CALENDÁRIO
DA NATUREZA
Comentava eu com alguém muito querido, que me
fascinava o fato de haver uma espécie de agenda na Natureza. Árvores, flores, frutos,
tudo tem seu tempo de nascer, crescer e morrer.
Assim, os ipês florescem na seca e em junho e julho dão espetáculo de
beleza; os brancos, com sua efêmera brancura lírica, os amarelos e roxos (ou
rosa?) são belíssimos. Há curiosidades
interessantes e não me atrai pesquisar se verdadeiras ou não. Por exemplo: as
cores dos ipês dependem da luz solar mais ou menos forte. No final do ano os
flamboyants incendeiam as frondosas árvores e os cachos dourados enfeitam os pés de acácia.
Ora, morei quarenta anos em um
apartamento com a frente para a Praça XV.
Da janela de meu quarto avistavam-se umas belas árvores copadas, que o
povo chamava de Sete Copas. Soube que
elas eram originárias da Europa. Verdade ou não, em setembro e outubro, quando
aqui é primavera e lá, outono, todas as folhas dessas intrigantes árvores secavam
e caiam, como acontecia com o outono
europeu. Nunca tive uma explicação científica ou botânica, mas o fenômeno
lembrava-me a canção famosa Les Feuilles Mortes, de Joseph Kosma.
E há as idiossincrasias (manias botânicas?)
das flores. Os amores-perfeitos só florescem em locais de clima frio. As
misteriosas papoulas preferem terras áridas; há a estação das rosas, o tempo
dos cravos, das gloxínias, dos lírios, das prímulas, das azaleias e centenas de flores de cores, perfumes e
nomes poéticos. Recentemente vi em uma
matéria televisiva, cientistas europeus que manipulam geneticamente as flores,
misturando suas cores, seus perfumes. É o progresso sim, mas parece-me uma
metáfora do homem violentando a Natureza...Foi dito que essas flores híbridas,
mescladas, de cores nunca vistas
antes, vendiam-se mais. Pergunto-me se
as pesquisas são feitas para embelezar o mundo, ou são reféns da ambição.
Acontecem fatos tão bizarros, sempre
noticiados pela televisão, pela mídia escrita, que nos deixam abismados e
cheios de dúvida, diante da sede tantálica dos meios de comunicação. Perseguem com fúria as notícias e jamais
sabemos o que é verdade ou invenção, criatividade distorcida ou ficção. Soube certa vez que nos Estados Unidos
fizeram uma experiência notável: dois locais fechados, um ao lado do outro,
ligados por cabos comunicantes. No primeiro colocaram um médium e no outro,
flores frescas, exuberantes. O homem começava a enviar mensagens do cérebro, de
onde emanavam pensamentos fortemente negativos, destrutivos. Pouco tempo
depois, as flores secavam, morriam... O que pode haver de verdade nisso? O povo
já não diz que há pessoas de olhares malignos, que são capazes de secar todo um
canteiro de avencas? Popularmente, arruda fecha o corpo contra todos os
malefícios...Jardins com hortênsias dão azar e as moças da casa ficam
solteironas...
Uma filha afim, quando nos visita,
elegeu a grande Mangueira do nosso Condomínio como lugar propício para fazer
meditação. Ao pôr do sol ela passa horas
meditando, sob a majestosa árvore que,
de acordo com a tradição, é sagrada e protege. A Grande Mangueira de Magda, a
mística.
Sei que tudo isto pode ser inverdades
ou superstições. Todavia, elas me encantam. Minha defesa é parafrasear a
conhecidíssima assertiva do gênio inglês, Shakespeare: Há mais mistérios entre o céu e a terra, que
sonha a nossa vã filosofia. Ou podemos até duvidar, citando a famosa frase de
Miguel Cervantes Saavedra: Yo non creo en brujas, pero que las hay, las hay.
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