AMOR & ÓDIO
Os
dois sentimentos são parentes. Eles se interdependem, têm até analogias. Ambos
são de Eros e não de Tânatos, ligados à vida, contrários à morte. Têm
características essenciais: o dinamismo, o fogo, o movimento. Sua ausência sabe
a morte, denuncia ociosidade, frio, estaticidade, tudo que é antônimo de vida.
Ora,
para se amar e/ou odiar (aditiva e alternativa sim, visto que os dois sentimentos
se inter-relacionam) há que se ter o ente amado que passa a ser odiado, ou
vice-versa. Muitas vezes, um alavanca o outro, um degenera no outro e,
rarissimamente, o segundo transubstancia-se, de maneira excelsa, no primeiro. É
quando se dá a vitória do bem, da virtude e da cordura.
Sempre foi grande preocupação do Existencialismo
comprovar em obras famosas, como “O Muro” (de Sartre), o “Estrangeiro” e o
“Mito de Sísifo”(de Camus) e em quase todas grandes obras de Clarice Lispector,
que os homens são estranhos ao seu mundo, não entendem o que os cerca, morrem
com a sensação de estranheza e vazio, sem respostas para as eternas perguntas.
Reféns do amor ou do ódio. Os dois sentimentos maiores alicerçam-se sempre em
um binômio: ama-se o outro, ou odeia-se a alguém. Talvez se possa elucidar a
grande problemática, dando uma rastreada pelos diversos Complexos, estudados na
Psiquiatria. Todos se baseiam nas duas
faces bifrontes, atração/rejeição, amor/ódio. No complexo de Caim é o amor e o
ódio fraterno que levam à morte; uma criatura caímica é a que tem inveja,
monstro verde que distorce, muda, envenena. Édipo, síndrome mais conhecida, é o
ódio pelo pai e o amor desordenado pela mãe; o mundo todo conhece a trágica
história do filho de Jocasta Em um dos chamados Complexos, o mais expressivo
para se estudar o binômio sedução/recusa é o de Empédocles. O filósofo grego de
Agrigento, com o amor e o ódio de sua atração mórbida pelo abismo, precipita-se
na cratera do Etna; o vulcão só devolve uma de suas sandálias.
O que se aprende com
essas breves reflexões? O ser humano luta, desde sempre, com seus mais diversos
ódios, cognominados de racismo, xenofobia, aversão, repulsa, antipatia,
incompreensão, incompatibilidade, desunião, desarmonia, não aceitação e
incomunicabilidade.
Desde
priscas eras, o homem é refém desses vícios nefastos. Guerras sangrentas,
genocídios, até em nome de Deus, nações diversas, de raças várias, sempre
alimentaram a trágica díade Amor x Ódio.
Não
há terapêutica, nem solução mágica para resolver a questão complexa. Ora,
sabe-se que, para grandes problemas, não existem soluções fáceis. Diante do
exposto, poder-se-iam aventar hipóteses a longo prazo, algumas talvez utópicas:
medidas sociais, psicopedagógicas e/ou artístico-filosóficas.
Corro
o risco, no entanto, de ser tachada de simplista. Que se lembrem de alguns exemplos expressivos,
da Sétima Arte, de artigos e livros
otimistas, que alertam e denunciam, outros do dia-a-dia, da vida, da Natureza, entre os animais, episódios bizarros que
enfatizam o antídoto contra tais males intrínsecos à raça humana.
Os
homens, todavia, fazem ouvidos moucos para essas mensagens sábias. Continuam na
sanha perversa para provar, talvez, sua pretensa racionalidade
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