sábado, 30 de março de 2013

RABISCOS NA ROÇA


RABISCOS NA ROÇA

Conheci Nilton Chiaretti há muitos anos, quando ele era um adolescente. Depois, nunca mais tive notícias dele. Veio a vida, cada um no seu caminho. Eis que, há pouco tempo, tive uma grande surpresa. Nilton, hoje um homem maduro, mandou-me um e-mail dizendo que gostava de escrever. Enviou-me vários poemas para minha avaliação.
Foi muito agradável. Lendo-o, lembrei-me do grande Manoel de Barros. Não é uma comparação, todavia ambos amam a Natureza e brincam com a semântica, com uma liberdade linguística notável e criativa. Outros poemas foram surgindo, encantando-me sempre.
            Aí aconteceu.          Dia 29 de janeiro de 2013, ele lançou seu livro             Rabiscos na Roça (Edição do Autor, São Paulo). Aos poucos fui conhecendo a fonte de tanta sensibilidade. Nilton é músico, nasceu em Jurucê, filho e neto de lavradores. Na infância teve, pois, contato com o campo e em 2000 regressou à vida campestre, como pequeno produtor rural, na região de Batatais.
            Ora, o gênero da poesia alicerça-se na linguagem nova, como eu digo no Prólogo do seu livro. E continuo: É dar ao conteúdo uma outra roupagem, alimentada principalmente pela conotação, pelo ritmo. Pode-se perceber de maneira contundente que Nilton Chiaretti é um verdadeiro poeta. Ele classifica sua obra como poesia caipira, por várias razões. É um olhar novo para a vida do campo, seus hábitos, bichos, plantas, sentimentos, sonhos.
            Fortemente telúrico, nosso Poeta, como todo talento verdadeiro, apresenta características muito suas. A principal é a liberdade da linguagem. Surge um festival de neologismos: Palavrear, avoar, aventar, luou, enluada, embandeiradas. Ele brinca com os verbos e às vezes usa, com liberdade, a linguagem coloquial.
            Ainda do Prólogo: Lendo alguns poemas de N.C., experimento a impressão de que ele tem uma visão transformadora, com uma pureza intocada, que o faz ver mais longe, na essência das coisas. Nos seus temas variados, na descrição da vida e dos hábitos do campo, descobre-se um mundo mágico, às vezes através de uma visão microscópica enriquecida de cores e cheiros, em belas sinestesias.
            Nilton Chiaretti, em seus poemas, emprega uma linguagem figurada riquíssima, repleta de sinestesias, hipérboles e personificações. Seus neologismos são abundantes. Usa, deliberadamente, as corruptelas “   prá”, “pro”  , que realçam o coloquialismo, mas também há textos filosóficos e emprega termos eruditos, como “    síncrono” (pág. 26). O lirismo e o erotismo surgem com muita delicadeza, assim como algumas pitadas de ironia
            Sem exagero, às vezes sua linguagem lembra a de Guimarães Rosa. Há uma grande riqueza e comparações, histórias de amor, temas do dia-a-dia do campo, vários poemas narrativos, como Céu (pág.82), deliciosa estória metafísica. No último poema do livro Rabiscos na Roça, há uma alusão ao   Autopsicografia, de Fernando Pessoa; Nilton usa então a figura da preterição. É uma declaração de amor à sua verdadeira musa.  Ele e o famoso autor do Cancioneiro inspiram-se nas poesias líricas medievais, portuguesas e espanholas. Nessa tradição poética há grande realce do ritmo e da métrica; há tanta harmonia, que são verdadeiras letras de música.
            Poder-se-ia ainda enfatizar a beleza no fechamento perfeito da obra de Nilton Chiaretti, assim como nos versos famosos do grande bardo português. Os dois poemas falam do porquê se escreve e da inspiração, de sua cosmovisão e da visão de mundo dos dois Poetas. 

2 comentários:

  1. Muito bom! Logo procurei saber que é Nilton Chiaretti. Encontrei-o. Que bom! Assim como gosto muito do Manoel de Barros, vou pesquisar mais sobre ambos. Vivi algum tempo da infância em uma fazenda, gosto muito de escrever, principalmente frases, viajar nas ideias, que ainda não são palavreadas.Obrigado pelo seu belo texto.
    Elvio Antunes de Arruda
    Elanklever

    ResponderExcluir
  2. Caro Élvio,
    Obrigada pela visita ao meu Blog. Você já viveu no campo, gosta de Manoel de Bsrros, de ler e de escrever. Logo teremos um novo poeta por aqui.
    Abraço.
    Ely

    ResponderExcluir