segunda-feira, 11 de julho de 2011

O BAOBÁ

           
As árvores são fascinantes. Ornamentais ou frutíferas, altas, esguias ou arredondadas e generosas, todas têm um donaire que atrai e encanta.
            A primeira vez que ouvi falar nos baobás, foi no livro de Antoine Saint-Exupéry, a famosa obra, “O Pequeno Príncipe”.  O Principezinho tinha cuidado e arrancava todos os brotos de baobás, para que eles, ao crescer, não tomassem conta de seu Asteróide, tão pequeno. Na história,  pela força e pujança, os baobás simbolizam os vícios, que podem se apoderar da alma. Dizem que ao passar por Recife, Saint-Exupéry inspirou-se nos baobás, citando-os na sua obra famosa, pretensamente escrita para crianças.
            Na realidade, o baobá (ximbuio, ou ximbuo), é uma árvore muito útil. Na Austrália, os aborígenes comem sua fruta e usam as folhas como planta medicinal. No candomblé é considerada uma árvore sagrada, que nunca deve ser cortada ou arrancada. Na África, o baobá (adansônia) tem oito espécies nativas, atingem de cinco a vinte e cinco metros de altura, excepcionalmente até trinta, com sete metros de diâmetro: são usadas para armazenamento de água dentro do tronco, com um volume aproximado de cento e vinte mil litros. É a árvore nacional de Madagascar e emblema nacional do Senegal. No Brasil, há poucos baobás, trazidos pelos sacerdotes africanos, plantados em locais específicos para cultos religiosos. Ao sair de suas terras, os negros deviam rezar ao redor dos baobás e esquecer sua história. O culto é muito expressivo e profético, diante das desgraças futuras.
            Em um excelente texto sobre o consumismo, Amos Oz, escritor israelense atual, denuncia a erosão da nossa memória, como uma das características do mundo moderno. Perde-se a consciência. É algo globalizado.  Vivemos incensando valores efêmeros, em uma inversão desastrosa.  Em Ribeirão Preto, os prédios tombados viram ruínas, quando não são destruídos para dar lugar a monstros de concreto, arranha-céus materialistas, com objetivos mercantilistas.             Melancolicamente, relembro “meu baobá” da Praça XV, esquina da General Osório com Visconde de Inhaúma. Garboso, em sua majestade verde, encantava-me. A prima ecológica veio de Cruz Alta, no sul, para fotografá-lo, a preciosidade de Ribeirão Preto. Um dia, a esquina apareceu vazia e pobre. Erradicaram o belo baobá, doente talvez, por falta de cuidados.
             Fico a pensar que talvez sejamos baobás da existência, tentando ajudar, proteger, como essas árvores sagradas, mas nem sempre o conseguindo. A diferença é que os baobás têm mais tempo. Nós somos fugazes, com contratos variados, cujas cláusulas desconhecemos. Um dia, sem aviso prévio, a viagem chega ao fim. A temática sempre me atraiu. É fruto dela, meu poema, escrito em 89: “A morte é prostituta / que agrada seu freguês, / interessada na barganha. / Cruel, às vezes, temperamental, / sádica, cobrando altos juros, / exigente, sem aceitar aval. / Vem, também a prestações, / de longo prazo a pagar. / Ou então rápida, distraída, / pegando o mutuário na saída / de uma festa, início de sonho”.

3 comentários:

  1. As mãos de Deus semeiam, as do homem destróem.
    Minha terra tem palmeiras mas são poucos os sabiás.
    O homem, gado marrano, tem conseguido extirpar uma floresta riquíssima das mais variadas espécies, afugentando seus pássaros, ceifando as variadíssimas árvores, contaminando e poluindo suas águas preciosas.
    Até os baobás, com seu tamanho abissal, cujo foco fora inspiração literária, não estão ficando imunes!
    A natureza, com sua teimosia espontânea, volta das cinzas e mostra ao seu predador racional, sua virilidade continuada.

    Aparecida

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  2. Querida Ely,

    Será que a morte existe mesmo? Deixemos à margem questões religiosas e pensemos somente no fluxo, na passagem. Será que o doído é mesmo deixar esse mundo ou abrir mão das memórias, zerar o cronômetro, não-saber, nós, tão escravos da nossa mente? Porque, para além do corpo e da mente, ainda sobreviverá o amor...

    Nívea Braga

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  3. Saudade do baobá da Praça XV...

    Lembrei-me dos orientais, da bela e sábia cultura milenar, da árvore Bodhi, espécie de figueira sagrada, onde o buda se sentou e entendeu sobre o nascimento, sofrimento, morte e renascimento...

    E a linda Sakura, no Japão, o breve florescimento da flor de cerejeira, que simboliza a efemeridade da vida terrena...

    Simbologia das árvores, algo a pensar muito, sentir, interpretar, transcender...

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