RABISCOS
NA ROÇA
Conheci Nilton Chiaretti há muitos anos, quando ele era
um adolescente. Depois, nunca mais tive notícias dele. Veio a vida, cada um no
seu caminho. Eis que, há pouco tempo, tive uma grande surpresa. Nilton, hoje um
homem maduro, mandou-me um e-mail dizendo que gostava de escrever. Enviou-me
vários poemas para minha avaliação.
Foi muito agradável. Lendo-o, lembrei-me do grande Manoel
de Barros. Não é uma comparação, todavia ambos amam a Natureza e brincam com a
semântica, com uma liberdade linguística notável e criativa. Outros poemas
foram surgindo, encantando-me sempre.
Aí
aconteceu. Dia 29 de janeiro de
2013, ele lançou seu livro Rabiscos
na Roça (Edição do Autor, São Paulo). Aos poucos fui conhecendo a fonte de
tanta sensibilidade. Nilton é músico, nasceu em Jurucê, filho e neto de
lavradores. Na infância teve, pois, contato com o campo e em 2000 regressou à
vida campestre, como pequeno produtor rural, na região de Batatais.
Ora, o
gênero da poesia alicerça-se na linguagem nova, como eu digo no Prólogo do seu
livro. E continuo: É dar ao conteúdo uma outra roupagem, alimentada
principalmente pela conotação, pelo ritmo. Pode-se perceber de maneira
contundente que Nilton Chiaretti é um verdadeiro poeta. Ele classifica sua obra
como poesia caipira, por várias razões. É um olhar novo para a vida do campo,
seus hábitos, bichos, plantas, sentimentos, sonhos.
Fortemente
telúrico, nosso Poeta, como todo talento verdadeiro, apresenta características
muito suas. A principal é a liberdade da linguagem. Surge um festival de
neologismos: Palavrear, avoar, aventar, luou, enluada, embandeiradas. Ele
brinca com os verbos e às vezes usa, com liberdade, a linguagem coloquial.
Ainda do
Prólogo: Lendo alguns poemas de N.C., experimento a impressão de que ele tem
uma visão transformadora, com uma pureza intocada, que o faz ver mais longe, na
essência das coisas. Nos seus temas variados, na descrição da vida e dos
hábitos do campo, descobre-se um mundo mágico, às vezes através de uma visão
microscópica enriquecida de cores e cheiros, em belas sinestesias.
Nilton Chiaretti,
em seus poemas, emprega uma linguagem figurada riquíssima, repleta de sinestesias,
hipérboles e personificações. Seus neologismos são abundantes. Usa,
deliberadamente, as corruptelas “ prá”,
“pro” , que realçam o coloquialismo, mas
também há textos filosóficos e emprega termos eruditos, como “ síncrono” (pág. 26). O lirismo e o erotismo
surgem com muita delicadeza, assim como algumas pitadas de ironia
Sem
exagero, às vezes sua linguagem lembra a de Guimarães Rosa. Há uma grande
riqueza e comparações, histórias de amor, temas do dia-a-dia do campo, vários
poemas narrativos, como Céu (pág.82), deliciosa estória metafísica. No último
poema do livro Rabiscos na Roça, há uma alusão ao Autopsicografia, de Fernando Pessoa; Nilton
usa então a figura da preterição. É uma declaração de amor à sua verdadeira
musa. Ele e o famoso autor do
Cancioneiro inspiram-se nas poesias líricas medievais, portuguesas e
espanholas. Nessa tradição poética há grande realce do ritmo e da métrica; há
tanta harmonia, que são verdadeiras letras de música.
Poder-se-ia
ainda enfatizar a beleza no fechamento perfeito da obra de Nilton Chiaretti,
assim como nos versos famosos do grande bardo português. Os dois poemas falam
do porquê se escreve e da inspiração, de sua cosmovisão e da visão de mundo dos
dois Poetas.
Muito bom! Logo procurei saber que é Nilton Chiaretti. Encontrei-o. Que bom! Assim como gosto muito do Manoel de Barros, vou pesquisar mais sobre ambos. Vivi algum tempo da infância em uma fazenda, gosto muito de escrever, principalmente frases, viajar nas ideias, que ainda não são palavreadas.Obrigado pelo seu belo texto.
ResponderExcluirElvio Antunes de Arruda
Elanklever
Caro Élvio,
ResponderExcluirObrigada pela visita ao meu Blog. Você já viveu no campo, gosta de Manoel de Bsrros, de ler e de escrever. Logo teremos um novo poeta por aqui.
Abraço.
Ely