TAPETE DE SILÊNCIO
Menalton
Braff é, sem sombra de dúvida, um dos mais importantes romancistas brasileiros
atuais. Conseguiu concretizar o sonho de todo escritor: dedicar-se
integralmente à Literatura. Assim se
explica, além do talento inquestionável e a criatividade fértil, seu sucesso
como escritor. Tapete de Silêncio
(Global Editora, SP, 2011) é seu décimo oitavo livro publicado. Em 2000,
conquistou o Prêmio Jabuti__Livro do ano, com a coletânea de contos À sombra do
cipreste. Várias vezes Menalton foi finalista dos mais importantes prêmios da
literatura brasileira.
A narrativa
se passa no povoado Pouso do Sossego. O nome do lugar já é uma metáfora, pois
nesse microcosmo vivem as personagens principais
e as secundárias, no seu mundo repleto de medos, cismas, dúvidas. A trama se
inicia com dez homens reunidos no coreto da praça da Matriz. Por que a reunião?
O que pretendem fazer? Liderados por Osório, esses respeitáveis senhores de bem
têm um dever a cumprir: manter a ordem e a honra do lugar onde vivem. Bizarros
executores de sentença lavrada por um pretenso juiz. Os acontecimentos da noite
trágica são narrados em capítulos e Coros: os primeiros narram fatos atuais, contados
por Osório, em primeira pessoa; os segundos, com foco narrativo em terceira
pessoa, elucidam episódios do passado.
Ao longo do
romance, presente e passado se misturam,
em um jogo de sombra e luz. As ações do presente se passam à noite, sob a chuva
e o frio; sombras e vultos, ódios e rancores, tudo compõe o quadro sinistro. A chegada à
cidade de ruidosa e alegre companhia circense é o vetor que desencadeará os
fatos macabros. O autor desnuda, com
maestria, os subterrâneos do poder, alicerçado na hipocrisia, na intolerância,
nos falsos valores. Poder-se-ia afirmar
que Pouso do Sossego é a peça nuclear do romance. Como é denunciado na orelha
do livro, a pequena cidade se arvora a
defensora da tradição, moeda de honra do
lugar, que deve ser mantida com a paz dos cemitérios.
Manalton Braff sempre se realçou, em toda sua obra, como um estilista, exímio conhecedor da
língua portuguesa, autor que se preocupa não só com o conteúdo, mas também com
a forma. Em Tapete de Silêncio, os capítulos são narrados pela personagem
principal, Osório. Por isso, provavelmente, há uma espécie de licença
gramatical, com uso repetido da
próclise, no início da frase e o emprego de corruptelas, como “pra” e algumas
expressões coloquiais, talvez para
enfatizar a oralidade na narrativa.
Inteligente
e sobriamente, tiradas filosóficas sobre os seres humanos, a vida e a morte,
são inseridas no relato. Sobressai a atmosfera de mistério que antecede o
crime, assim como a intrigante personagem da velha desconhecida, que arrasta
seu anonimato e sua miséria, “distribuindo sua tosse por onde andava” e é
encontrada morta na escada do coreto. Este mistério não é desvendado, o final
do livro é aberto e também o crime hediondo, com a morte do sedutor, o
assassinato em defesa da honra fica impune. É Osório que afirma: “A cidade toda, se
pudesse saber o que se passou, apoiaria o que fizemos. Pelo menos as pessoas de
bem desta cidade. Um crime , mesmo um crime de sedução, não pode ficar sem
castigo. E severo para que sirva de escarmento”.
O romance
Tapete de Silêncio é uma obra densa, que envolve o leitor em um mergulho nas
regiões abissais da alma humana.
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