segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

OS LEITORES E SEUS MISTÉRIOS


OS LEITORES E SEUS MISTÉRIOS

                Na Mitologia Grega, Cronos é o líder e o mais jovem da primeira geração dos Titãs; descendente de Gaia, a Terra e Urano, o céu, tem uma das mais incríveis histórias. Não é casual que seja o deus do Tempo. Na sua biografia conturbada, por ambição ao poder, ele trai e castra o pai e engole seus filhos. O que faz o Tempo com os seres humanos? Devora nossa força, a beleza, a pele fresca, o brilho dos olhos, a capacidade de sonhar. Raras são as pessoas maduras que conseguem preservar algo da mocidade, principalmente o otimismo.  Muitos são tomados pela obsessão do saudosismo, vivendo do passado.
                Já critiquei certos escritores da velha geração, porque em seus artigos recentes, seus temas falam, quase sempre, de sua adolescência e de sua mocidade. Felizes aqueles poucos que conseguem viver o presente com alegria, amar a vida do aqui e agora. Eu tento, todavia, de vez em quando, caio em algum inesperado alçapão.  Há poucos dias, pesquisando dados para um artigo sobre a Cultura de Ribeirão Preto, busquei um texto no qual eu mencionara duas figuras de grande importância cultural na Cidade: Vicente Teodoro de Souza e Mário Moreira Chaves.        Recorrendo aos Cadernos mimeografados da época ( tempo antes do Computador), levei um susto. Examinando os Documentos, localizei o  mencionado artigo de l988; levada pela curiosidade, abri dois Cadernos de dois anos antes e encontrei uma chamada do Jornal A Cidade, do dia 10 de maio de 1986, falando do início de minha Coluna Literatura Hoje e Sempre, que versaria sobre assuntos  literários em geral e comentários de livros.
                 Deu certo, a Coluna atraiu muitos leitores e assim foi até o final de junho.  Dia 29 do citado mês, resolvi ousar e fazer uma experiência. Publiquei um poema de minha autoria: Oração aos Solitários. Foi um sucesso, recebi vários telefonemas pedindo que publicasse outros textos pessoais,
 em prosa e verso. Era uma libertação. Naquele espaço, desde então, eu poderia escrever sobre temas variados, não só críticas literárias.   Saíram, na época, a Carta Aberta às Mulheres e a Carta Aberta aos Homens. Daquele dia em diante, fiquei em casa, muito à vontade, publicando temas vários, críticas de livros, comentários dos assuntos mais diversos.   
                Hoje, escrevendo no Caderno C, desde seu início, mais do que nunca, então, impressionam-me os Leitores e seu mistério. Quem escreve, crônica, conto,  artigo ou livro, jamais sabe como será recebido. E mais; às vezes, um texto que o autor aprecia, nem sempre cai no agrado dos leitores. Também acontece o contrário.       
                Com os livros é idêntico. Meu pobre romance epistolar Cartas a Cassandra, por ser meio inusitado e um dos primeiros do gênero, no Brasil, ganhou Prêmio, foi elogiado por Críticos exigentes. Quando ia publicá-lo, não tinha ainda amizade com o grande escritor José Castello. Ousei então mandar-lhe os originais, perguntando-lhe se ele faria o Prefácio do livro.  Ele disse que ia lê-lo e se gostasse, faria o Prólogo. Gostou e muito. Prefaciou a obra.  Pois meu pobre livro já foi repudiado por leitores pudicos, tachando-o  de imoral e até pornográfico... Em compensação, grandes escritores como Pedro Bandeira e outros  elogiaram-no com entusiasmo.
                Assim, escrever é um perigo, é ter sempre a Espada de Dâmocles sobre a cabeça. 

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