CAMINHOS DE BICICLETA
Tenho
procurado conhecer toda a vasta obra da
grande escritora Raquel Naveira, um dos talentos literários mais versáteis da literatura brasileira atual.
Ela trabalha com maestria os gêneros prosa e verso. Caminhos de Bicicleta, (Miró
Editorial Ltda. , 2010) é um livro fascinante. Nada mais adequado que citar as
palavras sábias, no final do Prefácio da famosa escritora Renata Pallottini,
apresentando a obra. “Caminhos de Bicicleta: caminhos simples, mas trabalhados.
.Exercício e resultado, visão de mundo, acréscimo e
objetividade. Um livro enriquecedor, multiforme, digno, vale a pena, e o leitor
confirmará esta suspeita”.
Cada subtítulo é, inicialmente, uma
crônica, seguida após, por um poema sobre o tema abordado O primeiro texto é um
apanhado criativo e variado do que é ganhar uma bicicleta. Sob a ótica
lírico-filosófica de Raquel Naveira, a bicicleta é mais uma vara mágica, um
documento de emancipação, descoberta poética, ritual de passagem, a mais pura
alegria. Como muito bem observa Renata Pallottini: “O modo de tratamento
escolhido para esta seleção é subjetivo; trata-se do que marcou os dias da
escritora; tudo é valioso, tudo pode ser motivo de divagação e de escavação na
terra da ideia. Raquel não despreza nenhum assunto e não estabelece critérios.
Tanto vale a origem de uma palavra fundamental em seu próprio nascimento,
quanto o louvor a um herói, a um poema, a uma fadista”.
Muito já
se estudou, na literatura, sobre o olhar novo, a outra roupagem que o escritor
cria, para temas já abordados inúmeras vezes. A alusão, por exemplo, à obra O
Pequeno Príncipe, de Exupéry, famosa no
mundo todo, traduzida em muitas línguas, peça teatral, filme, surge aos olhos
de RN, na crônica e no poema, como
algo original e mais universal. Assim é também quando ela aborda os Mitos, tema
recorrente em suas obras. Raquel consegue sempre um enfoque novo.
Em uma
mistura aparentemente complexa, nossa Musa de Campo Grande ousa cantar também
poetas famosos, de hoje e do passado, cidades, locais públicos e figuras
importantes da política nacional, como Getúlio Vargas. Quando fala do grande
estadista, usa a sugestiva figura de linguagem da preterição, fechando a
crônica com a citação da famosa frase da carta-testamento.
A ousadia
literária da autora enriquece os textos com uma linguagem conotativa rica, faz
incursões ao passado, quando encontra e conversa com Rui Barbosa, ou comenta o
romance premiado de Luiz Ruffato, Eles Eram Muitos Cavalos, inspirado no famoso
poema Dos Cavalos da Inconfidência, de Cecília Meireles. Há também crônicas
dedicadas a mulheres notáveis, escritoras, escrivãs, poetisas, almas gêmeas em
essência, da autora.
Partindo
de um seriado americano que marcou sua infância, Raquel aborda o tema da
Feiticeira: “Nós, mulheres, temos ligações com as forças ocultas e com os
espíritos (...) , fada druídica, sacerdotisa,
sibila de todas as criaturas, filhas de uma longa história registrada em nossa
psique”. Neste e em outros textos, realça-se um erotismo lírico, que me encanta
sobremaneira, a mim, com dois contos sobre este tema, em A Senhora das Sombras, cuja primeira edição
é de 1994.
E seguem
os caminhos de bicicleta de RN, trilhas reais e surrealistas, encontro com Cidades, rios, recriação de episódios históricos,
figuras míticas, escritores famosos como
a emblemática Rosalía de Castro, a Galega, mergulhos corajosos nas
regiões abissais da própria Raquel, neste livro de uma riqueza ímpar, aureolado
de grande talento.
Nenhum comentário:
Postar um comentário