terça-feira, 10 de julho de 2012


TAPETE DE SILÊNCIO
                                      
        Menalton Braff é, sem sombra de dúvida, um dos mais importantes romancistas brasileiros atuais. Conseguiu concretizar o sonho de todo escritor: dedicar-se integralmente à Literatura.  Assim se explica, além do talento inquestionável e a criatividade fértil, seu sucesso como escritor.  Tapete de Silêncio (Global Editora, SP, 2011) é seu décimo oitavo livro publicado. Em 2000, conquistou o Prêmio Jabuti__Livro do ano, com a coletânea de contos À sombra do cipreste. Várias vezes Menalton foi finalista dos mais importantes prêmios da literatura brasileira.
        A narrativa se passa no povoado Pouso do Sossego. O nome do lugar já é uma metáfora, pois nesse microcosmo vivem as personagens  principais e as secundárias, no seu mundo repleto de medos, cismas, dúvidas. A trama se inicia com dez homens reunidos no coreto da praça da Matriz. Por que a reunião? O que pretendem fazer? Liderados por Osório, esses respeitáveis senhores de bem têm um dever a cumprir: manter a ordem e a honra do lugar onde vivem. Bizarros executores de sentença lavrada por um pretenso juiz. Os acontecimentos da noite trágica são narrados em capítulos e Coros: os primeiros narram fatos atuais, contados por Osório, em primeira pessoa; os segundos, com foco narrativo em terceira pessoa, elucidam episódios do passado.
       Ao longo do romance,  presente e passado se misturam, em um jogo de sombra e luz. As ações do presente se passam à noite, sob a chuva e o frio; sombras e vultos, ódios e rancores,  tudo compõe o quadro sinistro. A chegada à cidade de ruidosa e alegre companhia circense é o vetor que desencadeará os fatos macabros.  O autor desnuda, com maestria, os subterrâneos do poder, alicerçado na hipocrisia, na intolerância, nos falsos valores.  Poder-se-ia afirmar que Pouso do Sossego é a peça nuclear do romance. Como é denunciado na orelha do livro,  a pequena cidade se arvora a defensora da tradição,  moeda de honra do lugar, que deve ser mantida com a paz dos cemitérios.
       Manalton Braff  sempre se realçou, em toda sua obra,  como um estilista, exímio conhecedor da língua portuguesa, autor que se preocupa não só com o conteúdo, mas também com a forma. Em Tapete de Silêncio, os capítulos são narrados pela personagem principal, Osório. Por isso, provavelmente, há uma espécie de licença gramatical, com  uso repetido da próclise, no início da frase e o emprego de corruptelas, como “pra” e algumas expressões coloquiais,  talvez para enfatizar a oralidade na narrativa.
       Inteligente e sobriamente, tiradas filosóficas sobre os seres humanos, a vida e a morte, são inseridas no relato. Sobressai a atmosfera de mistério que antecede o crime, assim como a intrigante personagem da velha desconhecida, que arrasta seu anonimato e sua miséria, “distribuindo sua tosse por onde andava” e é encontrada morta na escada do coreto. Este mistério não é desvendado, o final do livro é aberto e também o crime hediondo, com a morte do sedutor, o assassinato em defesa da honra fica impune.  É Osório que afirma: “A cidade toda, se pudesse saber o que se passou, apoiaria o que fizemos. Pelo menos as pessoas de bem desta cidade. Um crime , mesmo um crime de sedução, não pode ficar sem castigo. E severo para que sirva de escarmento”.
      O romance Tapete de Silêncio é uma obra densa, que envolve o leitor em um mergulho nas regiões abissais da alma humana.

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