NO OBLÍQUO
DA INTENSIDADE
Maria Lúcia Cardoso dos Santos é uma mulher estranha e complexa,
floresta cerrada que se desconhece. Seu currículo é rico e variado, repleto de
títulos, cursos, diplomas na área da Saúde e da Poesia. Tem livros de poesia infanto-juvenil, poemas líricos,
contos, além de artigos sobre Enfermagem.
Contudo,
o que impressiona é seu jeito de ser, ora calada e esquiva, ora enfrentando um
grande público, como declamadora, pois cursou o Conservatório Dramático e
Musical em São Paulo.
Dia
14 de março ela lançou o livro No Oblíquo da Intensidade (Editora Legis Summa,
Ribeirão Preto, 2013), com Prefácio de Oscar Luiz de Moura Lacerda, capa e
belas ilustrações de Norma Campaz. O
título demonstra características do conteúdo: obra erudita, metafísica, que
busca respostas universais aos questionamentos dos seres humanos.
Logo
na página 19 há um lindo poema que poderia ser dedicado a Clarice Lispector.
Ele é todo alicerçado na Filosofia do
Existencialismo, assim como no poema Pelas Veredas Perdidas (pág. 25) ; além do
terceiro verso ser o título do livro, o texto descreve o negativo amargo da
vida, da angústia e da solidão, do nada de uma existência vazia.
Há
outros poemas no livro, que espelham essa Filosofia, como Metamorfose Vegetal
(pág. 29), conceitos filosóficos que surgiram nos meados do século XIX, com o
pensador dinamarquês Kierkegaard, seguido por figuras ilustres como Heidegger e
Jean- Paul Sartre. Em essência, é uma visão dramática da existência do Homem,
que pode contar somente consigo próprio,
chegando-se até à visão niilista de Albert Camus.
A linguagem de Maria Lúcia é rica, ela usa metáforas fortes e
procedimentos gramaticais interessantes como a adjetivação do substantivo em
“não um homem túmulo”. Um belo exemplo é
o minipoema da página 55, síntese de grande beleza: “ Tenho raízes nas tuas carnes / como a árvore na terra/ e meu corpo
deslumbrado caminha / por dentro da tua realidade/ pisou na brasa do teu chão/ por caminhos sem fim”.
Há
alguns poemas herméticos, com a figura recorrente do elefante, talvez menção
subconsciente, ou apenas fálica. O erotismo da Poeta é ora delicado, ora muito
forte. Exemplo do segundo é a primeira estrofe do Poema Transpessoal, da página
99: “Sou a fêmea que afaga e cria / e lambe o dorso fremente/ do fruto viçoso e
quente/ germe que veio da terra / seiva e entranhas / transgênese.”
No
poema Mulheres (pág. 137), MLCS abandona
as buscas e
questionamentos, vasculhando seus porões e o subjetivismo alteia-se para o
social, para o universal: “Eu tenho dentro de mim / muitas mulheres/ Às vezes
sou todas elas,/ Atuante, conflitante / Em emoções e valores _ amando e
ensinando a amar!”.
Algo
que enriquece o belo livro No Oblíquo da Intensidade são citações de autores
famosos, que a Poeta coloca em epígrafe, nas subdivisões dos textos. Assim, ela
nos presenteia com belos pensamentos de José Meumann, Sólon Borges dos Reis,
Octávio Paz e esta joia de conceito poético, de Rosa Maria de Britto Cosenza: “
A poesia é o vento que sopra forte e semeia instabilidade no terreno dos
corações por onde passa.”
Sucesso
a esta nova obra da grande Poetisa e Acadêmica
Maria Lúcia Cardoso dos Santos!
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