o poeta diz: O caminho se faz caminhando. É no vivendo que se vai descobrindo até que ponto os projetos estão sendo concretizados. Após, quando tudo se acaba (ou parece acabar) , pode-se analisar com minúcia e comparar se aconteceu o esperado, se houve boas ou más surpresas, flores ou abismos.
                          Quando chegar a hora derradeira, é capaz de ter lá do outro lado, um grande computador para fazer download  de tudo que se viveu. Serena, ou angustiadamente, saber-se-á o que se concretizou ou o que se perdeu durante a caminhada. Nada foi deletado. É o acerto final. Por que não se cultivar o hábito de fechar para balanço de vez em quando para analisar a performance, ou como andam as realizações de nossa plataforma de governo?  Quando os resultados são ruins e o homem for reprovado na prova final, nada mais há que se fazer. É preciso, pois, se precaver e ficar atento aos sinais de pequenos e grandes fracassos, quando ainda há possibilidade de mudanças e estratégias.
                          Há outro anexim, também galego, interessante: A vida é um tango e a morte, um passo doble. Pode-se facilmente comprovar a sabedoria do aforisma, mostrando a pertinência da metáfora. O tango, como a vida, é a mistura de ritmos vários, paixão, sentimentos conturbados, tragicidade. O passo doble , por sua vez, dança originária da Espanha, encarna o espírito do toureiro. É  símbolo de violência emocional,  valentia, coragem, desafio, perigo. O que é a morte, senão uma tourada, que sempre culmina com um epílogo fatal?

                          No livro “O avesso das coisas”, Carlos Drummond de Andrade cria, com inteligência e originalidade, em estilo sucinto e condensado,  um conjunto de aforismos, de A a Z, com as mais diversas definições sobre o amor, a vida, a cultura, vícios e virtudes, a morte. Em um deles afirma que Deus criou o homem à sua imagem e semelhança, mas mortal, para evitar competição.
                          Assim são os axiomas, sabedoria comprovada em breves conceitos. Talvez seja um excelente exercício minimizar problemas humanos, para compreendê-los. Em pequenas doses homeopáticas ficará mais fácil tomá-las religiosa e diariamente. Não seria esse um dos caminhos para alcançar a almejada sabedoria?

2 comentários:

  1. Ely, você sempre tão sábia, tão profunda, tão humana! Lindo o texto. Que bom poder estar junto a você de alguma forma, ler seus textos é percorrer um caminho de flores.

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    1. Querida Cleuza,
      A vida é bela! Assim, não mais que de repente, como disse o Poetinha, salta uma garota linda, lá do passado. Hoje, mulher feita, ainda poética, um poema. Será um prazer que me visite o Blog e deixe lá seus comentários.
      Beijos.
      Ely

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