domingo, 16 de março de 2014

PROPAGANDA & CRIATIVIDADE

PROPAGANDA & CRIATIVIDADE

          Propaganda sempre me fascinou, desde que ela seja perspicaz e inteligente. Tive problemas com ela, no passado.
          A primeira vez, eu dava aulas no Cursinho. Entrei na Sala dos Professores, criticando uma Propaganda de extremo mau gosto sobre oferta de móveis. Um professor abespinhou-se, atacando-me: “Vejo que você não entende nada de propaganda!” E continuou explicando que os móveis oferecidos eram para pessoas de baixa renda.  Eu me rendi e silenciei. Ele devia ter razão. Era o autor da Propaganda...
          Outra vez, chamei a atenção dos alunos para uma Propaganda, com verdadeiro abuso de símbolos sexuais, ao anunciar lençóis. Aparecia um casal fazendo sexo; depois a heroína descia do quarto, para um lanche. Pegava um ovo, quebrava a parte superior e nela surgia a figura de um hímen rompido. Logo em seguida, ela molhava várias vezes, no orifício do ovo, uma torrada de forma evidentemente fálica... Os alunos me criticaram. Eu via coisas demais, inventava...
          Já briguei por causa de uma Propaganda imbecil, que mostrava pessoas idosas fazendo travessuras, como crianças, ou com começo de Alzheimer. Mas sejamos positivos. Há Propagandas inteligentes e criativas, verdadeiras pequenas obras-primas. Quando morei em Paris, antes dos filmes exibiam, durante duas horas, propagandas muito boas, atraentes, em uma sessão que se chamava  Séance,  que atraia  grande público.
Vamos agora para o Facebook, um grande sucesso.  Postam, às vezes, versos, poemas, textos, brincadeiras, com ironia. É um meio de comunicação leve, ameno. Raramente surgem matérias sérias. O espaço é um oásis no deserto da vida moderna, tão conturbada. Se assistimos aos jornais televisivos (é preciso estar informado, dizem...) eles  começam  sempre com  desastres, mortes, violência, prisões. É raro dar uma notícia boa, positiva. Muita gente começa a fugir deles.
Voltemos ao  Facebook. Esses dias, alguém postou algo muito inteligente, fazendo a paráfrase da famosa frase de  Descartes: “Penso, logo existo”. O cartaz dizia: “NÃO PENSO. NÃO EXISTO. SÓ ASSISTO”. Genial! Haverá uma crítica mais sintética, sábia e ferina contra a alienação, alimentada pela  Televisão,  com  seus  programas  escusos? A assertiva final, com o verbo assistir, após duas negativas, denuncia uma realidade terrível e perigosa, expressando em duas  palavras, mencionando  um  grande  problema universal, efeito  “dangerosíssimo”, como diria  Drummond, de  um problema  atual:  a  má  qualidade  da  Programação da TV,  em  geral,  quase na  sua  totalidade,  é  a  causa  maior (e globalizada!)  de  um hábito  que  robotiza  o homem, coisifica-o,  o  imbeciliza e  aliena.
É  uma  denúncia séria, verdadeira  e  preocupante.  Infelizmente¸ a profilaxia é utópica.  Só há dois antídotos para essa chaga moderna: uma Programação de qualidade e educar os telespectadores para que tenham mais bom gosto e abominem esse  fast  food  diário, que os  alimenta.
Sabe-se que mudanças estruturais e profundas necessitam de homens  corajosos  e  bem  intencionados, não  de quem  só  se  preocupa  com  o Ibope  de  uma  plateia  ingênua,  acomodada,  pouco exigente e,  aos  poucos,  reificada. O telespectador acaba virando um autômato, coisa, transformando-se em um mero e pálido  simulacro  de  um  ser  humano.
  Há


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