quinta-feira, 15 de setembro de 2011

A VISITA DO POETA

A VISITA DO POETA
            De vez em quando minhas raízes mineiras revivem, a mineirice e a famosa desconfiança diante de modernidades. Custo a usar portas pelas quais multidões já entraram. Depois de muito assuntar, acabo aderindo. Foi assim com meu Blog, que nasceu em julho deste ano. Até o computador. Faz pouco tempo que ousei.
            Se eu soubesse das visitas que receberia, do contato de pessoas queridas e/ou desconhecidas que vieram até mim, teria começado mais cedo. É belo o eliminar de distâncias, o correio virtual que abre caminhos. Desde adolescente, eu amava escrever cartas. Comunicava-me com vinte, trinta pessoas, do Brasil e do exterior. Missivas longas, repletas de entusiasmo.
            Não é casual que amei conhecer Madame Sévignê (Marie de Rabutin-Chantal), a Marquesa de Paris do século XVII, na minha juventude, quando cursava a Faculdade, em Belo Horizonte. Ela passou à história das letras francesas, graças à correspondência que manteve com sua filha, residente em Provença. A criatividade, o estilo único que lembra mais um jogo literário, as cartas de Me. Sévignê são verdadeiras crônicas da Corte de Luís XIV.
            Comecei então, na época, brincar com seu estilo, com cartas de várias páginas, mais uma conversa escrita; às vezes, só no final, nas últimas linhas, iam as notícias mais importantes. Impossível, hoje, brincar de Me. Sévignê. Estamos na era da Comunicação, do Twitter, com apenas cento e quarenta toques, da síntese, dos torpedos, dos pequenos e-mails com linguagem estropiada, coloquialismos, abreviações.
            De repente, deu-me vontade de criar um Blog. Ele seria sério, com a finalidade de uma comunhão literária entre os visitantes. E deu certo. Recebo recados de Brasília, de Bagé, na divisa do Uruguai, de Ribeirão Preto e de outras plagas. Portam comentários que são verdadeiros presentes. Em agosto, recebi um e-mail belo do jornalista e poeta João Augusto. Não o conheço; ele deve ser jovem, é gentil e, na sua mensagem, fala do seu segundo livro “Sem a sombra de um guarda-chuva”, da Editora Scortecci, obra a ser lançada em outubro.
            O prólogo do livro é poético. O poeta fala de si, com  a profundeza e sinceridade de quem sempre busca: “Se não sou o que me agrada, não me desencanto comigo. (...) O real não caminha pelas ruas,  não é visto à luz do dia. Mas ao sol sombreado das letras que gotejam no papel em branco. (...) Viver ainda é a arte de sentir, e não há razão para mais nada”. Pura filosofia e a valorização da criação literária.
            Seguem alguns poemas seus, que me encantaram. O primeiro e o que traz o título “Errata” são uma verdadeira Profissão de Fé, que muito ensinam, inclusive, desvendam o conhecimento linguístico do poeta. Há estrofes curtas, sintéticas que abordam os grandes mistérios e as dúvidas metafísicas eternamente sem respostas. Elas alimentam os sonhos, às vezes a razão maior do viver. Realmente os poetas são filósofos sábios e ousam tentar entender.
            O poema “Miséria” é um grito que alude à guerra eterna dos poetas com a palavra. Ela trai, esquiva-se, falseia. A sensibilidade do poeta tenta, com dificuldade, concretizar em palavras suas dúvidas abissais, seus medos, suas perguntas sem respostas.
            Muito prazer, grande Poeta João Augusto. Outras almas sensíveis e conturbadas seguirão sua luz. Esta é uma das mais belas missões dos poetas.
  

7 comentários:

  1. Querida Ely,

    Coração aquecido com suas palavras. Foi um abraço de que precisava.

    Não trato a poesia. É ela quem me trata, minha terapia, minha cura, num horizonte ainda distante.

    Você é graciosa, doce e generosa. Assisti a um simpósio de literatura, no colégio Auxiliadora em 1996, se não me engano, com você e Pedro Bandeira. Foi neste ano que comecei a me interessar por escrever.

    Lembro que naquele dia você perguntou ao público, formado mormente por professores, o que era aforismo, e, como todos silenciassem, eu ergui a mão para responder.

    Não sei se sou jovem. Tenho 37 anos de idade, mas não conto assim. 30 deles vividos aqui em Ribeirão. Nasci em Bebedouro, e continuo a nascer todos os dias, pois faço versos como quem morre, tal qual Bandeira. E também não me interesso por lirismo que não seja libertação (idem).

    Você é uma janela de liberdade, de olhos para uma rua cheia de encantos. De saias rodadas ao sol.

    O prazer é meu, Poeta, Escritora, Professora e Baluarte da Literatura.

    Muito obrigado, Ely.

    João Augusto

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  2. Alguns escritores adentraram na carreira em tenra idade. Citamos como exemplo Álvares de Azevedo (romântico brasileiro), Thomas Chatterton (escritor inglês de 17 anos), Rimbaud (autor francês), Sacha Sperling, (francês) garoto de 16 anos. Será que estes citados tiveram uma professora como Ely Vieitez Lisboa? Eu tive este privilégio mas João Augusto foi mais além. Tornou-se um excelente Poeta. Veja o que diz o escritor Rubem Alves:

    “O educador diz: veja!
    – e, ao falar, aponta.
    O aluno olha na
    direção apontada e
    vê o que nunca viu.
    Seu mundo
    se expande.
    Ele fica mais
    rico interiormente...
    E, ficando mais rico interiormente, ele
    pode sentir mais alegria
    e dar mais alegria,
    que é a razão pela
    qual vivemos".

    E foi assim que João Augusto colocou em prática o que viu: uma professora didática, dona de um extraordinário poder de persuasão e com uma voraz capacidade de estimular futuros talentos.

    Abraços a ambos,

    Aparecida

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  3. Cidíssima e Jõao Augusto,
    Vocês são muito generosos ao achar que pude influenciá-los.Há algo que professor algum pode dar ao aluno: é o TALENTO. Isto é dom prório de vocês.
    Beijos.
    Ely

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  4. Querida Ely,

    Sempre que leio seu blog sinto o mundo mais bonito e a vida se mostra mais amena. Ah! poetas... vocês usam a palavra como uma varinha de condão!

    Beijos com muita saudade.

    A amiga e admiradora Iêsa

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  5. Querida Iêsa,
    Vale a pena ter um blog e receber visita de uma mulher sensível, brilhante e notável como você.
    Beijos.
    Ely

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  6. Querida Ely,

    Gosto tanto de blogs que meu mestrado perpassou esse universo. Dentre tantas definições, aporias e hipóteses, agrada-me muito a ideia de que os blogs também são a versão eletrônica dos antigos diários, onde eram guardados segredos e impressões. Estes, quando pertenciam a adolescentes, eram róseos e com cadeados. Os que pertenciam a poetas, como você, provavelmente eram verdadeiros livros, guardados a sete chaves. Que bom que os cadeados foram para o espaço e podemos todos fazer "leituras de mesa" de nossos sonhos, desejos, anseios e afins! Grande beijo e obrigada por compartilhar esse espaço conosco!

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  7. Cidíssima, querida, alegria ter recebido suas palavras, como abraços que fortalecem. Apenas no começo do caminho. E espero seguir começando, sempre. Pois, se me pegar maduro, resta a mim cair e apodrecer. Comecemos eternamente.

    João Augusto

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