ENSAIOS DA TARDE
Ensaios
da Tarde é o título do novo livro de Mara Senna, publicado recentemente em
2012. Nossa poetisa foi, outra vez, picada ela mosca azul da inspiração. Pelo que se conhece de seus poemas, já se
sabia que o novo lançamento seria um banquete literário, com poemas sensíveis,
de grande beleza. E a poetisa manteve suas características: o tom confessional,
um abrir de alma com uma franqueza cheia de finesse, o mostrar-se através de
seu Eu-poético, elevando-o ao universalismo. As almas líricas vão se reconhecer
nos poemas pretensamente simples, curtos, que
expressam grandiosidade de maneira sintética,
mas profunda.
Sabe-se que o
gênero poético é essencialmente linguagem. Ela deve expressar em sua beleza os
sentimentos do poeta, que tenta elucidar os mistérios do Universo e suas dúvidas metafísicas. Os poemas são
antenas especiais que conseguem captar essas mensagens cifradas de Deus, do
Universo, da vida e do próprio poeta, com seus questionamentos emaranhados e
complexos. E Mara Senna consegue fazer isto com maestria, desnudando-se,
ousando, em confissões aureoladas de delicadezas, em uma linguagem simples, porém com
metáforas inusitadas e alusões inesperadas.
Já no seu
primeiro livro, Luas Novas e Antigas, a síntese
era uma característica marcante, assim
como a linguagem musical, as rimas harmoniosas. No novo livro, na página 34 há
um poema com o título sugestivo “Inútil”: “Onde há luto, / é vã/ toda a luta”.
Enfatize-se a mensagem sábia e profunda em três versos curtos e o jogo
semântico dos termos luto / luta. O
mesmo acontece na pág. 63, em “Memória”: “E quando me tocaste a carne, / o
desejo, que ainda vivo, / lembrou-se de doer”. Ou em Crisálida, na página 83:
“Que me importa, neste momento, / ser lagarta / ou borboleta? / Só não quero
que esqueçam / qual a forma da minha letra”. É uma profissão de fé e de amor
pela literatura.
Em Ensaios da
Tarde não é aleatório que a coletânea dos novos poemas traz uma estrofe de
Drummond, em epígrafe. O Mago de Itabira confessa que os desejos não permitem a
felicidade de uma tarde azul. Os poemas de Mara são muito pertinentes ao
sentido maior da metáfora. Há sofrimento, dor, melancolia e sensação de perda nessa nova obra da poetisa, rica em
alusões cinematográficas e míticas, como nos poemas Bela da tarde (pág. 21) e
Penélope (pág. 68).
A Semiótica
tenta desvincular a pessoa, a biografia do autor, de sua obra, realçando que o
texto é autoexplicativo, como se ele tivesse vida própria, independência.
Talvez a teoria deva ser mais explorada, porque todas as características do
poeta, cultura, alma, sensibilidade, tendências, assim como seus medos, cismas
e predileções, filosofia e visão de mundo, tudo aflora em sua obra, como um RG
intransferível. Na realidade, é quase impossível estabelecer os limites do real
e do recriado. Em sua obra, o autor é um demiurgo e ela, as impressões digitais do seu EU.
Nada falta
neste novo livro de Mara Senna. Leia-o e verá, em belos poemas, uma certa tristeza perfumada de esperança, um
erotismo sutil, uma pitada de ousadia. Porque assim é a poetisa. Assim é a
mulher.
Nenhum comentário:
Postar um comentário