sábado, 30 de março de 2013

DA AMBIÇÃO


DA AMBIÇÃO
        

A ambição é um monstro voraz, de fome tantálica. Jamais seu apetite é saciado. Ela é onívora, come de tudo. Ilógica, irracional. O portador desse Moloch (hospedeiro?) tem uma filosofia incongruente e burra. Vê o homem como um ser eterno, um conquistador que levará com ele todos seus despojos de guerra. Partirá para o além (viagem e lugar duvidosos) com tudo que conquistou – riqueza, poder – e será recebido (por quem?) na Ala Vip, com glórias. É um homem realizado, cumpriu a grande missão: TER, acrescentar, aumentar, enriquecer.
         Parece impossível ser tão ignorante, mas a choldra dos ambiciosos viceja em todos os cantos do mundo. É algo endêmico na História e intrínseco aos seres humanos. Ela existe desde sempre. Faz parte da essência dos homens, desde o primeiro barro.    Deus deveria saber disso. Por que não aperfeiçoou a receita e eliminou tal falha?
         A realidade, contudo, é simples: quem pegou tal peste, foi inoculado por esse vírus, norteia toda sua vida para o adquirir, comprar, dobrar seu capital. Se tiver êxito e viver muito, aos 60, 70 anos será rico, poderoso, porque nesse mundo insano e perverso, o dinheiro sempre foi a chave mestra que abre todas as portas. Porém, um dia, inexoravelmente, chegará a hora de partir. Midas irá nu, sem conta bancária nas Ilhas Caimã ou Suíça. Partirá como chegou. Sozinho e desinformado. Quando o mistério das inúmeras verdades de fé for desvendado, não haverá mais regalias, conforto, status. Todos serão, finalmente, iguais perante a Lei Maior; seu estatuto, parágrafos e itens farão justiça.
         No famoso conto “Igreja do Diabo”, Machado de Assis abole a diferença entre vícios e virtudes; tudo é relativo. A ambição pode ser benévola ou maligna; a primeira é vetor que faz o homem crescer, enriquece sua vida, propicia benesses, faz o  bem. A segunda abastarda-o, torna-o vil, porque o vício maldito não conhece limites, só finalidades. O axioma famoso de Maquiavel, os fins justificam os meios, é o lema deste exército funesto, que ignora princípios morais e a Ética.
         Mestres, filósofos já abordaram esse tema, denunciaram a inversão de valores, todavia os ambiciosos fazem ouvidos moucos diante dos sábios ensinamentos. Eles gostam de pertencer ao time dos vencedores, não importa a partida que se disputa, é sempre um fracassado quem não enriqueceu. O binômio vitória/fortuna é inseparável. Veja-se o alerta do grande Pietro Aretino: “A ambição é o estrume da glória”. La Bruyère fala do refém desse mal: “O escravo tem um amo só, o ambicioso tem tantos quantos são úteis à sua fortuna”.
         Os poetas são também profetas; denunciam: Quando a Indesejada das Gentes chegar... Manoel Bandeira confessa, com clarividência e humildade: “Encontrará lavrado o campo, a casa limpa/A mesa posta,/ Com cada coisa em seu lugar”. É preciso analisar, com argúcia e precaução, os significados desses versos. Eles podem ser muito mais complexos e metafísicos. Cautela e precaução!
         Você amanhou a terra, plantou boas sementes? A casa está preparada, a mesa posta poderá receber convidados dignos? E a questão mais séria, mais preocupante: Deixou um legado de boas ações? Preparado para a Grande Viagem?



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