RELEITURAS
BÍBLICAS
A Bíblia é literatura de alta qualidade. Assim, todos os
seus textos podem e devem ser lidos conotativamente, isto é, dentro de um contexto
literário, que admite leituras diversas. Pode-se até fazer releituras em um enfoque
moderno, sem correr o risco de heresia, mas sim como um exercício intelectual.
Deus deve gostar disso.
I
Era no Paraíso. Eva, formosa, com uma guirlanda de flores
perfumadas, envolvendo seu corpo edênico, diz a Adão: Tome jeito, criatura! Você
já é bem grandinho, para obedecer ao Pai. Não comer do fruto proibido, por quê?
Cismado, Adão olha para a companheira que lhe oferece uma apetitosa maçã rubra.
O que ela quer? Está sempre me colocando em uma fria... Ela não é confiável.
Titubeou, tergiversou, não tinha vontade, a fruta não estava madura... E
custava obedecer? Por que infringir a lei? Que diabo!
Não chegaram a um acordo. Veio o
divórcio. Só bem mais tarde, influenciados pelos Anjos, reconsideraram, senão
comprometeria o vir- a- ser da humanidade.
II
Passagem irritante, boçal. Ninguém alertou que Sansão e
Dalila tinham QIs de ameba, eram quase débeis mentais?
Amantes. Dalila, traiçoeira e mau
caráter, quer acabar com o Schwarzenegger bíblico. Como descobrir a fonte de
sua força, para destruí-lo? Pergunta-lhe, cheia de dengo: – Sansão, de onde vem
sua força? Ele, matreiro e desconfiado. A reputação de Dalila é conhecida. Não
é flor que se cheire. Falsa, traiçoeira como cobra. Sabendo disso, nosso idiota
musculoso tenta enganá-la. Seria necessário amarrá-lo com cordas de arco
frescas, que ainda não tivessem sido postas a secar.
Os filisteus caem sobre ele, nosso
herói os arrebenta. A mulher viperina volta a perguntar. O imbecil mente de
novo, usando a mesma falseta, mais duas vezes e o Blockbuster do Livro dos
Juízes, sai ileso. Não é que a víbora
volta a atacar e o mentecapto confessa a verdade? A força está em seus cabelos
virgens de navalha. A messalina, Judas
de saia (ou de véus?) adormece o parvo, recebe dinheiro pela sua iniquidade e
transfere o encargo a um homem, para executar a tarefa, cortar as sete tranças
da cabeleira de Sansão. Foi o primeiro caso de terceirização da História. Nada
é novo na face da terra.
III
Novo Testamento. Perguntaram a Jesus o
que era a verdade. Ele olhou para o povão ao redor, agachou-se e pôs-se a
rabiscar o chão. Os exegetas aventam mil hipóteses. Que significava o gesto?
Por que o Mestre, onisciente, que tudo sabe, não respondeu? Eu, hein! Sou lá
besta de meter a mão em cumbuca? Ele conhecia a cabeça e o coração dos
homens...
IV
E há a passagem da primeira Multiplicação dos Pães. Com
apenas cinco pães e dois peixes, Jesus alimentou uma grande multidão de mais ou
menos cinco mil homens, sem contar mulheres e crianças (olhe o preconceito!) e
ainda sobraram doze cestos cheios de pedaços. Dizem que o Cristo teve problemas
com o fisco e com o imposto de renda. Como explicar tal despesa diante de tão
pouca receita? Mas essa é outra história.
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