ANTISSENTIMENTO
O amor não é bom
Ele quer o mal
Sente inveja e se envaidece
Da paz que se foi.
É jamais ganhar, só perder
Na dor, na dúvida, no medo
Da falácia, instável
sensação
Da ânsia, do vazio, do oco
Da roubada alma.
É por vontade sonhar
horizontes
E morrer sufocada entre
montes
Grilhões do não saber
Quando ainda nem se viveu
E o fim já se delineou.
É servir, escravos os dois
Não há senhor / vencedor
Só nostalgia, amargura, a
dor
Dos assinalados em desgraça.
Dos mortos na dúvida
Sufocamento sem fim
Porque o epílogo fatal
Prova sempre, efêmero, falaz
Que o amante sorve o veneno
Todavia não morre do mal.
CONFITEOR
De há muito eu te esperava
Sem saber que trazias
A chave de todos os
mistérios.
Eras a resposta sagrada
Tesouro para mim guardado
Desde tempos imemoriais.
Hoje, quando me cobres
Com tuas asas de homem
De anjo? Transformas a vida
Em doce e manso happening
No paraíso só nosso
Ao nosso amor destinado.
Ah, Amado, é o verde, o
silêncio
As flores coloridas que
emolduram
Nosso ninho cálido, a brisa
Ou são tuas mãos tépidas
Que curam as chagas
Que a vida me presenteou
Como alçapões malditos
No inesperado das
madrugadas?
Tu me tomas pelas mãos e
dizes:
Vem, irmã, companheira,
mulher minha,
O tempo dos sonhos e
pesadelos
Tudo terminou. Sorris
iluminado.
Como um deus, como meu
homem.
Tu és plural. Menino, mago
Selvagem animal quando me
possuis.
E tudo é belo, tem sentido
Porque sei que és meu
Nesta doce e mágica troca.
Ely Vieitez Lisboa
(*)Do
livro Replantio de Outono, 2008.
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