A LIÇÃO DOS IPÊS
As árvores sempre me encantaram. Elas têm algo de magia, de sagrado. Há muitos mitos sobre elas e vários poetas já as cantaram. Dão lições de vida, de generosidade. Elas, com sua rica variedade. Grandes, copadas, acolhedoras, altas, esguias, pequenas, tímidas, mas sempre símbolos de paz, de alegria e de esperança. Todas me fascinam, mas os Ipês têm uma magia especial, com suas tonalidades várias, em sua abundância florida. Nada , por exemplo, é tão belo e simbólico, como os ipês brancos, na sua efemeridade láctea. Parecem recados líricos de Deus. Uma das mais belas lições de vida me foi dada por um ipê. Jamais poderei esquecê-lo.
Ele nasceu como qualquer outro, frágil, medroso, indefeso. Escapou dos pisões desastrados, livrou-se da malvadeza de algum eventual destruidor de tudo que surge e tenta crescer, sobreviveu à seca, ao exagero dos fenômenos pluviais, às mãos cegas que parecem acicates, às formigas monstruosas, aos vermes, aos insetos, aos lagartos verdes e desajeitados, que passavam sobre ele, fugindo das crianças sempre ávidas de novidade.
Quando tinha alguns meses, um ser bondoso e ecológico rodeou-o de bastões, protegendo-o. O perigo não passou. Os filhotes dos homens, perigosos e buliçosos, retiraram seus escudos para brincar. Mas, uma força maior elevava-o para o alto numa ânsia de crescer. As folhas ficaram maiores, os galhos mais grossos, o tronco mais rijo. E aí, de repente, ele ficou com três metros de altura. Que idade terá? Firme, erecto, senhor de si, de um verde forte e ostensivo, esparramou galhos, engrinaldou-se de folhas abertas, mãos verdes acenando. No alto de sua copa, que já se alarga, conquistando seu espaço, folhinhas novas, verde-amarronzadas, macias e alegres, sorriem.
Diante de mim, ele se ergue como um vencedor. É alegre, gracioso, esbelto, mas forte e destemido. Ainda agora, algum monstrinho teima em pendurar ou encostar-se em seus galhos. Ele se verga, o acolhe, mas não se quebra. Dá-me lições de vida: como continuar sempre em ascensão, lutando contra o meio ambiente, vencendo barreiras físicas e metafísicas (seca e enchente seriam neuroses de Deus?), lindo, fresco, acolhedor, delgado, elegante, flexível (até diante dos dissabores), assumindo seu Ego verde, integralmente árvore.
Nós passamos pela vida cegos e surdos aos rumores de Deus, que nos ensina, envia mensagens através dos mais variados símbolos. À minha frente lá está ele, o jovem Ipê Roxo, no pátio da escola. Abana-me os dedos verdes, folhas que se postam com elegância de gestos nobres. Ao seu lado, nascido ao mesmo tempo, há outro ipezinho estropiado, que cresceu pouco, curvou o tronco muito fino para sua idade, com raros galhos, uma pobreza de folhas. A todo momento quase morre diante de qualquer perigo iminente. Por que vencedores e vencidos? Por que ascese e degeneração? O fenômeno é genético ou há uma força maior, uma energia que norteia os destinos? Orgulho-me do Grande Ipê, condoo-me do pequenino. Mais uma lição salta-me aos olhos: no mundo verde, como em qualquer outro, forte e fraco coexistem em paz, cada um nos seus limites, cada um usando suas defesas possíveis, cada um sendo ele próprio, sem ter que dar justificativas ao mundo. O respeito, a convivência democrática na vida, como na política e em todo o universo, é a única forma superior e decente de se viver e CONVIVER.
Fantástica lição Ely.
ResponderExcluirSem dúvida alguma nos recorda dos inúmeros contratempos e intempéries da vida, os quais são superados com determinação e perseverança.
Abraços!
Lincoln Vieitez
Querido Lincoln,
ResponderExcluirÉ um prazer enorme receber sua visita em meu blog. Jovem, inteligente, dinâmico, você é uma lição viva de esperança no futuro. Volte sempre!
Beijos.
Ely