RECADO
Tu
sabes que eu te respeito muito, querido Leitor. Um pedido teu é uma ordem. Enfatizo a tua importância e digo-te que nada teria sentido, quando escrevo, sem
ti. Tu és meu co-autor, meu comparsa. Hoje, no entanto, eu te falo como a um
irmão, meu sósia, xerox que somos de alma, de fraquezas e de grandezas misturadas,
fazedores de sonhos, perdedores de ilusões, mal informados na arte de viver, na
qual somos jogados como em uma louca partida, sem mesmo conhecer as regras do
jogo, a arbitragem, limites do campo, o tempo disponível e se há possibilidade
de prorrogação.
Tu
me pediste para publicar, de novo, os questionamentos abaixo, para tua
reflexão. Obedeço. Já pensei muito sobre tais perguntas. Tu te lembras? Eu
começo afirmando:
EU sou
TU, Tu me és, como diria Clarice Lispector. Se não acreditas, desarma-te,
esconde tuas garras e tuas tramas, tira todas tuas máscaras habituais e
responde:
_ Nunca
te sentiste inseguro, vendo o mundo como um quebra-cabeça sem matriz e de onde
roubaram algumas peças?
_ Não foste, na adolescência, uma sarça
ardente de sonhos, um vulcão de entusiasmo, acreditando que o mundo ali estava
para ser conquistado?
_
Não te alimentaste do fervor e do fogo com o primeiro amor, para vê-lo logo
após te fugir das mãos, como areia em ampulheta maldita?
_ Não
fremiste com o primeiro beijo, o primeiro carinho, trilha encantada e depois
perdida para sempre?
_ Não foste um Sísifo rolando eterna pedra,
construindo castelos de sonhos que eram derrubados pelo tempo?
_ Nunca andaste sob as estrelas, pelas
madrugadas, cego pelas lágrimas que te escorriam pelo rosto?
_
Jamais foste traído pela pessoa querida, pelo ente amado, em quem punhas todas
as tuas esperanças?
_
A vida não te pregou peças, atrapalhando teus planos, frustrando tuas
expectativas, fazendo-te de bufão, quando o teu papel era de rei?
_
Tu não juraste jamais te apaixonares de novo, quando teu amor morreu, e te
viste, de repente, outra vez, inexoravelmente louco de paixão?
_
Não prometeste ser forte, heróico, perfeito e sem explicação alguma foste
arrastado pelas tuas fraquezas?
_
Não bateste no peito, mil vezes, “mea culpa”, “mea culpa” e de novo teus velhos
pecados te possuíram, com fatídica renitência?
_Não
disseste, apaixonadamente, “Eu te amo para sempre!” e, em um átimo, já havias
esquecido a promessa?
_
Teus lábios não disseram tantas vezes “sim”, quando teu coração negava, ou tua
boca não pareceu mentir o que deveras sentias?
_
Não tiveste, como o Cristo, o teu Gólgota?
_
Não sentes, ainda hoje, apesar de todo o Absurdo, uma obstinada Esperança?
_
Não continuas servo da Morte, todavia um amante pertinaz da Vida?
Se nunca experimentaste isto, se jamais
conheceste esta rota, se achas que digo loucuras, se és diferente, então vai
embora, teu lugar não é aqui. Não és um ser humano.
Querida professora Ely. Belíssimo texto. Vejo que sou humano, bem humano.
ResponderExcluirAbraços Pedro Luiz Facincani