domingo, 19 de janeiro de 2014

LINGUAGEM E EMOÇÃO

LINGUAGEM E EMOÇÃO
         
Parafraseando a filosofia de Buffon, o vocabulário é o homem. Ora, a Estilística enfoca o problema na Linguagem Afetiva, de maneira pitoresca. Tal linguagem pode significar carinho ou desprezo. Tudo depende do tom, da pontuação, do contexto. Cachorro é um animal maravilhoso e pode-se até medir a cultura e a sensibilidade de quem convive com ele, valorizando-o. Uma simples exclamação diante do termo cachorro, dito a um ser humano, é ofensa gravíssima. O mesmo acontece com o termo vaca.
          A Linguagem Afetiva, quando conota sentido pejorativo, serve também para o humor, jogos semânticos. Há pouco se veiculou na internet, em um vídeo interessante: passa uma mulher de carro e ela grita para um homem, quando os veículos se cruzam: Cavalo! O herói, ferido nos brios, retruca: Vaca! No quadro seguinte, despenca literalmente um cavalo sobre o carro dele, ficando só as patas do animal por fora do para-brisa...
          A introdução é para comentar um episódio hilário, sobre mais um dos repetidos, no passado; o nosso então presidente, Luís Inácio Lula da Silva, usou no discurso de almoço de fim de ano, com 140 oficiais presentes, a expressão bando de generais”. Evidentemente, o pobre Lula nunca foi muito familiarizado com substantivos coletivos.“Bando” pode ser usado para pessoas e animais, mas no primeiro caso é sempre pejorativo, sinônimo de chusma, magote, choldra, joldra. Os importantes militares não perdoaram, dizendo do presidente, no jornal O Estado de São Paulo: “O beócio aproveitou sua forma de falar besteiras para praticar covarde agressão”. Não discutamos quem tem razão, qual foi a intenção do terrível lapso presidencial. Interessante é o adjetivo substantivado que os militares usaram: “beócio” (sujeito inculto e despreparado). Como se sabe, as palavras têm vida, exprimem status, estilo, caem em desuso. Quem ainda usa “beócio” é antigo, meio obsoleto, rígido, avesso a modernidades...
          Os exemplos continuam. Conheci uma doméstica que amava assistir a novelas de televisão, principalmente as de época. Quando isso acontecia e ela brigava com o filho, seu vocabulário era esclarecedor. De dedo em riste, gritava para ele: biltre, energúmeno, pascácio, parvo, lorpa, nécio!
          Alguns professores têm um vocabulário especial para  classificar, com ironia, alunos desatentos ou curtos de raciocínio : Rui Barbosa! De maneira mais sarcástica: QI de dois dígitos! Camarão! Espiroqueta! Filhote de jabuti com lesma!
          Quase todas as línguas são ricas, semanticamente, em termos ofensivos. Há os de baixo calão, conhecidos no mundo todo e alguns interessantes: Yellow e Chicken (covarde, poltrão, desprezível) em inglês; salaud, mufle, saligaud, cochon, butor, cocu (salafrário, cafajeste e outras delicadezas, em francês). A língua, no entanto, é tão pitoresca, que, até hoje, na França, dizer a alguém “merde”, três vezes, antes de um show, peça teatral, espetáculo, é desejar sorte.
          Assim a Linguagem Afetiva é dinâmica e movida a sensações, raiva, desprezo ou carinho. Há também gestos muito expressivos que falam mais que palavras. Veja-se o exemplo do deselegante piloto norte-americano, que, há algum tempo, fez, em público, um gesto obsceno famoso no mundo todo. Engraçado como a História se repete. Dizem que a queda de Collor começou quando ele foi flagrado por um fotógrafo fazendo o mesmo gesto, com o dedo médio...
          Sem ofensa, mas se meus queridos leitores acharem o assunto inócuo e pífio, ouso afirmar sobre minha tese: “Se non é vero, é bene trovato”.


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