OS LEITORES E SEUS MISTÉRIOS
Na Mitologia Grega, Cronos é o líder e o mais jovem da primeira geração
dos Titãs; descendente de Gaia, a Terra e Urano, o céu, tem uma das mais
incríveis histórias. Não é casual que seja o deus do Tempo. Na sua biografia
conturbada, por ambição ao poder, ele trai e castra o pai e engole seus filhos.
O que faz o Tempo com os seres humanos? Devora nossa força, a beleza, a pele
fresca, o brilho dos olhos, a capacidade de sonhar. Raras são as pessoas
maduras que conseguem preservar algo da mocidade, principalmente o otimismo. Muitos são tomados pela obsessão do
saudosismo, vivendo do passado.
Já critiquei certos escritores
da velha geração, porque em seus artigos recentes, seus temas falam, quase
sempre, de sua adolescência e de sua mocidade. Felizes aqueles poucos que
conseguem viver o presente com alegria, amar a vida do aqui e agora. Eu tento,
todavia, de vez em quando, caio em algum inesperado alçapão. Há poucos dias, pesquisando dados para um
artigo sobre a Cultura de Ribeirão Preto, busquei um texto no qual eu
mencionara duas figuras de grande importância cultural na Cidade: Vicente
Teodoro de Souza e Mário Moreira Chaves. Recorrendo
aos Cadernos mimeografados da época ( tempo antes do Computador), levei um
susto. Examinando os Documentos, localizei o
mencionado artigo de l988; levada pela curiosidade, abri dois Cadernos
de dois anos antes e encontrei uma chamada do Jornal A Cidade, do dia 10 de
maio de 1986, falando do início de minha Coluna Literatura Hoje e Sempre, que
versaria sobre assuntos literários em
geral e comentários de livros.
Deu certo, a Coluna atraiu muitos leitores e
assim foi até o final de junho. Dia 29
do citado mês, resolvi ousar e fazer uma experiência. Publiquei um poema de
minha autoria: Oração aos Solitários. Foi um sucesso, recebi vários telefonemas
pedindo que publicasse outros textos pessoais,
em prosa e verso. Era uma libertação. Naquele
espaço, desde então, eu poderia escrever sobre temas variados, não só críticas
literárias. Saíram, na época, a Carta Aberta às Mulheres e
a Carta Aberta aos Homens. Daquele dia em diante, fiquei em casa, muito à vontade,
publicando temas vários, críticas de livros, comentários dos assuntos mais
diversos.
Hoje, escrevendo no Caderno C,
desde seu início, mais do que nunca, então, impressionam-me os Leitores e seu
mistério. Quem escreve, crônica, conto, artigo ou livro, jamais sabe como será
recebido. E mais; às vezes, um texto que o autor aprecia, nem sempre cai no
agrado dos leitores. Também acontece o contrário.
Com os livros é idêntico. Meu
pobre romance epistolar Cartas a Cassandra, por ser meio inusitado e um dos
primeiros do gênero, no Brasil, ganhou Prêmio, foi elogiado por Críticos
exigentes. Quando ia publicá-lo, não tinha ainda amizade com o grande escritor
José Castello. Ousei então mandar-lhe os originais, perguntando-lhe se ele
faria o Prefácio do livro. Ele disse que
ia lê-lo e se gostasse, faria o Prólogo. Gostou e muito. Prefaciou a obra. Pois meu pobre livro já foi repudiado por
leitores pudicos, tachando-o de imoral e
até pornográfico... Em compensação, grandes escritores como Pedro Bandeira e
outros elogiaram-no com entusiasmo.
Assim, escrever é um perigo, é ter sempre a Espada de Dâmocles sobre a
cabeça.
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