PROPAGANDA & CRIATIVIDADE
Propaganda sempre me fascinou, desde
que ela seja perspicaz e inteligente. Tive problemas com ela, no passado.
A primeira vez, eu dava aulas no Cursinho.
Entrei na Sala dos Professores, criticando uma Propaganda de extremo mau gosto sobre
oferta de móveis. Um professor abespinhou-se, atacando-me: “Vejo que você não
entende nada de propaganda!” E continuou explicando que os móveis oferecidos
eram para pessoas de baixa renda. Eu me
rendi e silenciei. Ele devia ter razão. Era o autor da Propaganda...
Outra vez, chamei a atenção dos alunos
para uma Propaganda, com verdadeiro abuso de símbolos sexuais, ao anunciar
lençóis. Aparecia um casal fazendo sexo; depois a heroína descia do quarto,
para um lanche. Pegava um ovo, quebrava a parte superior e nela surgia a figura
de um hímen rompido. Logo em seguida, ela molhava várias vezes, no orifício do
ovo, uma torrada de forma evidentemente fálica... Os alunos me criticaram. Eu
via coisas demais, inventava...
Já briguei por causa de uma Propaganda
imbecil, que mostrava pessoas idosas fazendo travessuras, como crianças, ou com
começo de Alzheimer. Mas sejamos positivos. Há Propagandas inteligentes e
criativas, verdadeiras pequenas obras-primas. Quando morei em Paris, antes dos
filmes exibiam, durante duas horas, propagandas muito boas, atraentes, em uma sessão
que se chamava Séance, que atraia
grande público.
Vamos agora para o Facebook, um grande sucesso. Postam, às vezes, versos, poemas, textos, brincadeiras,
com ironia. É um meio de comunicação leve, ameno. Raramente surgem matérias
sérias. O espaço é um oásis no deserto da vida moderna, tão conturbada. Se
assistimos aos jornais televisivos (é preciso estar informado, dizem...)
eles começam sempre com
desastres, mortes, violência, prisões. É raro dar uma notícia boa, positiva.
Muita gente começa a fugir deles.
Voltemos ao
Facebook. Esses dias, alguém postou algo muito inteligente, fazendo a
paráfrase da famosa frase de Descartes:
“Penso, logo existo”. O cartaz dizia: “NÃO PENSO. NÃO EXISTO. SÓ ASSISTO”.
Genial! Haverá uma crítica mais sintética, sábia e ferina contra a alienação,
alimentada pela Televisão, com
seus programas escusos? A assertiva final, com o verbo
assistir, após duas negativas, denuncia uma realidade terrível e perigosa,
expressando em duas palavras, mencionando um
grande problema universal,
efeito “dangerosíssimo”, como diria Drummond, de
um problema atual: a
má qualidade da
Programação da TV, em geral,
quase na sua totalidade,
é a causa
maior (e globalizada!) de um hábito
que robotiza o homem, coisifica-o, o
imbeciliza e aliena.
É uma denúncia séria, verdadeira e preocupante.
Infelizmente¸ a profilaxia é utópica. Só há
dois antídotos para essa chaga moderna: uma Programação de qualidade e educar
os telespectadores para que tenham
mais bom gosto
e abominem esse fast food
diário, que os alimenta.
Sabe-se que mudanças
estruturais e profundas necessitam de homens
corajosos e bem
intencionados, não de quem só
se preocupa com o
Ibope de
uma plateia ingênua,
acomodada, pouco exigente e, aos
poucos, reificada. O
telespectador acaba virando um autômato, coisa, transformando-se em um mero e
pálido simulacro de
um ser humano.
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