sábado, 30 de março de 2013

A FÁBULA DAS APTIDÕES



A FÁBULA DAS APTIDÕES

         A Fábula é um gênero literário aparentemente simples, um apólogo ou uma narrativa alegórica em prosa ou em verso, da qual se tira uma lição de moral.
         Esopo (grego, VI a.C) e Fedro (latino, 15 a.C.- 50 d.C.) foram recriados magistralmente, em verso, pelo imortal La Fontaine. quem, de forma inocente, ache que a Fábula é um gênero literário infanto-juvenil, historinhas para criança. Ledo engano! Mesmo que as personagens sejam animais, é uma narrativa sobre os seres humanos, com morais sábias, profundas e universais. Para comprovar isto, basta reler, entre outras, as fábulas ¨Os animais doentes de peste¨ ou ¨A jovem viúva¨, de La Fontaine, que demonstram respectivamente que de acordo com sua posição social você será julgado e que toda dor é efêmera.
         Há uma fábula moderna de autor desconhecido, que eu intitularia ¨A Fábula das Aptidões¨. Sua temática detecta um problema sério e eterno: a Escola distante da realidade. O texto, conotativamente, é uma lição preciosa.
         A Fábula é rica de significados. Dedico-a aos Professores para uma meditação. Espero que leiam o texto no nível mais profundo, captando seu significado maior. Talvez se possa entender melhor uma das razões precípuas entre as complexas causas da atualmente tão preocupante e discutida falência do ensino. Segue abaixo a parábola para reflexão.
         Certa vez os animais resolveram preparar seus filhos para enfrentarem as dificuldades do mundo atual e, por isso, organizaram uma escola. Adotaram um currículo prático que constava de corrida, escalar, natação e voo. Para facilitar o ensino, todos os alunos deveriam aprender todas as matérias.
         O pato, exímio em natação (melhor mesmo que o professor), conseguiu notas regulares em voo, mas era aluno fraco em corrida e escalar. Para compensar esta fraqueza, ficava retido na escola todo dia, fazendo exercícios extras. De tanto treinar corrida ficou com os pés terrivelmente esfolados e, por isso, não conseguiu mais nadar como antes. Entretanto, como o sistema de promoção era a média aritmética das notas nos vários cursos, ele conseguiu ser um aluno sofrível e ninguém se preocupou com o caso do pobre pato.
         O coelho era o melhor aluno no curso de corrida, mas sofreu tremendamente e acabou com esgotamento nervoso, de tanto tentar a natação.
         O esquilo subia sempre com rapidez e conseguia belas notas no curso de escalar, mas ficou frustrado no voo, pois o professor obrigava-o a voar de baixo para cima e ele insistia em usar os seus métodos, isto é, em subir nas árvores e voar de lá para o chão. Ele teve que se esforçar tanto em natação, que acabou por passar com nota mínima em escalar, saindo-se mediocremente em corrida.
         A águia foi uma criança problema, severamente castigada desde o princípio do curso, porque usava métodos exclusivos dela, para atravessar o rio ou subir nas árvores. No fim do ano, uma águia anormal, que tinha nadadeiras, conseguiu a melhor média em todos os cursos e foi a oradora da turma.
         Os ratos e os cães de caça não entraram na escola porque a Administração se recusou a incluir duas matérias que eles julgavam importantes, como escavar tocas e escolher esconderijos. Acabaram por abrir uma escola particular junto com as marmotas e, desde o princípio, conseguiram grande sucesso.
        
        

         

Um comentário:

  1. Cara amiga escritora Ely

    Bem colocada a fábula. Reflete uma realidade incomensurável. Infelizmente fomos educados para sermos bons em tudo. Jamais nos perguntaram se gostávamos de matemática em detrimento ao português. As notas não refletem nossos desejos e aptidões. Na maioria das vezes, a cobrança inicia nos lares. Pais, infelizmente, tornam-se nossos maiores opositores. Bom mesmo é quando há o equilíbrio. Percebemos nossas limitações. Aperfeiçoamos nossas aptidões. Eu fui agraciada pela vida. Nasci entre linhas e livros. Meu pai escritor e historiador, passou-me o gosto pelos livros - formei-me Bibliotecária e Documentalista. As linhas da escrita estou a formatar. Livros se preparam à lume. Minha mãe, artesã, legou-me o gosto e prazer das linhas nas lãs. Tornei-me assim artesã das lãs nas linhas e das linhas nas lãs. Aptidões que nos desvendam e nos revelam ao longo da existência, quando nos predispomos a encontrá-las dentro de nós. Como sempre, adorei o texto. Levou-me a este delicioso encontro. Obrigada.

    ResponderExcluir