domingo, 14 de abril de 2013

NO OBLÍQUO DA INTENSIDADE


NO OBLÍQUO DA INTENSIDADE

                 Maria Lúcia Cardoso dos Santos é uma mulher estranha e complexa, floresta cerrada que se desconhece. Seu currículo é rico e variado, repleto de títulos, cursos, diplomas na área da Saúde e da Poesia. Tem livros de  poesia infanto-juvenil, poemas líricos, contos, além de artigos sobre Enfermagem.
                 Contudo, o que impressiona é seu jeito de ser, ora calada e esquiva, ora enfrentando um grande público, como declamadora, pois cursou o Conservatório Dramático e Musical em São Paulo.
                 Dia 14 de março ela lançou o livro No Oblíquo da Intensidade (Editora Legis Summa, Ribeirão Preto, 2013), com Prefácio de Oscar Luiz de Moura Lacerda, capa e belas ilustrações de Norma Campaz.  O título demonstra características do conteúdo: obra erudita, metafísica, que busca respostas universais aos questionamentos dos seres humanos.
                 Logo na página 19 há um lindo poema que poderia ser dedicado a Clarice Lispector. Ele é todo alicerçado na Filosofia  do Existencialismo, assim como no poema Pelas Veredas Perdidas (pág. 25) ; além do terceiro verso ser o título do livro, o texto descreve o negativo amargo da vida, da angústia e da solidão, do nada de uma existência vazia.
                 Há outros poemas no livro, que espelham essa Filosofia, como Metamorfose Vegetal (pág. 29), conceitos filosóficos que surgiram nos meados do século XIX, com o pensador dinamarquês Kierkegaard, seguido por figuras ilustres como Heidegger e Jean- Paul Sartre. Em essência, é uma visão dramática da existência do Homem, que pode  contar somente consigo próprio, chegando-se até à visão niilista de Albert Camus.
                 A linguagem de Maria Lúcia é rica, ela usa metáforas fortes e procedimentos gramaticais interessantes como a adjetivação do substantivo em “não um homem túmulo”.  Um belo exemplo é o minipoema da página 55, síntese de grande beleza: “  Tenho raízes nas tuas carnes / como a árvore na terra/ e meu corpo deslumbrado caminha / por dentro da tua realidade/ pisou  na brasa do teu chão/ por caminhos sem fim”.
                   Há alguns poemas herméticos, com a figura recorrente do elefante, talvez menção subconsciente, ou apenas fálica. O erotismo da Poeta é ora delicado, ora muito forte. Exemplo do segundo é a primeira estrofe do Poema Transpessoal, da página 99: “Sou a fêmea que afaga e cria / e lambe o dorso fremente/ do fruto viçoso e quente/ germe que veio da terra / seiva e entranhas / transgênese.”
                   No poema Mulheres (pág. 137), MLCS abandona
 as buscas e questionamentos, vasculhando seus porões e o subjetivismo alteia-se para o social, para o universal: “Eu tenho dentro de mim / muitas mulheres/ Às vezes sou todas elas,/ Atuante, conflitante / Em emoções e valores _ amando e ensinando a amar!”.
                 Algo que enriquece o belo livro No Oblíquo da Intensidade são citações de autores famosos, que a Poeta coloca em epígrafe, nas subdivisões dos textos. Assim, ela nos presenteia com belos pensamentos de José Meumann, Sólon Borges dos Reis, Octávio Paz e esta joia de conceito poético, de Rosa Maria de Britto Cosenza: “ A poesia é o vento que sopra forte e semeia instabilidade no terreno dos corações por onde passa.”
                 Sucesso a esta nova obra da grande Poetisa e Acadêmica  Maria Lúcia Cardoso dos Santos!

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