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FÁBULA DAS APTIDÕES
A Fábula é um gênero literário
aparentemente simples, um apólogo ou uma narrativa alegórica em prosa ou em
verso, da qual se tira uma lição de moral.
Esopo (grego, VI a.C) e Fedro (latino, 15 a .C.- 50 d.C.) foram
recriados magistralmente, em verso, pelo imortal La Fontaine. Há quem, de forma
inocente, ache que a Fábula é um gênero literário infanto-juvenil, historinhas
para criança. Ledo engano! Mesmo que as personagens sejam animais, é uma
narrativa sobre os seres humanos, com morais sábias, profundas e universais.
Para comprovar isto, basta reler, entre outras, as fábulas ¨Os animais doentes
de peste¨ ou ¨A jovem viúva¨, de La
Fontaine , que demonstram respectivamente que de acordo com
sua posição social você será julgado e que toda dor é efêmera.
Há uma fábula moderna de autor
desconhecido, que eu intitularia ¨A Fábula das Aptidões¨. Sua temática detecta
um problema sério e eterno: a Escola distante da realidade. O texto,
conotativamente, é uma lição preciosa.
A Fábula é rica de significados.
Dedico-a aos Professores para uma meditação. Espero que leiam o texto no nível
mais profundo, captando seu significado maior. Talvez se possa entender melhor
uma das razões precípuas entre as complexas causas da atualmente tão
preocupante e discutida falência do ensino. Segue abaixo a parábola para
reflexão.
Certa
vez os animais resolveram preparar seus filhos para enfrentarem as dificuldades
do mundo atual e, por isso, organizaram uma escola. Adotaram um currículo
prático que constava de corrida, escalar, natação e voo. Para facilitar o
ensino, todos os alunos deveriam aprender todas as matérias.
O
pato, exímio em natação (melhor mesmo que o professor), conseguiu notas
regulares em voo, mas era aluno fraco em corrida e escalar. Para compensar esta
fraqueza, ficava retido na escola todo dia, fazendo exercícios extras. De tanto
treinar corrida ficou com os pés terrivelmente esfolados e, por isso, não conseguiu
mais nadar como antes. Entretanto, como o sistema de promoção era a média
aritmética das notas nos vários cursos, ele conseguiu ser um aluno sofrível e
ninguém se preocupou com o caso do pobre pato.
O
coelho era o melhor aluno no curso de corrida, mas sofreu tremendamente e
acabou com esgotamento nervoso, de tanto tentar a natação.
O
esquilo subia sempre com rapidez e conseguia belas notas no curso de escalar,
mas ficou frustrado no voo, pois o professor obrigava-o a voar de baixo para
cima e ele insistia em usar os seus métodos, isto é, em subir nas árvores e
voar de lá para o chão. Ele teve que se esforçar tanto em natação, que acabou
por passar com nota mínima em escalar, saindo-se mediocremente em corrida.
A
águia foi uma criança problema, severamente castigada desde o princípio do
curso, porque usava métodos exclusivos dela, para atravessar o rio ou subir nas
árvores. No fim do ano, uma águia anormal, que tinha nadadeiras, conseguiu a
melhor média em todos os cursos e foi a oradora da turma.
Os
ratos e os cães de caça não entraram na escola porque a Administração se
recusou a incluir duas matérias que eles julgavam importantes, como escavar
tocas e escolher esconderijos. Acabaram por abrir uma escola particular junto
com as marmotas e, desde o princípio, conseguiram grande sucesso.
Cara amiga escritora Ely
ResponderExcluirBem colocada a fábula. Reflete uma realidade incomensurável. Infelizmente fomos educados para sermos bons em tudo. Jamais nos perguntaram se gostávamos de matemática em detrimento ao português. As notas não refletem nossos desejos e aptidões. Na maioria das vezes, a cobrança inicia nos lares. Pais, infelizmente, tornam-se nossos maiores opositores. Bom mesmo é quando há o equilíbrio. Percebemos nossas limitações. Aperfeiçoamos nossas aptidões. Eu fui agraciada pela vida. Nasci entre linhas e livros. Meu pai escritor e historiador, passou-me o gosto pelos livros - formei-me Bibliotecária e Documentalista. As linhas da escrita estou a formatar. Livros se preparam à lume. Minha mãe, artesã, legou-me o gosto e prazer das linhas nas lãs. Tornei-me assim artesã das lãs nas linhas e das linhas nas lãs. Aptidões que nos desvendam e nos revelam ao longo da existência, quando nos predispomos a encontrá-las dentro de nós. Como sempre, adorei o texto. Levou-me a este delicioso encontro. Obrigada.