domingo, 4 de agosto de 2013

VIVENDO E APRENDENDO

VIVENDO E APRENDENDO           
     Sempre fui encantada com as palavras. Cada vez que eu conhecia um termo novo, eu quase entrava em transe. Ficava abismada, vislumbrando mistérios semânticos. Acho que nada mudou. Um dia desses, em um jornal televisivo, ouvi dos repórteres dois vocábulos desconhecidos e muito bizarros: DESAPOSENTADORIA e DESAPOSENTAÇÃO.  Seriam neologismos já aceitáveis no Volp (Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa), lei maior da Academia Brasileira de Letras, ou no Houaiss? Fui pesquisar no Doutor Google. Quem vive sem ele hoje? É uma sina, um vício moderno...
     Meu interesse não é jurídico. Pertenço ao grupo, cuja  aposentadoria durou só uma semana. Fui atacada por uma melancolia que quase descambou para a depressão. Antes que o bicho me pegasse, recebi um recado do COC, pedindo que eu criasse um Laboratório de Redação. Aceitei e lá fiquei dez anos. Quando “aposentei de novo”, descobri que era uma workaholic e não sabia viver sem o trabalho. Fundei o meu próprio Laboratório. Foi assim que lecionei cinquenta e dois anos...
     Agora sosseguei. Só escrevo para quatro jornais (dois de Ribeirão, um de Minas e, eventualmente, em um tabloide literário de São Paulo).      Reviso meus treze livros, escrevo Prólogos, leio originais de escritores, cuido de minhas duas Labradoras e até faço café de manhã, porque tenho o hábito de madrugar. Ah, e agradeço ao amigo Computador, que me traz, fresquinhas, as primeiras notícias do dia, recados  nos e-mails, no Facebook.
      Mas voltemos aos meus dois vocábulos descobertos.         Os termos surgiram para designar a possibilidade de uma nova aposentadoria, para os já aposentados pelo INSS, que permaneceram no mercado de trabalho a fim de melhorar a renda familiar. A matéria provoca ainda celeumas, porque há pontos obscuros. Ela está para ser decidida no Supremo Tribunal Federal, em Brasília. A votação encontra-se, atualmente, suspensa. Na realidade, é mais um Projeto, mas já existe até Lei: é a 9.876/99. É apenas uma esperança de possibilidade futura.
      Fiquei pensando por que encontrei tanto prazer na pesquisa. Deve ter sido um velho sonho que ressurgiu: fazer Direito. Há muitos anos, cheguei ir a uma Faculdade para fazer matrícula. Mas ficou só na intenção, no Depósito dos Sonhos Falidos... Logo após, minha curiosidade voltou para outros dois termos que também “descobri” esses dias: Ressurgência ou Afloramento. São dois vocábulos usados em Oceanografia, para designar um fenômeno que acontece em alguns locais dos Oceanos: é a subida de águas profundas, muitas vezes ricas em nutrientes, para regiões menos profundas do oceano, como acontece, no Brasil, em Arraial do Cabo. Encantei-me! E no reino riquíssimo da Semântica, lembrei-me dos parônimos imergir e emergir. Daí à Psicologia, foi um pulo: A ressurgência ou afloramento na psique humana não seria a imersão do consciente no inconsciente e de lá trazer realidades desconhecidas e submersas da alma humana?  Fascinante!
     Uma coisa leva à outra. Da Psicologia, visitei a Mitologia Grega, lembrando um dos mitos mais belos, a lenda de Eros e Psique. Mas não se assuste, Leitor. Paro por aqui. Ninguém é obrigado a embarcar nas elucubrações, ou nas idiossincrasias da articulista. Sinônimo dessa palavra esquisita?  São manias, meu caro. Hoje, definitivamente, eu não deveria escrever. Perdi as rédeas no Reino das Palavras.
(*) Ely Vieitez Lisboa é escritora. O artigo de hoje é dedicado ao Vicente Golfeto, ex-aluno querido, escritor, colunista e amante da Etimologia.
                                           


                                            

3 comentários:

  1. Muito bom e oportuno este artigo!
    Gosto muito de neologismos, sem ser estudioso do nosso idioma. Para facilitar minhas reflexões sempre gostei de interpor palavras que para mim não existiam ou nunca as teria ouvido. Porém perfeitamente a mim entendíveis. Ex: Manipulação do pensamento, da vontade?Sempre me soou muito esquisito. Não seria mentipulação? Ou, ou, bem ... sou contabilista e não linguista.
    Tenho uma grande queda pelo pensamento construtivo, a filosofia !
    Elvio

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  2. Elvio Arruda,
    Muito inteligente seu comentário. Se gosta de neologismos, leia alguma obra de Guimarães Rosa, o Mago de Cordisburgo. Ele conhecia sete línguas e acabou por inventar uma nossa, plena de oralidade.
    Ely

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  3. Muito obrigado pela indicação, vou ler !!!

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