VIVENDO E APRENDENDO
Sempre fui
encantada com as palavras. Cada vez que eu conhecia um termo novo, eu quase entrava em transe. Ficava abismada, vislumbrando
mistérios semânticos. Acho que nada mudou. Um dia desses, em um jornal
televisivo, ouvi dos repórteres dois vocábulos desconhecidos e muito bizarros: DESAPOSENTADORIA
e DESAPOSENTAÇÃO. Seriam neologismos já aceitáveis
no Volp (Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa), lei maior da Academia
Brasileira de Letras, ou no Houaiss? Fui pesquisar no Doutor Google. Quem vive
sem ele hoje? É uma sina, um vício moderno...
Meu interesse
não é jurídico. Pertenço ao grupo, cuja aposentadoria durou só uma semana. Fui atacada
por uma melancolia que quase descambou para a depressão. Antes que o bicho me
pegasse, recebi um recado do COC, pedindo que eu criasse um Laboratório de
Redação. Aceitei e lá fiquei dez anos. Quando “aposentei de novo”, descobri que
era uma workaholic e não sabia viver sem o trabalho. Fundei o meu próprio
Laboratório. Foi assim que lecionei cinquenta e dois anos...
Agora
sosseguei. Só escrevo para quatro jornais (dois de Ribeirão, um de Minas e,
eventualmente, em um tabloide literário de São Paulo). Reviso meus treze livros, escrevo Prólogos, leio originais de
escritores, cuido de minhas duas Labradoras e até faço café de manhã, porque
tenho o hábito de madrugar. Ah, e agradeço ao amigo Computador, que me traz,
fresquinhas, as primeiras notícias do dia, recados nos e-mails, no Facebook.
Mas voltemos
aos meus dois vocábulos descobertos. Os termos surgiram para designar a
possibilidade de uma nova aposentadoria, para os já aposentados pelo INSS, que
permaneceram no mercado de trabalho a fim de melhorar a renda familiar. A matéria
provoca ainda celeumas, porque há pontos obscuros. Ela está para ser decidida
no Supremo Tribunal Federal, em Brasília. A votação encontra-se, atualmente,
suspensa. Na realidade, é mais um Projeto, mas já existe até Lei: é a 9.876/99.
É apenas uma esperança de possibilidade futura.
Fiquei
pensando por que encontrei tanto prazer na pesquisa. Deve ter sido um velho
sonho que ressurgiu: fazer Direito. Há muitos anos, cheguei ir a uma Faculdade
para fazer matrícula. Mas ficou só na intenção, no Depósito dos Sonhos
Falidos... Logo após, minha curiosidade voltou para outros dois termos que
também “descobri” esses dias: Ressurgência ou Afloramento. São dois vocábulos
usados em Oceanografia, para designar um fenômeno que acontece em alguns locais
dos Oceanos: é a subida de águas profundas, muitas vezes ricas em nutrientes,
para regiões menos profundas do oceano, como acontece, no Brasil, em Arraial do
Cabo. Encantei-me! E no reino riquíssimo da
Semântica, lembrei-me dos parônimos imergir e emergir. Daí à Psicologia, foi um
pulo: A ressurgência ou afloramento na psique humana não seria a imersão do
consciente no inconsciente e de lá trazer realidades desconhecidas e submersas
da alma humana? Fascinante!
Uma coisa leva
à outra. Da Psicologia, visitei a Mitologia Grega, lembrando um dos mitos mais
belos, a lenda de Eros e Psique. Mas não se assuste, Leitor. Paro por aqui.
Ninguém é obrigado a embarcar nas elucubrações, ou nas idiossincrasias da
articulista. Sinônimo dessa palavra esquisita?
São manias, meu caro. Hoje, definitivamente, eu não deveria escrever.
Perdi as rédeas no Reino das Palavras.
(*) Ely Vieitez Lisboa é escritora. O artigo de hoje é
dedicado ao Vicente Golfeto, ex-aluno querido, escritor, colunista e amante da
Etimologia.
Muito bom e oportuno este artigo!
ResponderExcluirGosto muito de neologismos, sem ser estudioso do nosso idioma. Para facilitar minhas reflexões sempre gostei de interpor palavras que para mim não existiam ou nunca as teria ouvido. Porém perfeitamente a mim entendíveis. Ex: Manipulação do pensamento, da vontade?Sempre me soou muito esquisito. Não seria mentipulação? Ou, ou, bem ... sou contabilista e não linguista.
Tenho uma grande queda pelo pensamento construtivo, a filosofia !
Elvio
Elvio Arruda,
ResponderExcluirMuito inteligente seu comentário. Se gosta de neologismos, leia alguma obra de Guimarães Rosa, o Mago de Cordisburgo. Ele conhecia sete línguas e acabou por inventar uma nossa, plena de oralidade.
Ely
Muito obrigado pela indicação, vou ler !!!
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