DA AMBIÇÃO
A ambição é um monstro voraz, de fome tantálica. Jamais
seu apetite é saciado. Ela é onívora, come de tudo. Ilógica, irracional. O
portador desse Moloch (hospedeiro?) tem uma filosofia incongruente e burra. Vê
o homem como um ser eterno, um conquistador que levará com ele todos seus
despojos de guerra. Partirá para o além (viagem e lugar duvidosos) com tudo que
conquistou – riqueza, poder – e será recebido (por quem?) na Ala Vip, com
glórias. É um homem realizado, cumpriu a grande missão: TER, acrescentar,
aumentar, enriquecer.
Parece impossível ser tão ignorante,
mas a choldra dos ambiciosos viceja em todos os cantos do mundo. É algo
endêmico na História e intrínseco aos seres humanos. Ela existe desde sempre.
Faz parte da essência dos homens, desde o primeiro barro. Deus deveria saber disso. Por que não
aperfeiçoou a receita e eliminou tal falha?
A realidade, contudo, é simples: quem
pegou tal peste, foi inoculado por esse vírus, norteia toda sua vida para o
adquirir, comprar, dobrar seu capital. Se tiver êxito e viver muito, aos 60, 70
anos será rico, poderoso, porque nesse mundo insano e perverso, o dinheiro
sempre foi a chave mestra que abre todas as portas. Porém, um dia,
inexoravelmente, chegará a hora de partir. Midas irá nu, sem conta bancária nas
Ilhas Caimã ou Suíça. Partirá como chegou. Sozinho e desinformado. Quando o
mistério das inúmeras verdades de fé for desvendado, não haverá mais regalias, conforto,
status. Todos serão, finalmente, iguais perante a Lei Maior; seu estatuto,
parágrafos e itens farão justiça.
No famoso conto “Igreja do Diabo”,
Machado de Assis abole a diferença entre vícios e virtudes; tudo é relativo. A
ambição pode ser benévola ou maligna; a primeira é vetor que faz o homem
crescer, enriquece sua vida, propicia benesses, faz o bem. A segunda abastarda-o, torna-o vil,
porque o vício maldito não conhece limites, só finalidades. O axioma famoso de
Maquiavel, os fins justificam os meios, é o lema deste exército funesto, que
ignora princípios morais e a Ética.
Mestres, filósofos já abordaram esse tema,
denunciaram a inversão de valores, todavia os ambiciosos fazem ouvidos moucos
diante dos sábios ensinamentos. Eles gostam de pertencer ao time dos
vencedores, não importa a partida que se disputa, é sempre um fracassado quem
não enriqueceu. O binômio vitória/fortuna é inseparável. Veja-se o alerta do
grande Pietro Aretino: “A ambição é o estrume da glória”. La Bruyère fala do refém desse
mal: “O escravo tem um amo só, o ambicioso tem tantos quantos são úteis à sua
fortuna”.
Os poetas são também profetas;
denunciam: Quando a Indesejada das Gentes chegar... Manoel Bandeira confessa,
com clarividência e humildade: “Encontrará lavrado o campo, a casa limpa/A mesa
posta,/ Com cada coisa em seu lugar”. É preciso analisar, com argúcia e
precaução, os significados desses versos. Eles podem ser muito mais complexos e
metafísicos. Cautela e precaução!
Você amanhou a terra, plantou boas
sementes? A casa está preparada, a mesa posta poderá receber convidados dignos?
E a questão mais séria, mais preocupante: Deixou um legado de boas ações?
Preparado para a Grande Viagem?
Nenhum comentário:
Postar um comentário