UMA
CERTA CARTA ROSA
Meu destino sempre
foi ligado ao gênero epistolar, às cartas. Por isso, até hoje ainda não me
acostumei ao laconismo breve dos e-mails. Parecem algo falho, um recado. Quando
era muito jovem, terminei um romance de adolescência (nem me lembro o nome do
Romeu, que morava em uma cidade meio distante); ele confessou: Não me importo
de terminarmos tudo, mas suas cartas não devolverei. São um tesouro para eu
mostrar a meus filhos e netos, daqui muitos anos... Quando estava na Faculdade,
na lírica Belo Horizonte, conheci, no Curso de Letras, as epistolas da
famosíssima Maria de Rabutin-Chantal, Marquesa de Sévigné, do século XVII. Ela residia em Paris e quando sua filha foi
viver em uma cidade da Provença, a mãe saudosa lhe escrevia longas cartas,
todos os dias. Eram textos originais e belos. Pelas 722 cartas à filha, Me.
Sévigné entrou para a Literatura Francesa.
Nos quatro anos em
Beagá, eu escrevia às amigas, imitando o estilo de Me. Sévigné. Anos depois, em
um Banco, em Ribeirão, o Gerente me confidenciou: Eu lia todas suas cartas que
escrevia à minha filha. Você não pode reclamar, pois ela as “publicava” no
corredor da Faculdade, em São Paulo, porque
todo mundo queria lê-las. Será por essa influência que publiquei, em 2003, o
livro Cartas a Cassandra, o primeiro romance epistolar brasileiro? Quando fui a
primeira vez à Europa, optei por um navio inglês. Quinze dias diante daquele
marzão lindo! Fui escrevendo uma carta à minha mãe, todos os dias. Em Lisboa,
postei a missiva de vinte e oito páginas.
Estou
assim, melancólica e emocionada, porque há poucos dias recebi pela Internet uma
carta linda, rosa, muito pessoal, um dos textos mais sensíveis e líricos que já
li. Não pedirei licença à autora, para lhe falar sobre ela, caro Leitor. Já
confessei de público que o escritor tem o direito de transformar em sua
personagem qualquer pessoa que o encante. A história de minha remetente é
linda! Ela era professora e fazia Laboratório de Redação comigo. Casada, com
duas filhas adolescentes, desavisada, vivendo seu casamento pretensamente
feliz. Não conhecia ainda os alçapões da vida. O marido chegou e disse:
Descobri que não nasci para ser casado. E saiu de casa.
Minha
heroína chegou arrasada ao Laboratório. Chorara muito, queimara seu vestido de
noiva, tinha esperança que o marido voltasse. Chamei sua atenção, enfatizei que
o crápula não a merecia. Ela era linda,
jovem ainda! Que ela tomasse um banho de loja, saísse, procurasse se divertir,
renascesse! E quando nosso anti-herói quisesse voltar, fosse irônica e lhe
agradecesse por sua liberdade.
Mistério da natureza
humana! Meses depois, minha heroína era outra mulher! Desabrochou como flor
fora da estufa. Até seus textos mudaram de estilo. Ela começou a escrevê-los de
forma forte e atraente. Ora, foi esta minha personagem fascinante que me mandou
a bela carta rosa. Confessou-me que anda apaixonada pela Literatura e está
escrevendo muito. Entra em cena a outra faceta rica dessa jovem senhora
notável: a escritora. Sei que vou amar também esse lado atraente da mulher
lírical. Eu a conheço bem: ela é inteligente, culta e de rara sensibilidade.
Não há receita mais perfeita para dar certo.
Ave, nova Escritora!
Bem-vinda ao mundo das Letras!
Cara escritora Ely
ResponderExcluirAcompanho teus textos. Ricas informações. Palavras repletas de lirismo. O dom da escrita lhe fora generoso.
Cartas. Delas, quantas lembranças registradas. Missivas trocadas. Guardadas. Rasgadas.
Quando se pensava que a velocidade do computador traria nova forma de comunicação, como trouxe realmente, as cartas parecem clamar das sombras do esquecimento.
Os correios sempre repletos de pessoas. Modernos. Confiáveis.
Dia desses, meu coração se encheu de carinho e alegria. Era minha sobrinha neta, uma garotinha de apenas 8 anos quem me surpreendia.
Não era apenas uma cartinha corriqueira, mas um livro. Escrito, formatado, ilustrado, montado com esmero ímpar.
Agora, teu texto, este espaço, querer compactuar minha satisfação me remete a estas linhas e lhe apresento o sonho de criança http://retalhosdeleituras.blogspot.com.br/ que ficará registrado, não somente em minhas memórias, mas nesta galáxia internet, para quem quiser usufruir deste momento singular.
Tuas líricas palavras também me levaram às minhas mais tenras lembranças, quando os correios podiam compartilhar sonhos, numa época em que não se imaginava estar frente a uma tela a escrever.
Os dois podem registrar momentos incríveis. No primeiro, as cartas, a letra desenhada, o papel escolhido, a tinta, o envelope, a postagem... a expectativa da recepção. O anseio pela resposta.
No segundo, o tempo a compactuar a nosso favor, mas nem sempre nossa fala encontra eco. Nossos textos comentários. Nossos e-mails respondidos.
Ah! Machado de Assis. O que teria mudado?
Ely. Mais uma vez foram elas, as cartas, que me motivaram a tantas linhas. Ou será tua escrita esmerada. Ou ainda o gosto de me expressar. Quem sabe tudo quanto e mais pudera formar o mix de impressão.
Lindo teu texto. Meu desejo de compartilhar um sonho também grita este espaço. E abro parênteses.
Obrigada por disseminar tuas lembranças e nos deixar adentrar teu universo.
Querida Inajá,
ResponderExcluirSeus comentários são riquíssimos, mostram sua sensibilidade, erudição, cultura. Viveu muito tempo entre livros, consubstanciou-se com eles?! Abri seu Blog. Um tesouro, sério, com textos belos, informações preciosas. Efusivas congratulações. Raramente vi um Blog tão rico e variado. Você deve ter enorme facilidade para trabalhar com este instrumento moderno, que e a Internet.
Beijos.
Ely