ADEUS À JAIR IANNI
É
muito conhecida a filosofia do Mago de Cordisburgo: Os poetas não
morrem, ficam encantados. É o que aconteceu dia 12 de abril, quando nossa Jair
nos deixou. Assim, sem alardes, docemente, como as almas puras partem. Deve ter
havido uma festa no céu e, com certeza, Djalma Cano veio recebê-la, fazendo as
honras celestiais.
Atrás do nome pomposo, Jair Ianni de
Paula Eduardo, o corpo de menina e a alma de adolescente, Jair amava os
mistérios. Ela mesma confessa, na sua minibiografia em Ave, Palavra! ,
Antologia poética publicada em 2009: Octogenária, poeta por vocação e teimosia,
filha de imigrantes latinos, herdou da mãe a determinação espanhola e todo o
lirismo italiano do pai: “Sou a leoa que chega sem fazer ruído / Sei de mim;
ninguém mais! (...) Chorei rios e mares
ninguém viu, / organizo em meus disfarces”...
Seus poemas traduzem a riqueza e
complexidade da brava mulher, camuflada naquele jeitinho de menina. Culta, lúcida,
metafísica. Dia 9 de novembro de 2008, publiquei um texto com o título “Canto a
Três Vozes: O Encontro”. Jair, Aider Cruz de Oliveira e Maria Helena Ribeiro
Facci Ruiz reuniram-se para cantar em poemas belíssimos, temas profundos. Eu
dizia: “Quando três mulheres inteligentes e sensíveis se reúnem para fazer
poemas é algo muito expressivo”. Elas buscavam as trilhas de Deus, a intimidade
com o Senhor, através de confissões
íntimas que exploram os mistérios abissais da alma. Agora Jair já os conhece.
Jair era desas raras pessoas que não se
entregam pela metade. Era intensa e autêntica em todas as suas facetas, de
mulher, de mãe, de avó, de artista e de poeta. Franca, aberta, forte, mas
gentil e doce. Dinâmica, participante. Relembrando sua participação no Salão de
Ideias, na Décima Primeira Feira do Livro, em 2011, sou tomada por grande
melancolia. Ela estava bem, saudável, alegre e encantou a todos pela franqueza
e ousadia de suas afirmações.
Penso na nossa insciência. Jamais
imaginar que em 2012 era hora de partir. Recebemos a notícia durante uma
reunião da Décima Segunda Feira do Livro e a tristeza pairou sobre todos. Em
casa, o telefone tocou muito, gente que a amava e não conseguia aceitar. Aider
e Helô, muito tristes, Mara Senna, com doce mensagem no Facebook, enfatizando
com carinho a poeta Jair, a ceramista, a artista, a mulher sábia que lhe deu
grandes lições de vida. Waldomiro Peixoto, saudando-a com o poema Requiem para
Jair Ianni, relembrando-a do nosso Grupo Flamboyant. Aos poucos nossos poetas
se vão. Tristonho, Waldomiro diz que ficamos “órfãos de ternura” e pede a ela
que funde no céu uma Alarp ou um Grupo Flamboyant de poetas iluminados. Cristiane
Framartino Bezerra, após o velório, presenteou-nos com um belo poema de
Jair, enviado recentemente, pela
própria Jair, ao sentir-se com saúde debilidada.
É certo que houve festa no céu. À
frente, alegre colorido, Piolim também veio receber a amiga, que imortalizou
sua figura no livro “Piolim: A Trajetória Iluminada do Maior Palhaço Brasileiro”,
lançado no dia em que Piolim completaria cento e dez anos de idade, vinte e
sete de março, data declarada como Dia do Circo.
Adeus, doce Jair, mulher querida,
criatura especial, receita de Deus que deu certo.
Homenagem mais que merecida para nossa "pequena notável". Beijos
ResponderExcluirEly
ResponderExcluirBelíssimo texto. Realmente a leitura dos poemas de Jair, faz parte daqueles encontros felizes e necessários, os quais se revestem em reflexões eternas.
Quando na Secretaria da Cultura, tive o grato prazer de receber o livro Ecos no outono, o qual me faz companhia constante.Leitura sempre atual.
Em meu blog http://retalhosdeleituras.blogspot.com.br/, teço breve e humilde comentário.
Encontro motivo maior, quando remeto a este texto, não retendo apenas para mim estas magistrais palavras.
Sempre grata pelo replantio de outono.
Escrever é cultivar a quietude do espírito como potência de transformação.
ResponderExcluirVestir-se, em primeiro lugar, de bom humor, de um sorriso agradável, de uma esperança renovada. À partir daí, as palavras vão chegando, e como num sopro viril, vão convertendo-se em fertilidade poética.
Ely, esta é a verdadeira maneira de homenagear um poeta! Reavivar sempre sua memória!
Abraços de Aparecida
Minhas queridas!
ResponderExcluirAh, estas mulheres inteligentes que visitam meu blog! É um enorme prazer! Mara é poetisa famosa, Inajá, brilhante, conheci há pouco,só pelos seus comentários no Replantio de Outono. Cidíssima, esta conheço há muito e está sempre lendo meus textos e deixando aqui, trechos muito belos. Enfatizando, gostaria de convidar as três, para os Salões de ideias, na Décima Segunda Feira do Livro de Ribeirão Preto. Poderão conhecer e conversar ao vivo com duas maiores poetisas brasileiras, Maria Carpi (dia 29/5) e Raquel Naveira (31/5), às 10h30, no Pálace. Eu as espero lá.
Abraços.
Ely
Ely,
ResponderExcluirPenso que é tanto a dizer da Jair, que talvez seja melhor calar, porque ela cala, de verdade, no coração de todos nós.
Amiga notável, ser humano ímpar, alma feita de ternura, ouso fazer-lhe uma homenagem, valendo-me de um poema de Cecília Meireles, seu retrato fiel:
"MOTIVO: Eu canto porque o instante existe / e a minha vida está completa. / Não sou alegre nem sou triste. / Sou poeta.
Irmão das coisas fugidias, / não sinto gozo nem tormento. / Atravesso noites e dias / no vento.
Se desmorono ou se edifico, se permaneço ou me desfaço, / - não sei, não sei. Não sei se fico / ou passo.
Sei que canto. E a canção é tudo. / Tem sangue eterno a asa ritmada. / E um dia sei que estarei mudo: / mais nada."
Demiurgos, os poetas pressentem a verdade das almas.
Mas não é isso? O poema de Cecília é a Jair mesma!
Beijos fraternos do
Waldomiro
Aos Amantes da Jair - todos nós, seus amigos - eis uma pérola sua, publicada na Antologia "Brasil / Cuba - Poesia Brasileña para el Nuevo Milenio":
ResponderExcluirTIEMPO
El tiempo igual coexiste
y se sucede en todas partes
La luz atraviesa la madrugada
La noche ocupa su espacio consentido
Días
Meses
Años
Siglos
Eras...
Amanece...
Anochece...
Amanece...
Anochece...
El mundo no envejece
Los hombres mueren.
Querido WaldÔ,
ResponderExcluirSeus dois comentários enriqueceram mais a memória de Jair. Com todos com quem encontro, só ouço elogios, saudades, palavras lindas sobre nossa Jair. Sua ausência é um terreno fértil repleto de preciosa semeadura: todos lançam ali uma semente de palavras carinhosas para nossa companheirinha que partiu. Sua morte é um paradoxo: tristeza para os que ficaram, alegria para quem a recebeu na morada celestial.
Abraços.
Ely