domingo, 17 de novembro de 2013

PREMONIÇÕES

PREMONIÇÕES                            
                     Uma forte emoção na infância ou na adolescência pode influenciar ou tornar-se realidade, na idade madura? O que move essa força, como entender o mistério?
                     Desde que aprendi a ler, não parei mais. Era como se um dínamo me movesse. Dentre as dezenas de livros infantis que li, quando menina ainda, a história da Sereiazinha, de Hans Christian Andersen comoveu-me de tal maneira, que parecia um aviso.
                     A pequena Sereia apaixonou-se por um Príncipe que ela salvou da morte, em um naufrágio. A criaturinha só poderia ser feliz se, com uma poção mágica, trocasse a cauda pelas pernas, tornando-se humana; mas assim sofreria o castigo de ter dores atrozes, como se andasse sobre facas. Tudo fez para viver um grande amor.
                     Aos dez anos e na adolescência reli muitas vezes a linda estória e chorava rios de lágrimas. Por que esta estória me comovia mais que outras? Simbolicamente, era uma premonição, um aviso?
                     Talvez haja uma explicação mais científica para, bem mais tarde, eu sofrer tanto dos pés.         Toda minha família, do lado espanhol, experimenta tal desgraça. Aventou-se até a hipótese de ser uma síndrome comum entre os da raça espanhola, com todo tipo de mazela: má formação dos pés, calos, o pisar meio torto e defeituoso, piorando com a vinda dos anos, uma lástima.
                     Um dia alguém me disse algo bizarro, mas interessante, sobre o problema: pessoas do signo de Sagitário sofrem das patas... Sempre tento confirmar tal teoria. Ela parece verdadeira.
                     Voltemos à Sereiazinha de Andersen. Ela, no final, foi feliz, sacrificou-se, mas experimentava dores terríveis nos pés e nas pernas. Tive este destino, não por conta do amor, mas de Cronos, carrasco inexorável. Mas já na minha juventude, quando cursava o chamado Clássico, no Otoniel Mota, quiseram aproveitar, em vão, minha altura: logo eu saia da quadra, de padiola, com tendões arrebentados. Aliás, a Educaçáo Física, na escola, era meu pesadelo.
                     Assim foi a vida toda. Detesto todo tipo de esporte. Certa vez, o médico pediu que eu fizesse hidroginástica. Tentei. Era uma turma de velhotas. Eu entrava na piscina e enquanto o Instrutor ensinava vários movimentos, eu boiava deliciosamente, quieta, com meus pensamentos. A experiência durou pouco. Havia uma mulher, ainda mais velha que eu; ela era uma delatora e gritava: Olhem, ela não está fazendo os exercícios! Ralhei com ela: Não tem vergonha de ser um alcaguete? Aborreceu-me ir ali duas vezes por semana, perder tempo. Saí, porque outra coisa que eu detestava era, na hora da chuveirada, nos banheiros sem porta, ver aquela velharada nua, com as pererecas de fora. Um horror!
                     Retornemos à Sereiazinha. Por que eu sofria tanto com a história?  Seria premonição? Mistério. Pela vida toda tenho tido experiências estranhas: sonhos, pesadelos, avisos, como se eu fosse uma Sibila. Disseram-me que eu tinha mediunidade e que devia desenvolvê-la. Nada fiz. A vida tem mistérios demais. Para que mexer com o desconhecido de outro plano?
                     Precavida ou covarde? Nem questiono a resposta. Sou cautelosa e prática. Melhor cuidar dos assuntos aqui de baixo.

                     

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