sábado, 30 de março de 2013

O SENHOR DAS MATEMÁTICAS


O SENHOR DAS MATEMÁTICAS

         Quando recebi o livro O Senhor das Matemáticas  fiquei meio triste. Eu queria ler mais poemas de Maria Carpi. Sua poesia me fascina. Ao iniciar a leitura, um susto. Que gênero era aquele? Quanta poesia, da mais pura, naquela pretensa prosa!
Dificílimo seria classificar os textos, que versam muito sobre os sonhos, sensações, sentimentos; episódios externos e internos. É que os olhos de Maria Carpi têm um filtro mágico que vê além de. Sua realidade jamais é a nossa, percebida só em primeiro plano.
Ao terminar o livro, li na contracapa, as palavras de Ivo Barroso, escritor e tradutor, nascido em Ervália, Minas Gerais, homem do mundo, cosmopolita, erudito, poeta: “Outro lance inédito é escrever sobre sonhos, não os sonhos que idealizamos, mas sonhos realmente sonhados, com sua nitidez ou seu enuviamento próprios, sonhos com ou sem sentido, numa narrativa-confissão quase psicana-lírica. Você consegue transformar em realidade legível, quase palpável essa “matéria de que são feitos os nossos sonhos”.
Realmente são duas características marcantes do livro: uma análise criteriosa, mais poética que criteriosa, do material dos sonhos, sem muita preocupação com seu conteúdo manifesto ou latente. Maria Carpi passeia pelos bastidores do seu Inconsciente, perscruta seus porões com uma curiosidade lírica. Freud tenta desvendar o Inconsciente humano, desenvolve um método para conseguir acesso ao ID. Maria Carpi habita-o, transforma-o em puro lirismo. Se Freud pudesse ter lido O Senhor das Matemáticas, rasgaria sua obra A Interpretação dos Sonhos, publicada em 1899 e enlouqueceria de lirismo. Viraria poeta.
Interpretar os sonhos de Maria Carpi é um Décimo Terceiro Trabalho de Hércules, pela riqueza dos conteúdos manifestos e/ou latentes, pela sua complexidade. Ungida de religiosidade, a autora habita os textos bíblicos, com familiaridade, adentra neles, participa em narrativas na primeira pessoa, como no episódio das Bodas de Canaã (pág. 110, 111). Ela chega à Santificação divina do S       onho: “Ao sétimo dia, o sonho viu que o mundo era bom e descansou”. A religiosidade permeia em todo o livro, santificando-o.
         Outro belo exemplo dessa religiosidade é como Maria Carpi aborda o degastado tema Mãe; ela o faz com originalidade: “          Mãe dá-se em partilha e comunhão. Certa vez, em sonhos, sentei-me à mesa e tudo desapareceu.         Somente minha mãe a si própria distribuía. Ela era as espécies do pão e do vinho” (pág. 59).
Em meio à prosa, surge um belo poema, repetindo mais uma vez, a Profissão de Fé dos Poetas:     “A palavra sempre foi-me sobejo. /Avaro sou apenas de meu silêncio “(Pág. 22). Que mulher magnífica é esta, que se casou com a Palavra,  gera Poesias e as amamenta? E suas magníficas metáforas: “E senti uma grande abertura no tempo: o Improvável assinalou-me com a estrela na fronte, como a um cedro. Entro em ervas”(pág. 53).
Ivo Barroso diz que o poema mais belo do livro está nas páginas 120 e 121. Realmente o verso final é um achado: “Eu não me desculpo de morrer sem avisar”.     Mas a afirmativa é duvidosa. Difícil é escolher entre todos os poemas já escritos por M.C., nesse e em outros livros seus e dizer qual é o melhor, o mais perfeito.  Sua sensibilidade exuberante atrai e fascina.   
Maria Carpi é uma criatura feita de poesia pura

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