terça-feira, 11 de outubro de 2011

AS LUAS DE MARA SENNA

AS LUAS DE MARA SENNA

               Em um encontro do Núcleo da UBE de Ribeirão Preto, estive com a poetisa Mara Senna. Eu já conhecia seu primeiro livro e sabia dos prêmios que ela conquistou após, em vários concursos. Mara é uma mulher jovial, sensível, culta e uma grande poetisa. Depois da reunião, fui reler seu livro e o achei tão bom que não pude deixar de escrever algo sobre ele. O título: “Luas Novas e Antigas”. Disse ela que  está reunindo novos poemas para sua segunda obra. É uma tarefa ousada, visto que em suas Luas Novas e Antigas há textos excelentes.
               São poemas curtos, sintéticos, plenos de lirismo. O que encanta nos textos de Mara Senna é a poeticidade delicada. Ela aborda o cotidiano, fatos comuns do dia-a-dia, porém usa uma linguagem figurada rica e expressiva. Assim, cada poema transforma-se em uma pequena obra-prima. Em “Luz das Letras”, (página 17), suas alusões lembram Monteiro Lobato, sobre a gravidez de um texto. Em “Amara”, (p. 18), MS alude ao “anjo emprestado” de Drummond, em um novo contexto.
               Em “Guardados” (p.19), há um enfoque inteligente sobre as opções e a inexorabilidade do tempo. Mara brinca, às vezes, com a gramática, violentando os verbos, quanto ao complemento. No verso “E eu chovi assim o dia inteiro” há uma violentação gramatical, com efeito poético inteligente e expressivo.
               Em um poema de apenas seis versos, é abordado um problema metafísico que aflige toda a humanidade. São os assombros sobre as eternas dúvidas humanas, tema usado no famoso poema de Fernando Pessoa, sob o heterônimo Ricardo Reis: PARA SER GRANDE, sê inteiro”....
               No poema “Ainda bem”, na página 26, há um jogo semântico interessante: “Ninguém mais ouve” (...) “mas que ainda não houve”. Às vezes a poetisa é tomada de ceticismo: “Está comprovado:/ não há crime perfeito / nem beijo roubado./ O amor-perfeito / é só flor./ Mas flores murcham; / só resta Deus”. Aliás, a religiosidade é uma constante no livro. Outros achados: a capacidade de sintetizar grandes problemas, empregando expressões populares. Exemplo desta técnica é o excelente Poeminha do final do ano passado (p. 35):” Final do ano, / aí vai meu currículo:/ andei em círculo, / morri na praia, / fugi da raia,/ Ano que vem eu mudo”.
               Enfim, Mara Senna, que já ganhou vários prêmios e participou de antologias de peso, é realmente, uma grande poetisa. Realce-se o poema “Sedução”, com o qual participou da Antologia Ave, Palavra!, (Funpec Editora, 2009); de maneira criativa, usa a riqueza dos nomes de flores, em um jogo semântico repleto de sensualismo.
               È preciso enfatizar também outra constante do livro “Luas Novas e Antigas”: excelentes alusões mitológicas e bíblicas, com grande pertinência. Veja-se o belo poema Partida (p.83): “Naquele dia, / eu te dei as costas com a naturalidade/ De quem partia por pura vontade./ Se olhasse para trás,/ teria sido fatal./ Nunca fui mulher de Lot,/ pra virar estátua de sal”.
   Mara Senna é inteligente, criativa, culta e tem um grande talento:
Colocar todo o universo humano e a sensibilidade feminina em pequenos poemas, profundos, plenos de universalismo.

6 comentários:

  1. Mara Senna tem um poder de síntese absolutamente admirável. Seus poemas têm a fórmula certa, a dosagem de existencialismo e humor meticulosamente
    aviados. Não há uma palavra à mais ou a menos em sua poesia. Expõe seu pensamento "rápído e rasteiro". Uma maravilha.
    Cara Ely, lendo você, a Mara e a Cecília Figueiredo,por exemplo,
    chego à conclusão que a poesia em Ribeirão é feminina. Que bom: Poesia-mulher.

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  2. Caro Rossetti,
    Você e suas delicadezas. Coisas de poeta. Não, meu querido, não existe poesia feminina ou masculina. Apenas os poemas, como borboletas brancas, pousam na alma dos poetas, homem ou mulher. É o perfume da sensibilidade, flor preciosa, que as atrai. Assim nascem os poemas. Você sabe. É sempre tocado pelo mistério.
    Abraços.
    Ely

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  3. Escrever é um fascínio de pura energia.
    A linguagem dos escritores mostra um comportamento capaz de captar até as vibrações adormecidas.
    A palavra tem força, é descomunal, analgésica, estimulante e é apetitosa para os amantes do saber.
    Quem escreve atinge voos mirabolantes. É ilimitado. É um super dotado!
    O poeta sobrevive às intempéries diárias. Para ele, criar é a palavra de ordem!

    Aparecida

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  4. Ely , parabéns pelo belo texto sobre o trabalho da Mara, me sinto privilegiada pela convivência com vocês. Beijo, Eliane

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  5. Cidíssima querida,
    Gosto de sua lucidez e rara sensibilidade. É uma visita que enriquece meu Blog.
    Beijos.
    Ely

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  6. Querida Eliane,
    Só uma poetisa pode valorizar o trabalho de outra. Você e Mara Senna são dois poemas.
    Beijos.
    Ely

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