segunda-feira, 7 de maio de 2012

POEMA DO MAIS TRISTE MAIO


                        POEMA DO MAIS TRISTE MAIO
                 
                                               Acabou a idade das rosas!
                                               Das rosas, dos lírios, dos nardos
                                               E outras espécies olorosas:
                                               É chegado o tempo dos cardos.
                                                                       (Manuel Bandeira)

                  Todo poeta é um profeta e a poesia, profecias sibilinas da vida do pobre homem, neste planeta cruel. Na estrofe em epígrafe, Manuel Bandeira ainda é otimista, pois cita ter havido uma “idade das rosas” que findou. Entende-se. Na realidade, ela não existe, nunca existiu, nós é que, quando jovens, vemos a vida com olhos róseos e criamos sonhos, ilusões (benditas quimeras!) que mais tarde esboroam, implodem, tudo movido por força implacável. É bizarro porque o processo se repete sempiternamente. O adulto é o jovem que amargurou, vinho transmutado em vinagre, nos anos, pelas mais variadas causas. O amor, os relacionamentos, a profissão, os ideais, nada escapa à fúria do tempo e de suas traças malditas.
                  Parece mórbida esta repetição inexorável, com raras exceções. Por que, mesmo conhecendo o fim do filme da vida, o homem continua indo ao cinema da existência? Não há surpresas: o final é terrível, inesperado ou tragicamente delongado por alguma doença. A decadência vem cedo, os membros ficam mais vagarosos, degenera o sexo, rareiam os sonhos (e às vezes os cabelos), mudam-se as feições, embaça a pele, aos poucos surge toda uma síndrome irreversível.
                  A única explicação plausível é que o verdadeiro espetáculo não é aqui. Neste mundo conturbado só se dá o ensaio. Há, no entanto, algo bonito, comovente e lírico. Lúcido, sabendo de tudo isto, o ser humano ainda se permite alegria, arrebatamento, momentos felizes. Sabe-se que a felicidade está alicerçada no efêmero, no passageiro. Talvez o grandioso esteja nesta fragilidade. O destino do homem é belo como as tragédias clássicas, que têm regras imutáveis pré-estabelecidas, sempre com um final infeliz. É uma tragicidade bela e digna. Sonhar, mesmo sabendo-se fugaz, é algo excelso. Sublime porque, embora conheça lucidamente o processo implacável, o homem tem fé, acredita que, acabado o Espetáculo de nonsense, uma possível existência eterna, harmoniosa, alicerçada em outros valores, poderá vir. Assim, apesar deste mundo insólito, repleto de incongruências, falácias e um macabro festival de absurdos, onde tudo é falaz, transitório, os seres humanos ainda ousam sonhar, eles, que transitam entre o AQUI e o ETERNO, que desconhecem. Há algo de grandeza neste pobre animal glabro, racional, que ri e tem saudade da perfeição que nunca teve. É Cecília Meireles que canta liricamente estes rastros, pegadas que ficam do apenas almejado.  É quando fala, alegoricamente, nos dois dísticos famosos, abaixo:
           
                  Eu deixo aroma até nos meus espinhos,
                  ao longe, o vento vai falando em mim.

                  E por perder-me é que me vão lembrando,
                   por desfolhar-me é que não tenho fim.
                 
                  A bela Cecília, com seus lindos olhos verdes e luminosos, nos deixa uma mensagem lírica da grandeza humana.




                      

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