terça-feira, 2 de agosto de 2011

CHÁ LITERÁRIO

CHÁ LITERÁRIO

            O convite veio de Rita Mourão, uma das melhores poetisas de Ribeirão Preto. Um Chá Literário, às dezesseis horas, em plena sexta-feira! Ainda mais: só para mulheres sensíveis, que amam e fazem Literatura. Uma das finalidades seria mostrar-nos os mais de cem troféus nacionais e internacionais que ela ganhou em concursos literários.
            O mais pitoresco: presentear-nos com sua magia de quituteira das Minas Gerais. Rita é de Piumhi, perto de Capitólio, região pitoresca nas margens do Lago de Furnas. O que levar para uma poetisa, que eu nem sabia ser feminista, que convidou apenas mulheres para uma reunião?  Lindo seria oferecer-lhe, por exemplo, o entardecer poético de Belo Horizonte, a Cidade das Alterosas, rodeada de montanhas. Ou as quedas prateadas das cascatas de Tombos de Carangola... Talvez paisagens das Cidades históricas... Todavia, eu lhe levei flores. O interessante é que todas as convidadas, porque escritoras de grande sensibilidade, tiveram a mesma ideia.
            A casa rósea de Rita Mourão virou um jardim repleto das mais variadas flores coloridas. Um poema vivo. A chegada de cada convidada era uma festa de abraços ungidos da mais pura amizade. Havia uma grande alegria no ar, prometendo momentos de lirismo.
            E aí, meu Deus! A mesa! Café, chá, refresco de abacaxi com hortelã. As guloseimas eram tantas e tão apetitosas, que os olhos comiam antes da boca: a torta de frango doirada e macia, os pães-de-queijo mornos, atraentemente apetitosos, um bolo belíssimo, fofo, cheiroso, com o nome discreto de Bolo Caseiro. O contraste da crosta amarronzada realçava a contextura doirada, onde a faca deslizava docemente... À direita, uma inacreditável Caçarola Italiana, pudim meio mítico, que sempre me encantou desde a infância. Beringelas picadas, com tempero delicioso, convidavam.
            Durante quase uma hora, cessaram as conversas literárias e houve um silêncio respeitoso e quase sagrado, para o ágape: banquete de confraternização por motivo poético. As flores coloridas emolduravam o local, perfumando. Seu olor, misturado ao cheiro bom que emanava da mesa, santificava o local. Lembrei-me da filosofia indiana: a comida deve ser deliciosamente poética e perfumar a boca.
            Após, tiraram-se fotos, comentaram-se novidades, algumas literárias, outras meio indiscretas, comme Il faut. As convidadas riam, como elas riam!, soltas, felizes, à vontade, naquela reunião íntima e deliciosa. Todas pareciam mais jovens, mais belas, contaminadas pelo ambiente. É como disse mestre Guimarães Rosa: mesmo que não se perceba, há sempre um mistério que não se está vendo.
            Como nas histórias mágicas, às dezoito horas os relógios avisaram. Era o momento das poetisas voltarem a ser esposas, mães, filhas. Os maridos, as casas, os filhos, os mais variados deveres chamavam. Todas se despediram, encantadas com o Encontro.
            Fui uma das últimas a sair. Quando abracei Rita Mourão, senti uma sensação forte de quem se despedia de uma vestal, de uma mulher mágica que teve uma ideia brilhante: propiciar um oásis poético de duas horas, para algumas criaturas eleitas. Puro lirismo dessa mineira que é poesia viva.


           

7 comentários:

  1. Ely,

    Conheço a Rita Mourão desde os tempos do Grupo Flamboyant. Depois acompanhei os lançamentos dos livros dela. Tive o privilégio de fazer a "orelha" de um deles. Não conheço ainda o último livro dela, mas tenho tido a bênção de ela me mandar alguns poemas escritos praticamente em primeira mão. Surpreendentemente, tudo que ela escreve mantém o nível alto das primeiras poesias. A Rita é de uma uniformidade absoluta em tudo que escreve, sejam poemas mais longos, sejam trovas, seja prosa.
    Afora a poesia de seu texto, ela é - como você o disse - poesia pura. Uma criatura encantadora! Dessas que quando a gente ama, é pra valer e é para sempre. A Rita ocupa um lugar especial em meu coração. Felizes aqueles que podem privar de sua amizade.
    Quem sabe um dia não volta para Ribeirão Preto, "de mala e cuia" como gosta de dizer o mineiro, e poderei curtir um poucomais desta poesia viva - a nossa Rita.

    Waldomiro

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  2. Estive lá com vocês agora em pensamento. Provei os quitutes, viajei nas conversas, transportei-me de mala, cuia e queijo minas para o ambiente encantador. Adoro esses regatos por onde a poesia flui, doce e bela. Conheci Rita pelo texto e o comentário acima, e li a poesia que há nela nas entrelinhas do seu texto. Obrigada!

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  3. Não há prazer maior que uma reunião de amigas, quer da infância, faculdade ou trabalho. E a emoção torna-se maior quando o tempo as separa do convívio.
    Quanta expectativa! Quantas histórias na hora do encontro! Este, por natureza, fica mais elegante quando uma delas coloca à disposição sua casa, seu templo.
    Saber receber é uma arte. Os detalhes minuciosamente escolhidos: a mesa bem posta, as flores bem distribuídas, a toalha da mesa de linho, as chávenas, o chá, o bolo, as bolachas, o chocolate. Tudo isso tem toque especial de uma anfitriã elegante e delicada.
    Esses encontros deveriam acontecer com mais frequência!

    Aparecida

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  4. CHÁ LITERÁRIO


    Foi esse o nome criado pela escritora Ely Vieitez Lisboa para descrever um encontro de amigas em minha casa. Fiz o convite e todas, gentilmente aceitaram. A tarde era de encantamento, poesia, amizade. Pairava no ar uma atmosfera mística em que cada amiga era um poema vivo pronto para ser lido silenciosamente, com os olhos da alma. Senti-me uma Cinderela, protegida por várias madrinhas.
    Ely, como sempre, elegante, amante da literatura, fez questão de relatar o encontro
    em sua crônica pelo jornal “A cidade.” Ah, meu Deus, e como ela o fez com desenvoltura e propriedade de palavras! “Só mesmo você, Ely, com um domínio literário sem barreiras poderia transformar um encontro entre amigas em um texto profundo, poético”. Você não só me trouxe flores, trouxe-me (assim como todas as companheiras de sonhos) os amanheceres das Alterosa e todo o encanto das cascatas das Minas Gerais. É nesses momentos místicos em que as fantasias dominam que desperta em mim uma nova mulher a correr atrás dos sonhos latejantes de poesia!Esse encontro veio mostrar-me o poder e a magia das grandes amizades. Sei que posso caminhar sem medo, tenho mãos que me reerguerão se por ventura eu vier a tropeçar
    Obrigada a todas as amigas com quem compartilhei esse momento.
    Rita Mourão

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  5. No último sábado, dia 6, passei horas prestimosas ao lado de Rita Mourão, na Casa do Poeta. Ficamos a abrandar a tarde com uma comunhão poética digna de quem se admira mutuamente. E até Lupicínio Rodrigues entrou na na nossa conversa, quando eu e Rita nos pasmamos ao ouvir sua poesia de tamanho quilate: " O pensamento parece uma coisa à toa / mas como a gente voa / quando começa a voar". E assim foi, eu e Rita na Casa do Poeta e uma tárde mágica.

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  6. Querida Nívea,
    Alguém chamou o Chico Buarque de Demiurgo do Cotidiano, pelas letras magníficas como Valsinha e/ou Construção. Lendo seu Blog vi que o epíteto pode aplicar também a você, que faz boa literatura do nada,dos temas mais prosáicos.
    Ave, Nívea!
    Ely

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  7. Caro Rossetti,
    Gosto de saber que amigos meus, poetas, se atraem. Você e Rita Mourão. O lirismo é ímã que os une.
    Abraços.
    Ely

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