VERDADES & SUPERSTIÇÕES
Agosto vem do latim Augustus, oitavo mês do calendário gregoriano. Decreto em honra do imperador César Augusto. Ele não quis ficar atrás de Júlio César, em honra de quem foi batizado o mês de julho e estabeleceu que “seu” mês também tivesse trinta e um dias.
Por que razão agosto é um mês aziago?
Há outros motivos que acirram a ideia de mau agouro. Desde o século XVI fatos históricos nefastos, desastres aconteceram em agosto. E mais: o primeiro homem foi eletrocutado na cadeira elétrica, nos Estados Unidos, dia 06/08/1890. Começo da primeira Grande Guerra Mundial: 01/08/14.Dia 02/8/32 Hitler começou a governar a Alemanha. Agosto de 39: começa a segunda Grande Guerra Mundial. Hiroshima e Nagasaki foram destruídas pela bomba atômica, em um dos mais cruéis episódios da História, nos dias de 6 a 09 de agosto de 1945. Em 13 de agosto de 1961 foi iniciada a construção do Muro de Berlim, o Muro da Vergonha. Tragédia brasileira: morte de Juscelino Kubitscheck, em um controverso desastre automobilístico, dia 09 de agosto de 1976. Anteriormente, outro episódio fatídico abalou o Brasil, no dia 24 de agosto de 1954: o insólito suicídio de Getúlio Vargas. A data ficou marcada pela importância do mais famoso político brasileiro. Ele deixou uma Carta-testamento, que foi lida em seu enterro, por João Goulart. O documento é endereçado ao povo e se inicia tragicamente: “Deixo à sanha dos meus inimigos o legado de minha morte”.
Produto de verdades e superstições, agosto é um mês negativo. Derivado do latim, o termo significa uma crença contrária à fé religiosa e à razão. Tentou-se encontrar uma explicação nos domínios da razão, todavia o termo, principalmente hoje, tem sido utilizado, às vezes, como o resultado de processos derivados mais do preconceito.
Na realidade, as superstições ficam arraigadas no nosso íntimo, mesmo que a razão as tache de tolices. O famoso dito do grande Miguel de Cervantes Saavedra é notável: “Eu não creio em bruxas, mas que elas existem, existem”. Assim, como explicar manias populares, temores. Passar debaixo de escada dá azar, deixar bolsa no chão faz ficar pobre, vassoura atrás da porta livra de visitas indesejáveis, trevo de quatro folhas dá sorte, o número treze atrai malefícios, colocar Santo Antônio de cabeça para baixo é bom para arrumar casamento, deixar roupas do avesso é ruim, chupar sementes de romã, ou tomar sopa de lentilha, na passagem do ano, traz riqueza. Enfim, são centenas de superstições que driblam a razão e a inteligência.
Todavia, quando falo em agosto, gosto de relembrar um trecho de famosa crônica de Rubem Braga. No texto, o narrador, após tentar, sem sucesso, usar a linguagem denotativa, confessa o que ele gostaria realmente de escrever: O luar de agosto semeava crisântemos brancos e bicicletas verdes no abril azul dos sonhos dourados de mariposa castanha.
Chamar o luar de agosto de crisântemos brancos, utilizar metaforicamente a imagem de bicicletas verdes e o mês de abril, como símbolos de felicidade e aludir aos sonhos doirados da amada, sua mariposa castanha, tudo é puro lirismo. Isto é poesia. O mês de agosto está salvo, abençoado contra todas as possíveis superstições que o envolvem.
Coincidência ou não o mês de agosto marcou a vida de muitas pessoas.
ResponderExcluirSe alguns acontecimentos deixaram vestígios não positivos, para outras pessoas o mês tem e teve seu percurso normal.
Depende da interpretação individual de cada um. Há olhos que enxergam o belo, e outros o feio.
Será que a isto podemos dizer que são somente coincidências?
O mundo mudou muito. Antigamente herdávamos de nossas avós e mães , em alguns aspectos, o medo. Ele campeava nossa rotina. Quando criança, minha avó não deixava jogar o lixo pra fora da casa à noite. Guardava-o até o dia seguinte. Este e outros rondaram minha infância.
Aos poucos fui me libertando destas crendices. Assim eu as denomino.
Diria que são também números matemáticos. Vários incidentes num mesmo mês promoveram o chamado mês agourento. Estatísticas não podem definir aquilo que o homem pensa, armazena ou descarta.
O mês de setembro também foi marcado com vários desastres:
Terremoto de 6,4 na Escala Richter atinge a cidade Santiago del Estero na Argentina.
Na Índia, um atendado a bomba no prédio da Suprema Corte de Nova Délhi deixa 11 mortos e 76 feridos.
Balsa com 500 passageiros afunda perto da ilha de zanzibar na Tanzânia e deixa 163 mortos.
No Nepal, avião cai matando todos os 19 passageiros.
Na Líbia, são encontrados os restos mortais de 1.270 detentos que foram mortos por tropas de Muammar al-Gaddafi em junho de 1996. O evento ficou conhecido como Massacre da Prisão de Abu Salim.
Os ataques terroristas de 11 de setembro de 2001, chamados também de atentados de 11 de setembro de 2001, foram uma série de ataques suicidas coordenados pela Al-Qaeda aos Estados Unidos em 11 de setembro de 2001. O total de mortos nos ataques foi de 2.996 pessoas, incluindo os 19 sequestradores.
Abraços de Aparecida
Minha querida,
ExcluirQue mulher bem informada! Você tem razão e não sei bem por que realmente se considera agosto um mês aziago e setembro, ao contrário, poético, lírico e eufórico ( no sentido semiótico).
Beijos.
Ely
Querida Ely,
ResponderExcluirRespeito os fatos tristes que aconteceram em agosto, mas sempre vi este mês de forma positiva, pois foi nele que aconteceram também fatos felizes e nasceram pessoas muito caras para mim.
Lembrei-me do poema abaixo, de Millor Fernandes.
Um agosto de muita paz, luz e amor a você e a todos!!!
Beijos,
Márcio.
"Poemeu - A superstição é imortal"
Quando eu era bem menino
Tinha fadas no jardim
No porão um monstro albino
E uma bruxa bem ruim.
Cada lâmpada tinha um gênio
Que virava ano em milênio
E, coisa bem mais perversa,
Sapo em rei e vice-versa.
Tinha Ciclope,Centauro,
Autósito, Hidra e megera,
Fênix, Grifo, Minotauro,
Magia, pasmo e quimera.
Mas aí surgiram no horizonte
Além de Custer e seus confederados
A tecnologia mastodonte
Com tecnologistas bem safados
Esses homens da ciência me provaram
Que duendes, bruxas e omacéfalos
Eram produtos imbecis de meu encéfalo.
Nunca existiram e nunca existirão:
uma decepção!
Mas continuo inocente, acho.
Ou burro, bobo, ou borracho.
Pois toda noite eu vejo todo dia
Tudo que é estranho, raro, ou anomalia:
Padres sibilas
Hidras estruturalistas
Ministros gorilas
Avis raras feministas
Políticos de duas cabeças
Unicórnios marxistas
Antropólogas travessas
Mactocerontes psicanalistas
Cisnes pretos arquitetos
Economistas sereias
Democratas por decreto
E beldades feias
Que invadem a minha caverna
E me matam de aflição
Saindo da lanterna
Da televisão.
(Millor Fernandes)
Meu querido,
ResponderExcluirObrigada pelos votos e pelo poema. Millor Fernandes é muito inteligente e criativo. Sempre me atraiu sua versatibilidade.
Beijos.
Ely
Ely,
ResponderExcluirRubem Fonseca escreveu Agosto, onde narra a morte de Vargas.Ele fez sucesso nos anos 80, com Buffo e Spalanzani, Lucia McCartney e outros. Li vários. Este estilo policial brasileiro produziu outros filhotes,como Garcia-Rojas e outros. Viraram filmes e minisseries na Globo. Não resistem a uma releitura 30 anos depois.
No dia 29 de agosto, às 13:20h nasceu a minha primeira filha, há 23 anos.
Para mim será sempre um mes sempre muito especial.
Beijos,
Jacy
Querida Jacy,
ResponderExcluirFico muito feliz que pessoas inteligentes comprovem que a assertiva de agosto ser um mês aziago é falsa. Há uma passagem bíblica da qual gosto muito: perguntaram ao Cristo o que era a verdade. Ele começou a riscar o chão e não respondeu. Foi a grande lição da complexidade dos conceitos humanos. Não existe verdade, mas verdades.
Como você pode ter uma filha de 23 anos?! Casou-se com cinco ou dez anos?!
Aprecio o Rubem Fonseca contista. O gênero policial não me agrada.
Volte sempre a visitar meu Blog. É um prazer inusitado.
Beijos.
Ely
Ely,
ExcluirEncantada: esta é a palavra que me vem a mente, ao retornar o contato com voce apos 38 anos. Vi uma foto sua no Google: é assim mesmo que me lembrava da grande professora de literatura no colegio Vilhena de Morais no inicio dos anos 70.
Tenho cinquenta e cinco anos.Meus bens mais preciosos são duas filhas, um marido, dois gatos e centenas de livros lidos e outros ainda por ler.
Beijos,
Jacy
Querida Jacy,
ResponderExcluirMenina sensível, esposa, mãe, que ama os animais e gosta de ler. Vale a pena ter uma ex-aluna assim! Lecionei durante 52 anos e faria tudo de novo. Ver um aluno evoluir, crescer, tornar-se um grande ser humano é algo magnífico, que torna a vida excelsa. Não há profissão mais bela.
Beijos.
Ely