segunda-feira, 22 de agosto de 2011

O SILÊNCIO DOS LOBOS

O SILÊNCIO DOS LOBOS
O ser humano é igual em essência e diferente nas suas facetas. Por isso é válido afirmar que somos todos do mesmo barro. A metáfora bíblica é sábia.
É muito comum ao se ler um poema, um texto, alguém dizer: parece que foi escrito para mim. E foi. Drummond vai além. Diz que as alegrias são particulares, as dores , universais.
            Depois dos embates mais terríveis da vida, desenvolvi uma estratégia. Ao receber uma ofensa, quando alguém espumava do ódio, procurando um alvo qualquer, ou mesmo tentando me ferir com palavras cruéis, meu espírito colocava um escudo intransponível e nada me atingia.
            Muitas vezes, as pessoas ficavam chocadas diante de minha serenidade, quando alguém me atacava com acusações infundadas; pessoas amigas, movidas por sentimentos equivocados ou dores atrozes, escolhiam-me, aleatoriamente, como receptáculo do veneno que lhes corroia a alma. Pacientemente, eu as olhava com pena e até com carinho, aceitando sua fúria. Elas precisavam de uma pessoa ali à sua frente, como porto, para suas embarcações desgovernadas.
            Não era uma virtude. Apenas uma tática conseguida com o exercício da vontade. Em geral, os resultados eram bons. O agressor, pretenso inimigo, chocava-se com a serenidade inesperada.
            Cansei. De há muito não precisei usar tal exercício. O amadurecimento propicia paz? É o que chamam de sabedoria, ou apenas a clarividência de optar pelo essencial, ignorando o acessório?
            Enfatizando minha teoria, recebi um pps , pela Internet , com textos interessantes e sábios. A matéria personifica os lobos como criaturas fortes, cheios de poder e  silenciosos. Assim deveriam ser os homens. As reações violentas, as respostas ásperas  são perigosas. O silêncio é uma opção e uma força.
            Ora, a filosofia não é nova. A célebre frase de Xenócrates, filósofo grego, de 300 a.C. , continua válida: Arrependo-me de algumas coisas que disse, mas jamais do  meu silêncio.
            Diante de uma ofensa, de um ataque verbal, o silêncio rechaça o furor com a reflexão. O que se cala, pensa, analisa. Não é movido pela raiva incontrolável. Aliás, a reflexão contida é o antônimo da fúria desordenada. A primeira é filha do raciocínio, a segunda, bastarda do instinto. Uma é humana, a outra, animalesca.
            O raciocínio é simples. Quando se é adolescente, o equilíbrio é difícil, não se é dono das opções, titubeia-se entre o que se quer e o que se deve. Como entender, todavia, o ser adulto que continua refém de suas paixões? Emocionalmente, não se amadurece?
            Na verdade, homens e mulheres são, muitas vezes, instrumentos de cordas, que, ao simples toque, produzem sons belos ou estridentes, harmônicos ou desafinados. Não se sabe se há um grande músico que pode manuseá-los com arte.
            Como somos animais racionais, é preciso usar este privilégio, pró réu. Se permitimos que sejamos reféns de nossos instintos, seremos vassalos e não senhores. A vitória é ascender na Escada de Jacó e não descer aos nossos porões.
            Assim, a descoberta de sermos donos de nós mesmos não é grande, nem a panaceia   para todos os males. Contudo, o silêncio pode ser a arma dos fortes, o exercício para dominar nossas rédeas. Sejamos lobos silenciosos, enfrentando nossas lutas, com dignidade.

3 comentários:

  1. Eterno aprendizado que os anos vão trazendo. Somos o silêncio, em primeiríssima instância. Aprender a encontrá-lo, diante da balbúrdia que o outro traz, é tarefa árdua, porém gratificante. Belo texto, como sempre!

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  2. Minha querida,
    Valeu a pena ter um Blog só para receber sua visita semanal. Suas mensagens são sempre inteligentes e sensíveis.
    Beijos.
    Ely

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  3. Ely, cativar a via do teu silêncio, foi uma arte buscada no teu íntimo como subterfúgio aos ruídos externos.

    Aparecida

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