segunda-feira, 15 de agosto de 2011

SER PAI

SER PAI

         Há uma grande celeuma sobre o valor de costumes antigos e modernos. Não se trata de julgar quais são os melhores, mas parece uma sabedoria inquestionável: retomar os valores bons do passado e adaptá-los ao presente, sempre evitando os exageros e incoerências.
         Não há receita para ser um bom pai, tudo dependerá das circunstâncias, da classe social, da cultura, da situação financeira, mas há condições essenciais, sem as quais não se poderá exercer o papel de pai: o amor, a seriedade, o assumir, a vontade de cumprir sua missão com dignidade.
         É bem verdade que o casamento hoje se tornou um mero jogo de possibilidades, do qual se sai, quando a partida fica sem interesse. Os que adotam tal maneira de ser não deveriam ter filhos. Alguns estão no segundo, no terceiro, no quarto casamento, deixaram pelo caminho uma prole desarvorada, filhos que são oportunidade eficiente para se obter, em princípio, uma polpuda pensão alimentícia. E o hilário é que a justiça brasileira não funciona, é lerda e ineficiente, reina a impunidade. Ela só age quando um pai não paga a pensão dos filhos. É cadeia na certa. Não vamos questionar a validade do fato, mas por que só nesta situação há tanta eficiência?
         Ser pai virou rótulo e há sempre episódios duvidosos dos envolvidos, quando surgem bizarros processos para provar a paternidade de rebentos bastardos.
         Nada de julgamentos superficiais, mas onde está a seriedade, a importância de ser pai? Há duas lições clássicas que não devem ser esquecidas. Ambas estão alicerçadas no valor do exemplo. Ser verdadeiramente pai requer uma série de qualidades, mas nenhuma dará frutos, se não houver o exemplo do pai para que o filho nele se retrate. A primeira asserção é de Padre Vieira: “Palavras sem exemplos são tiros sem bala; atroam mas não ferem”.
         Imagine-se alguém que seja refém de muitos vícios, pregando a virtude. Um pai fraco, confuso, cheio de defeitos, sem capacidade de luta, parco de boas intenções, acomodado, falso, deveria costurar a boca. Seu exemplo vivo já é a mais trágica lição que não deve ser aprendida, é espelho a ser coberto, para que nele não se mire nenhum filho.
         Ratificando as palavras de Vieira, cite-se a afirmação de Pe. Manuel Bernardes. “Não há modo de mandar mais forte e suave que o exemplo: persuade sem retórica, impele sem violência, convence sem debate. Ao contrário, fazer uma coisa e mandar ou aconselhar outra é querer endireitar a sombra da vara torcida”. As duas se completam.
         É bem verdade que o amor é generoso e pode-se até amar a um pai, que é puro falimento, como ser humano. Mas é preciso estar alerta e saber: ele é o antônimo do que se deve ser. É exemplo que não se pode seguir.
         Todavia, quando um pai é realmente pai, forte como um tronco, amigo como um porto, segurança diante das tempestades, guia quando alçapões se abrem à nossa frente, compreensão quando nossos pés resvalam na lama dos desenganos, isto é um pai. Se ele então nos dá lições de amor, de ternura e fidelidade, ser filho se torna privilégio, uma bênção. E então o pai é uma receita da Criação que deu certo, um produto de primeira linha do Fiat divino.
        

7 comentários:

  1. Jugurta de Carvalho Lisboa15 de agosto de 2011 às 16:15

    Minha esposa querida, bom seria se o seu conceito de Pai, como uma receita que deu certo, pudesse ser aplicado a todos aqueles que participaram do lema Cristão de crescei-vos e multiplicai-vos.
    Jugurta

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  2. Acredito que mais do que a classe social ou situação financeira, as circunstâncias em que foi concebida a nova vida fale mais alto no prognóstico para um bom pai. Se por amor e não por acaso, se por amor e não por interesse, se com amor e desejo do casal, aí sim, com dedicação, disponibilidade e compromisso, pode ser que a receita dê certo.

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  3. Querida, no último parágrafo, eu vi nitidamente o meu pai. O homem forte, bravo, corajoso, colo seguro que afastava todos os meus medos. Meu pai era invencível, aos meus olhos de criança. De repente, a gente cresce e nosso herói começa a ficar com os cabelos branquinhos. Os próprios medos dele ficam evidentes e você percebe que ele é tão humano e frágil como qualquer um de nós. Será? Basta o menor revés de nossas vidas acontecer pra ele se apresentar igualmente vigoroso, presente, terno e firme. Somos pais e filhos de nossos próprios pais, isso o tempo tem me ensinado. Obrigada pelo belo texto. Ele também me remete ao meu esposo, que começa a construir essa relação com o nosso pequeno. Com outras nuances, mais leves, menos rígidas, mas igualmente pleno de amor.

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  4. Enquanto o filho é bebê, a atenção paterna é primordial. Não deixar faltar alimento assim como registrá-lo.
    À partir do crescimento do pequeno e quando este em contato com agentes externos como: escola, amigos, sociedade, trabalho, as mudanças vão acontecendo.
    Os jovens vão se enturmando, novos conhecimentos vão sendo expandidos e novos vícios vão sendo disseminados.
    Se o alicerce não for firme, se os perigos não forem sendo apontados, se os valores não forem cultuados, o desastre será inevitável.
    O diálogo entre pai e filho deve ser prioridade. O acompanhamento deve ser constante.
    É preciso que o pai advirta seu filho: trabalho e estudo fazem parte da formação de um cidadão.
    Muito importante é ter em casa os primeiros socorros do amor: fé, respeito e solidariedade.
    Cabe ao pai dar-lhe liberdade mas com as rédeas do controle.

    Aparecida

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  5. Cidíssima, minha querida:
    Gosto muito de sentir sua presença no meu Blog. Continue enriquecendo-o com suas mensagens.
    Ely

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  6. Querida Nívea,
    Você é uma leitora perspicaz que capta sempre a essência primeira dos textos. Será sempre um prazer ler seus comentários.
    Ely

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  7. Querida Mirna,
    Seu comentário é um retrato vivo de sua sensibilidade e de seu espírito prático e científico.
    Beijos.
    Ely

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