domingo, 22 de dezembro de 2013

CALENDÁRIO DA NATUREZA

CALENDÁRIO DA NATUREZA
         Comentava eu com alguém muito querido, que me fascinava o fato de haver uma espécie de agenda na Natureza. Árvores, flores, frutos, tudo tem seu tempo de nascer, crescer e morrer.  Assim, os ipês florescem na seca e em junho e julho dão espetáculo de beleza; os brancos, com sua efêmera brancura lírica, os amarelos e roxos (ou rosa?)  são belíssimos. Há curiosidades interessantes e não me atrai pesquisar se verdadeiras ou não. Por exemplo: as cores dos ipês dependem da luz solar mais ou menos forte. No final do ano os flamboyants incendeiam as frondosas árvores e os cachos dourados enfeitam os  pés de acácia.
         Ora, morei quarenta anos em um apartamento com a frente para a Praça XV.  Da janela de meu quarto avistavam-se umas belas árvores copadas, que o povo chamava de Sete Copas.  Soube que elas eram originárias da Europa. Verdade ou não, em setembro e outubro, quando aqui é primavera e lá, outono, todas as folhas dessas intrigantes árvores      secavam e caiam, como  acontecia com o outono europeu. Nunca tive uma explicação científica ou botânica, mas o fenômeno lembrava-me a canção famosa Les Feuilles Mortes, de Joseph Kosma.
           E há as idiossincrasias (manias botânicas?) das flores. Os amores-perfeitos só florescem em locais de clima frio. As misteriosas papoulas preferem terras áridas; há a estação das rosas, o tempo dos cravos, das gloxínias, dos lírios, das prímulas, das azaleias  e centenas de flores de cores, perfumes e nomes poéticos.  Recentemente vi em uma matéria televisiva, cientistas europeus que manipulam geneticamente as flores, misturando suas cores, seus perfumes. É o progresso sim, mas parece-me uma metáfora do homem violentando a Natureza...Foi dito que essas flores híbridas, mescladas, de cores nunca  vistas antes,  vendiam-se mais. Pergunto-me se as pesquisas são feitas para embelezar o mundo, ou são reféns da ambição.
         Acontecem fatos tão bizarros, sempre noticiados pela televisão, pela mídia escrita, que nos deixam abismados e cheios de dúvida, diante da sede tantálica dos meios de comunicação.  Perseguem com fúria as notícias e jamais sabemos o que é verdade ou invenção, criatividade distorcida ou ficção.  Soube certa vez que nos Estados Unidos fizeram uma experiência notável: dois locais fechados, um ao lado do outro, ligados por cabos comunicantes. No primeiro colocaram um médium e no outro, flores frescas, exuberantes. O homem começava a enviar mensagens do cérebro, de onde emanavam pensamentos fortemente negativos, destrutivos. Pouco tempo depois, as flores secavam, morriam... O que pode haver de verdade nisso? O povo já não diz que há pessoas de olhares malignos, que são capazes de secar todo um canteiro de avencas? Popularmente, arruda fecha o corpo contra todos os malefícios...Jardins com hortênsias dão azar e as moças da casa ficam solteironas...
         Uma filha afim, quando nos visita, elegeu a grande Mangueira do nosso Condomínio como lugar propício para fazer meditação.  Ao pôr do sol ela passa horas meditando, sob a majestosa  árvore que, de acordo com a tradição, é sagrada e protege. A Grande Mangueira de Magda, a mística.
         Sei que tudo isto pode ser inverdades ou superstições. Todavia, elas me encantam. Minha defesa é parafrasear a conhecidíssima assertiva do gênio inglês, Shakespeare: Há  mais mistérios entre o céu e a terra, que sonha a nossa vã filosofia. Ou podemos até duvidar, citando a famosa frase de Miguel Cervantes Saavedra: Yo non creo en  brujas, pero que las hay, las hay.


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