terça-feira, 6 de março de 2012

HEROINAS DO SÉCULO XXI


HEROINAS DO SÉCULO XXI

Não vou falar de artistas, escritoras, cientistas, de grandes empresárias que têm surpreendido o mundo com seu sucesso administrativo ou financeiro. Os valores são outros. Minhas heroínas, conheço-as no dia-a-dia, na luta insana e renitente de vencer, sozinhas, de cumprir a missão que lhes foi confiada, tendo como armas apenas suas garras de leoa e uma vontade inquebrantável .
Não vou enfatizar direitos feministas, muitas vezes exageradas asserções teóricas, nem sempre alicerçadas na realidade. Quero dizer algo sobre algumas mulheres que, quase anonimamente, dão lições de bravura, de valentia, de seres superiores e corajosos que aceitaram desafios propostos, não de antemão, mas que chegaram como alçapões, provas de fogo inesperadas.
O primeiro exemplo que me vem é Teresa. Na década de 50, era uma mulata viçosa, de formas arredondadas, bonita. Apaixonou-se e apareceu grávida. Todos compreenderam seu “erro”, a “queda”, e ajudaram-na  quando nasceu o filho. O pai, covarde, eximiu-se de toda responsabilidade. E ela trabalhou, começou a criar o menino. Veio o segundo, de outro pai, depois mais outro. Perguntei-lhe por que agia assim e ela, com simplicidade: Quero uma menina. E, finalmente, ela veio. Cinco filhos, todos avulsos, de paternidades diversas. Teresa “aposentou-se”,  partiu para a luta brava de criar a prole. Hoje são adultos, um fez faculdade,  outro estudou no exterior. Com muita valentia, amor, Teresa é exemplo de luta, de persistência, guerra. A prova é sua velhice precoce. Perdeu os dentes, tem as perna mapeadas de varizes.
Há dias, eu conversava com “Baiana”, a feirante simpática, alegre, morena que ainda traz traços de beleza. Seu relato é outro atestado de audácia, de  heroísmo. Viúva há vinte  e cinco anos, criou os nove filhos com seu trabalho diário, na colorida tenda de legumes e frutas. Lá estão todos, alegres, dinâmicos, em um relacionamento amigo, sem a complexidade de duas gerações, nem traumas modernos. Nenhum precisou de psicólogo, ninguém fez terapia, têm até casa própria, grande e espaçosa como eles.
Jandira, de olhos de céu, miúda e operosa, supervisiona todo o movimento da sua empresa. Atende pessoas, lá está todos os dias, não fica doente por falta de oportunidade. Às vezes é enérgica, dura, outras,  doce e amiga. Quem quiser pode vê-la nessa faina abnegada, ininterrupta, há longos anos, de manhã à noite.
Regina e Marister são símbolos da época. Mulheres livres, divorciadas, arrostando dificuldades, vencendo percalços variados, preconceitos ignorantes. Criaram os filhos com tanta luta, que, muitas vezes o corpo vacilou, a depressão chegou mansa, deslizando na grama do cotidiano. Mas venceram, conquistaram de vez sua alforria. Os ex-maridos não existem, não cumpriram o acordo conjugal, são antônimos de nobreza e responsabilidade.
O povo diz que atrás de um grande homem há sempre uma grande mulher. Pode-se parafrasear o aforismo às avessas. Em quase todas as histórias, onde há uma heroína lutando brava e solitariamente, há sempre um anti-herói ou um crápula que fugiu de sua missão, exilou-se de seu dever. Isso está se tornando comum. Será que a liberação da mulher, que, a duras penas tem conquistado seu espaço na sociedade moderna, trouxe como sequela a carga dupla da responsabilidade, da luta árdua e infrene? Liberdade não se coaduna com equilíbrio, companheirismo, parceria, ajuda mútua, respeito, lealdade?
A finalidade desse artigo não é criticar o homem, o pseudo sexo forte, que ultimamente anda com calcanhares-de-Aquiles em demasia... Pelo contrário, é cantar todas as mulheres valentes, verdadeiras heroínas do século XXI, exemplos de tenacidade, de renitência, de espírito superior, como se assinaladas fossem pelos deuses.

6 comentários:

  1. Ely, permita-me colocar uma de exemplo no rol das mulheres por você elencadas. Minha mãe! Mulher notável, guerreira, rezadeira, teve nove filhos.
    De manhã cuidava de sua prole. Fazia os serviços da casa, deixava o almoço pronto, acompanhava meu pai até o portão e à tarde tinha uma outra tarefa: ajudava sua mãe a passar ternos dos hóspedes de Hotel . Naquela época usava-se ferro à brasa e os ternos eram de linho. Voltava para casa sempre por volta das 21.00 horas.
    Sua máquina de costura “Singer” era sua companheira na confecção dos vestidos e calças masculinas.
    Não precisou fazer nenhum curso de Administração. Os parcos recursos financeiros da família tornaram-na como a maior especialista em economia do lar.
    Por que rezadeira? O cansaço no final do dia era tanto, que todos os dias ela pegava no sono sem ter terminado o Pai Nosso.

    Abraços de Aparecida

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  2. Cidíssima querida,
    Lindo seu depoimento sobre sua mãe. Ah, nossas mães! Tesouros preciosos que guardam valores únicos. Quando elas partirem, lá no alto deve haver um lugar especial para elas. Com certeza, São Pedro vai dizer: "Entra, Mãe não precisa pedir licença!" .
    Beijos.
    Ely

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  3. Ely
    O artigo realmente retrata uma realidade crua que as mulheres vivenciam. Infelizmente aquela companheira, formada de sua costela pelo Criador fora literalmente desrespeitada. Com zelo fora recomendado seu cuidado, mas a uma palavra - a mulher me deu de comer do fruto. Cai a mulher e prato cheio para os homens - o pecado veio da maçã e desrespeito da mulher. Mas e o homem? Não se esquecera da recomendação? Poderia tê-la poupado. Poderíamos hoje gozar o paraíso com todas as suas benesses. Poderíamos ser companheiras e termos companheiros. Somos mulheres valentes, guerreiras. Somos mulheres sunamitas, como escrevi em meu blog: http://momentodeler.blogspot.com/2010/02/mulheres-sunamitas.html Um abraço. Texto real. Sem polemizar, vamos resgatar as mulheres valentes e heroínas. E quantas somos!

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  4. Cara Inajá Martins de Almeida,
    Honrada com sua visita no meu Blog. Você é inteligente, culta e sensível. Visitei seu Blog e li seu poema. Muito belo. Seus versos são de um lirismo forte, as alusões bíblicas pertinentes e sugestivas. Volte sempre!
    Um abraço.
    Ely

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  5. Ely, li seu artigo e fiquei com travo amargo na garganta porque conheço dezenas, talvez centenas de mulheres com este perfil. E tenho um referência em minha vida - minha mãe. Também guerreira, e das fortes, das imbatíveis, exemplo de tutano, mas também de bondade e delicadeza, temperadas pela sabedoria. Seu nome era Rita, colocado pelos meus avós por conta de Santa Rita, de quem eram devotos. Mas também é verdade que meu pai não era menos bom, não menos dotado da mesma delicadeza, da mesma sabedoria. Cada um, guerreiro a seu modo, mas guerreiros! E, feito ele, há dezenas, centenas de homens que também conheço, que respeitam suas esposas e filhos, e lutam arduamente para, junto com suas esposas, manterem o equilíbrio da família, sob todos os pontos de vista, seja à frente de uma empresa ou cargo público de destaque, seja ao cabo da picareta ou da vassoura de gari, seja como grande capitalista ou catador de papel. Guerrear para carregar com dignidade o próprio fardo prescinde a condição de ser mulher ou homem.
    A figura inteligente da preteriçao em seu texto, ao afirmar que não há crítica aos homens - e acredito que a intençao seja essa mesmo - não elide o registro de colocar o homem um degrau, talvez meio que seja, abaixo das mulheres. E no mundo há também homens que fizeram magnificamente a figura de 'pãe' por não ter tido a compreensão da companheira que, da mesma forma, não assumiu seu papel como deveria, deixando-lhes o mesmo fardo - trabalhar dentro e fora de casa para dar conta da educação e do sustento da prole.
    Dia haverá em que discussão ou posições sobre diferenças, seja de inferioridade ou superioridade, entre homens e mulheres, resultarão inúteis, como já acontece em grande quantidade de lares por este mundo afora. Um mundo de igualdade e justiça entre as pessoas não prescindirá jamais da figura de ambos.
    Os/as crápulas e os heróis/ as heroínas sempre existirão sem que o gênero masculino ou femininno seja um dado relevante.
    Sem usar da preterição, mas, sim, do truísmo, há homens e homens, mulheres e mulheres. Os seres humanos, por si sós, se nivelam para o bem e para o mal.
    Você, minha amiga e irmã, guerreira como as teresas, baianas, reginas e maristeres, sabe muito bem que a classificação em níveis de superioridade e inferioridade entre homens e mulheres não conribuirá para o mundo justo que todos nós, lutadores contra moinhos de vento, almejamos.

    Aceite o meu beijo fraterno.

    Waldomiro

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  6. Querido Waldomiro,
    Quando leio um texto seu, homem maduro, erudito, filosófico, lembro-me do jovem quase menino que foi meu aluno. Encanta-me seu crescimento literário. Conheço sua luta e a realização de muitos sonhos. Penso que deveríamos mais olhar para homens e mulheres assim: corajosos, dinâmicos, audazes, verdadeiros sísifos rolando sua pedra. Que Deus o abençoe!
    Ely

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