LINGUAGEM E EMOÇÃO
Parafraseando
a filosofia de Buffon, o vocabulário é o homem. Ora, a Estilística enfoca o
problema na Linguagem Afetiva, de maneira pitoresca. Tal linguagem pode
significar carinho ou desprezo. Tudo depende do tom, da pontuação, do contexto.
Cachorro é um animal maravilhoso e pode-se até medir a cultura e a
sensibilidade de quem convive com ele, valorizando-o. Uma simples exclamação
diante do termo cachorro, dito a
um ser humano, é ofensa gravíssima. O mesmo acontece com o termo vaca.
A Linguagem Afetiva, quando conota sentido pejorativo,
serve também para o humor, jogos semânticos. Há pouco se veiculou na internet,
em um vídeo interessante: passa uma mulher de carro e ela grita para um homem,
quando os veículos se cruzam: Cavalo! O herói, ferido nos brios, retruca: Vaca!
No quadro seguinte, despenca literalmente um cavalo sobre o carro dele, ficando
só as patas do animal por fora do para-brisa...
A introdução é para comentar um episódio hilário, sobre
mais um dos repetidos, no passado; o nosso então presidente, Luís Inácio Lula
da Silva, usou no discurso de almoço de fim de ano, com 140 oficiais presentes,
a expressão “bando de generais”. Evidentemente, o pobre Lula nunca foi muito
familiarizado com substantivos coletivos.“Bando” pode ser usado para pessoas e animais, mas no primeiro caso
é sempre pejorativo, sinônimo de chusma, magote, choldra, joldra. Os importantes
militares não perdoaram, dizendo do presidente, no jornal O Estado de São
Paulo: “O beócio aproveitou sua
forma de falar besteiras para praticar covarde agressão”. Não discutamos quem
tem razão, qual foi a intenção do terrível lapso presidencial. Interessante é o
adjetivo substantivado que os militares usaram: “beócio” (sujeito inculto e
despreparado). Como se sabe, as palavras têm vida, exprimem status, estilo,
caem em desuso. Quem
ainda usa “beócio” é antigo,
meio obsoleto, rígido, avesso a modernidades...
Os exemplos continuam. Conheci uma doméstica que amava
assistir a novelas de televisão, principalmente as de época. Quando isso
acontecia e ela brigava com o filho, seu vocabulário era esclarecedor. De dedo
em riste, gritava para ele: biltre, energúmeno, pascácio, parvo, lorpa, nécio!
Alguns professores têm um vocabulário especial para classificar, com ironia, alunos desatentos ou
curtos de raciocínio : Rui Barbosa! De maneira mais sarcástica: QI de dois
dígitos! Camarão! Espiroqueta! Filhote de jabuti com lesma!
Quase todas as línguas são ricas, semanticamente, em termos
ofensivos. Há os de baixo calão, conhecidos no mundo todo e alguns
interessantes: Yellow e Chicken (covarde, poltrão, desprezível) em inglês;
salaud, mufle, saligaud, cochon, butor, cocu (salafrário, cafajeste e outras delicadezas,
em francês). A língua, no entanto, é tão pitoresca, que, até hoje, na França,
dizer a alguém “merde”, três
vezes, antes de um show, peça teatral, espetáculo, é desejar sorte.
Assim a Linguagem Afetiva é dinâmica e movida a sensações,
raiva, desprezo ou carinho. Há também gestos muito expressivos que falam mais
que palavras. Veja-se o exemplo do deselegante piloto norte-americano, que, há
algum tempo, fez, em público, um gesto obsceno famoso no mundo todo. Engraçado
como a História se repete. Dizem que a queda de Collor começou quando ele foi
flagrado por um fotógrafo fazendo o mesmo gesto, com o dedo médio...
Sem ofensa, mas se meus queridos leitores acharem o assunto
inócuo e pífio, ouso afirmar sobre minha tese: “Se non é vero, é bene trovato”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário