Muitas vezes já surgiram questionamentos sobre os gêneros literários, por que grandes editoras preferem o romance ao conto, para publicação e dificilmente editam poemas. Poesia vende pouco? Hoje estaria diminuindo o interesse pela poesia? Como estimular nos leitores, principalmente nos jovens, o gosto pela leitura de poemas?
É muito raro surgir um consenso sobre tais dúvidas. Na realidade, o problema é muito mais amplo e algo globalizado. Detectar causas, encontrar soluções é meio utópico. Seria necessário um estudo mais cuidadoso.
Hoje, com a televisão, a cibernética, a era da comunicação direta e objetiva, parece não haver mais lugar para a POESIA (em todos os sentidos; falamos, no entanto, aqui, de Poesia escrita). Assim devem pensar os editores, grandes empresários, que poesia não é comerciável, não vende bem, daí a enorme dificuldade de se publicar um livro de poemas. O problema não é novo. Carlos Drummond de Andrade publicou seu primeiro livro, “Alguma Poesia”, em 1930, com edição facilitada pela Imprensa Oficial do Estado, mediante desconto na folha de vencimentos do funcionário... Em 1934, publica “Brejo das Almas” (200 exemplares) pela Cooperativa “Os Amigos do Livro” e em 1940, “Sentimento do Mundo” (150 exemplares, que são distribuídos entre os amigos). Somente em 1942, quando o poeta tem quarenta anos é que se dá o aparecimento de “Poesias”, pela Editora José Olympio, a primeira a custear a publicação dos seus livros. O mesmo aconteceu a vários poetas famosos, como Manuel Bandeira, que também pagou pela edição do seu primeiro livro “A Cinza das Horas”. O problema se arrasta até hoje, mas os poetas, como criaturas vocacionadas e renitentes, teimam em ofertar aos homens seu mundo mágico, captando belezas que só eles podem perceber, acordando sensibilidades, indo além da superfície das coisas.
Não existe quem não goste de poemas. Há os que não os entendem, não foram iniciados ainda, dormem o sono letárgico, mergulhados no materialismo das coisas práticas, dos interesses econômicos, do trivial, do terra-a-terra, Sancho Pança que são.
O poema é escrito em linguagem conotativa, figurada e ele diz sempre muito mais do que o significado primeiro. É uma plumagem nova das palavras, um enfoque mais metafísico, mais profundo. Tomemos alguns versos de Drummond, do poema “Rola Mundo”, no livro “A Rosa do Povo” (1943-1945):
“Como vencer o oceano / se é livre a navegação / mas proibido fazer barcos?”
Uma possível interpretação é: como o homem pode vencer as grandes e abissais dificuldades da vida, concretizar sonhos, se, aparentemente, ele é livre, no entanto, todas as leis da sociedade e o superego o tolhem, o prendem? É o grande paradoxo. A realização completa não existe. Sua liberdade é uma falácia. Os poetas inventam saídas: criam Pasárgadas, poemas que realizam a catarse deles e de todos os que os leem.
Assim, os poemas são bálsamos, embelezam o mundo, tornam a vida mais excelsa, porque a verdade é insofismável: a existência humana sem lirismo, sem poesia, é granito, espinho, fel, como denuncia o Mago de Itabira:
“Chegou um tempo em que não adianta morrer. / Chegou um tempo em que a vida é uma ordem. / A vida apenas, sem mistificação”.