ORAÇÃO AOS SOLITÁRIOS
Psiquiatras recebem um número exacerbado
de clientes doentes da alma, que sofrem, na realidade, de solidão. A síndrome, modernamente aparece
com novos sintomas e nomes: distúrbio bipolar, por exemplo, que é uma forma de transtorno de comportamento
caracterizado pela variação extrema de humor, proveniente de causas físicas e
psicológicas.
Em uma visão leiga, penso que muitos
sofrem é de solidão. O pior é que não se sabe se este infortúnio é algo
endógeno ou exógeno, isto é, que se forma no interior dos seres humanos, faz
parte de sua essência, ou surge de causas externas, de fora para dentro.
Solidão é o termo genérico de outros
sofrimentos. O nome não é importante, porque para entender esse vazio, essa
chaga interior, é preciso procurar as causas várias, como grandes decepções,
amores frustrados, traições, sonhos rotos, impotência diante das desgraças,
tudo que envenena, corrói, mata a vítima dolorosa e tragicamente.
A sabedoria popular afirma que o tempo
ameniza, consola e às vezes até cura tais mazelas, contudo elas deixam
cicatrizes horrendas, que jamais desaparecem. Fica-se mutilado, cronicamente
doente do espírito. Remédios, terapias apenas mascaram a dor, o desencanto, a
morte vagarosa e inexorável.
Os espíritos, no entanto, são
diferentes. Há os fortes que sobrevivem, sublimam e até conseguem parecer
felizes. Os fracos sucumbem, morrem aos poucos, como planta sem água, sem ar.
Os crédulos agarram-se em Deus, nos Santos de sua devoção, mas a salvação não
vem. O sofrimento faz parte da essência dos mortais, da nossa condição humana.
É bela, todavia, a luta para não
soçobrar diante da areia movediça dos fracassos. A oração surge como um cântico
e chega-se a sentir uma sensação de refrigério na dura aprendizagem. Viver dói.
Foi após algumas borrascas
experimentadas há anos, que escrevi o poema Oração aos Solitários: “Senhor!
Veja como vamos sós, pelos caminhos, / pelas ruas, nas casas, nos empregos, nos
carros. / A solidão é profunda e amarga, dolorida e falaz. / Vem com as
sombras, aumenta na escuridão, / sufoca nas madrugadas / quando a alma parece
exilar. / De quem os surdos soluços? / Da alma que se vai / triste melodia do
coração que chora? / A vida é tão breve, Senhor, / os homens tão insensatos,
tão mal informados. / Os passos se desencontram, / as mãos não se acasalam, /
separam-se lábios que nunca se juntaram. / A névoa envolve a cidade. / É a
bruma dos sonhos desfeitos, / das desilusões, dos amores prematuramente mortos,
mal nascidos? / A solidão machuca Senhor! / É tão amargo, Senhor, / Braços
feitos para o nada, mãos que acariciam o vazio, / palavras perdidas de ternura
estéril. / A solidão gera angústia, Senhor. / E com ela o estômago preso, / a
garganta seca, / o grito estrangulado. / A solidão dói, Senhor! (...)
E vêm as súplicas finais: “Mostre-nos
portas e caminhos, Senhor! / Dê-nos alento na procura / não permita que
sonhemos / só com o inatingível. (...) A vida é áspera, Senhor! O caminho é
duro e árido. E nós, os SOLITÁRIOS, somos tantos”...
O poema segue, até a súplica final, por
todos que sofrem. É o último grito de quem mergulha no abismo, a tentativa de consolo,
a esperança derradeira.
A solidão quando chega ao coração do homem é o início de uma grande luta individual. Porque solidão é quando nos perdemos de nós mesmos e procuramos em vão pela nossa alma.
ResponderExcluirA morte do outro será a morte de si. A vida nascerá da escuridão. A solidão está uma sociedade una.
Aparecida
Cidíssima querida,
ResponderExcluirUm dia você me confessou que não lê muito. Não acredito. Você escreve tão bem, coisas tão lindas... Então você é gênio. Vamos por outro caminho. Se é verdade que não lê muito e escreve assim, como será se ler bastante?!
Adorei seu comentário.
Beijos.
Ely