segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

DO QUE AS MULHERES GOSTAM

DO QUE AS MULHERES GOSTAM
                                                                                                                                
                     O título é de uma deliciosa comédia de Mel Gibson. O recado aos leitores, no entanto, é sobre tema diverso. Já expus neste espaço minha opinião a respeito dos livros de auto- ajuda, uma pseudo-literatura que é mero paliativo e não leva a nada. Difícil entender, todavia, o sucesso de tais livros. Entre as explicações, as mais plausíveis são carência afetiva, baixa-estima e fragilidade intelectual.
                        Outra literatura bizarra e questionável são as revistas masculinas, que proliferam dia a dia. Interessante notar que a editora chefe e articulistas, em geral,  são mulheres que se põem a dar conselhos sobre como devem ser os homens modernos, táticas de conquista, dicas para eles se tornarem irresistíveis. É de um ridículo atroz toda receita simplista que pretende moldar os seres humanos, gostos, predileções; é um amontoado de receitas esdrúxulas. Assim, já se tem até um termo para designar o homem moderno perfeito: metrossexual, hétero sensível, delicado, sentimental, que não se envergonha de ter gostos femininos, fazer compras em Shoppings, cuidar da pele, unhas, cabelos. Raia à imbecilidade quando estipulam que o novo macho deve depilar-se, ser, por exemplo, refinado conhecedor de vinhos, um verdadeiro enólogo.
                         E as tolices continuam: o macho perfeito, século 21, procurará suavizar os instintos, ser compreensivo, gostar de diálogos sobre a relação do casal. Jamais permitir que a agressividade o domine. Incoerentemente, quanto mais estimulam que se suavize a testosterona, nos homens, dão conselhos feministas às mulheres, para que sejam guerreiras, tigresas, turbinadas, valentes, resolvidas e, se possível, até com um curso de defesa pessoal.
                          É muito estranho que também revistas femininas famosas e outras recém-lançadas aconselhem vivamente como os homens e as mulheres devem ser, rotulando-os como cyborgs. Os ingênuos e não precavidos principiam a ter preocupações se seus corpos são como se usa, modernamente, se serão atraentes, felizes em suas conquistas. Enchem-se as Academias de ginástica, faz-se poupança para aumentar os seios, empinar as nádegas, fazer lipos.
                            Essas vítimas incautas não percebem que jamais se leem conselhos sobre o cérebro, como ser mais culto, ter conversa atraente, tornar-se uma companhia agradável. Não há literatura nem cursos especializados sobre inteligência, sensibilidade, conversas cativantes, personalidades fortes e autenticidade. É a massificação das mentes, a banalização dos valores inversos.
                             Já foi dito: quando alguém surpreende o outro, acontece uma conquista. Nesse mundo globalizado, onde tudo se copia, esta jamais se concretizará, se os parâmetros forem sempre ter um corpo “sarado” e ser uma enciclopédia de conhecimentos inúteis e supérfluos, que nada têm a ver com a verdadeira essência humana.

5 comentários:

  1. Querida Mara Senna,
    Eu sabia que meu texto seria apreciado por mulheres inteligentes e sensíveis, como você. Quando o escrevi, pensei nesta casta de criaturas especiais.
    Beijos.
    Ely

    ResponderExcluir
  2. Tempos atrás a mulher buscou por um marido. Depois procurou pela igualdade. Conseguido o feito passou a exercer as tarefas antes só masculinas. Hoje ela está tão apta que até disputa o prestobarba no banheiro.
    Mas o tiro saiu pela culatra. O homem, másculo por natureza, atravessou a linha imaginária e deixou-se seduzir pelo lado feminino .
    A emancipação feminina foi um blefe.

    Aparecida

    ResponderExcluir
  3. Aparecida, minha querida!
    Gosto muito de sua lucidez e a rara sensibilidade. Em um pequeno texto, no seu comentário, abordou temas importantíssimos.
    Beijos.
    Ely

    ResponderExcluir
  4. Se eu passo pela rua e vejo alguém que se encaixa nos padrões de estilo, atitude e peocupações ditados por esse mundo de revistas e programas de estética na televisão, não duvido por um minuto que trata-se de alguem desesperado, às vezez sem mesmo consciência de tal condição, incapaz de compreender a real complexidade que envolve criatura tão mística e plural que é o ser humano. A pessoa é apenas rasa, um robô que habita pele semelhante à nossa. A existência humana pressupõe uma gama inacreditável de comportamentos, e hoje que estamos livres de "polícias do pensamento" podemos bem fazer o que quisermos. E quase tudo é aceitável. Inaceitável, apenas, é o comportamento daquele que usa-se de sua figura individual para reproduzir outras. Nota-se que aqui inaceitável é em minha opinião, porque o “mundo”, a mídia pregam justamente o contrário. Infelizmente vivemos uma época que vangloria não a autenticidade e a personalidade e sim a "perfeição em imitar". Para mim, porém, todo tipo de moda (não só de roupas mas de condutas) é desprezível e a singularidade é o real valor a ser admirado em alguém.
    Quando eu passo na rua e vejo um desses descritos, eu tenho dó. Dó deles, claramente enganados, dó do mundo, que hoje sofre desse vício, e dó de mim, fadada a conviver com esse degradação materializada de minha própria espécie.

    ResponderExcluir