segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

A PRETENSA ERA DA COMUNICAÇÃO

A PRETENSA ERA DA COMUNICAÇÃO
            Hoje, com o desenvolvimento tecnológico, a Internet, os celulares, nossa época recebeu o discutível epíteto de Era da Comunicação. De fato, com a tecnologia, a Comunicação tornou-se mais rápida. A Televisão nos traz notícias e imagens do fato ainda acontecendo.  Tudo é célere, em um átimo. Os telefones são modernos, aparelhos quase perfeitos, a comunicação por e-mails algo prático. Mas tudo é feito através da Máquina. O Homem, sem perceber, não nota que as mensagens vão ficando cada vez mais curtas, práticas, superficiais e banalizadas.
            No Twitter, no Facebook, no Orkut há “notícias” tão idiotas, que raiam ao absurdo. É o cantor, o músico ou o jogador de futebol que noticiam sobre o que comeram, o que fizeram, quem amam, a quem odeiam. Daqui a pouco vão comentar com quem dormiram, que hora foram ao banheiro, como estavam seus gases, ou suas bexigas... E o pior é que sempre um grande público se interessa por tais vulgaridades. Processo idêntico é a atração de pessoas por programas imbecis, como o BBB. Várias vezes perguntei a alguns alunos por que viam o programa. Eles responderam que gostavam de saber da vida alheia... Não percebiam a encenação falsa, o jogo das situações esdrúxulas, as baixezas?
            Em artigo anterior eu já citara a perquirição de Anezaki Chofu (1873), suscitada por Paulo Morand, poeta, escritor e educador francês (1881/1976): “O telefone, o telégrafo, o rádio, a Internet possibilitam, a ponto de tornar inquietante, a troca rápida das comunicações. Mas que é que nós temos a comunicarmos? Cotações da Bolsa, resultados de futebol e histórias de relações sexuais. Saberá o homem resistir ao acréscimo formidável de poder de que a ciência moderna o dotou ou destruir-se-á a si mesmo manipulando-o?”. Meio profético, o grande intelectual já percebera o perigo, porque o homem acabaria por tornar-se mais superficial, apegado ao supérfluo, em detrimento do essencial.
                        Este mesmo texto denunciava que conviver muito com as Máquinas robotiza o homem, ele se coisisfica, se reifica. O Progresso tecnológico alimenta o sedentarismo e o Diabo, com sua esperteza vulpina, ensina que a Máquina é também excelente instrumento para o crime. Quem quiser argumentos é só assistir aos jornais televisivos, diariamente. O mundo moderno globalizou-se e grande parte dos seres humanos parece cópia carbonada, agindo de maneira idêntica, com os mesmos valores inversos e uma ganância por bens materiais, que acaba por ser sua perdição.
            Parece um paradoxo. Quanto mais os grupos, as gangues, a multidão se junta, maior é a solidão humana. A filosofia não é nova. Já se disse que se quiser ficar só, misture-se a uma multidão. Ela é acéfala e perigosa. Quando o assumir individual desaparece, o perigo é maior. E o grande problema é quando se usa esta pretensa união para o mal.  O Flash Mob, por exemplo, é uma chamada à multidão, para dançar, ou em nome da arte. O movimento é então algo positivo. Mas ele pode também ser usado para encontros  nefastos, brigas, desafios. Aí é coisa do Diabo.
            Enfim, o homem, cada vez mais refém da Máquina, continuará um ser solitário, infeliz e vazio, cheio de tédio, na pretensa Era da Comunicação. Ora, no início de outubro deste ano, morreu Steve Jobs, um gênio que mudou a história dos computadores e também do cinema, da música. Não se pode negar a importância da parafernália eletrônica que sua genialidade criou, fez evoluir. Mudou  o mundo sim, mas acirrou a obsessão dos aficionados por tais aparelhos. Eles se tornaram mais
reféns ainda da Máquina e do sedentarismo.
            Como evitar o exagero do uso das máquinas,  usufruir de suas benesses, sem correr o risco de depender tanto delas? Este é um dos grandes desafios modernos.

           

8 comentários:

  1. Jamais poderia pensar que um dia teríamos significados diferentes no dicionário do tempo.
    Na teoria as palavras têm sua definição real, na prática perderam sua força.
    A águia sempre foi modelo para expressarmos o alcance dos objetivos do homem, mas hoje cansada e iludida, não mais projeta voos significativos e sim rasantes depreciativos.
    Muitas vezes, nas ruas, fico analisando os homens, suas figuras esquisitas, verdadeiros protótipos do absurdo, descaracterizando por completo a imagem de um verdadeiro pensador.
    Sou a favor do ET: em tempo.
    Em tempo de mudança, de melhora, de pé no chão, de raciocínio, de observação, de educação, e de regresso aos bons tempos.

    Aparecida Evangelista

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  2. Prezada Ely V. Lisboa, inicialmente envio um forte abraço ao Jugurta que nos apresentou virtualmente e, desejo reafirmar seus comentários oriúndos de pensamentos profundos e bastante elaborados.
    Pessoas de nossa geração sentem-se responsáveis, também, por este desvio do comportamento social, infelizmente, majoritário, admitido a partir do 'pensar mais fácil' desta 'vida moderna'.
    Permaneço com a esperança de que vozes como a sua sejam ouvidas pelas gerações que ora se apresentam para gerir nossos destinos!!!

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  3. Maria Evangelista,
    Mais uma vez você me surpreende. Em um pequeno comentário diz uma frase sábia, de conteúdo profundo, em uma linguagem bela: "A águia sempre foi modelo para expressarmos o alcance dos objetivos do homem, mas hoje cansada e iludida, não projeta voos significativos e sim rasantes depreciativos".
    Parabéns, mulher inteligente e sensível.
    Ely

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  4. Caro Airton,
    Comentário pertinente o seu. Recebi e-mails de gente mais jovem que nós. Mas que também percebem os perigos do chamado "progresso moderno". Isto alimenta a esperança de minimizar os problemas dos dias atuais, encontrando causas e soluções. Afinal, eles são o futuro.
    Um abraço a você e família.
    Ely

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  5. Ler este artigo inteligente, sensato, lúcido, profundo, é um refrigério para a alma.
    É nauseante navegar na internet (e mídia em geral) quando nos deparamos com notícias imbecis e tudo mais o que foi citado acima.
    Este texto nos alivia um pouco, nos trás esperança...
    Vou divulgá-lo, principalmente aos jovens.
    Que os pessoas consigam evitar um pouco o virtual, ilusório e superficial, e busquem mais o contato real, pessoal, legítimo, com os outros e consigo mesmas... Equilíbrio...
    Obrigado, Ely, por mais este artigo de alto nível!

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  6. Mas ainda preservo o gosto por enviar mensagens de fim de ano, apesar da pressa de viver em nossos dias. E aí está:


    ANO NOVO
     

     Receba o novo ano em seus braços, em seu colo.
    Apare-o como deve ser, posto ser criança.
    Olhe para ele
    como se olha o para o céu após a tempestade.
    Ame-o como um novo namorado.
    Vista-o de festa, cubra-o de beijos,
    traga-o para dentro de você,
    promova sua melhor dança.
    Diga a ele em sussurros o que espera dele,
    e neste fervor da vida,
    deposite-lhe seu coração, com cuidado.
    E sobretudo,
    dê a ele aquilo que temos de sobra de outros anos:
    a esperança.

    ____________________________________________

    Um feliz 1012, Ely, para você e seu marido.
    Grande abraço.

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  7. Querido Márcio,
    Obrigada pelo seu comentário inteligente. Que 2012 seja um ano feliz, para nós todos. Que você continue sendo este professor dinâmico e idealista, em uma época quando a Escola virou praça de guerra. Ser professor hoje é profissão de risco...
    Beijos.
    Ely

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  8. Rossetti, meu Poeta!
    Puro lirismo mandar votos de Feliz Natal, através de um poema! Lindo! Um encadeamento de belas metáforas, personificando o Novo Ano. Sensibilidade poética...
    Abraço.
    Ely

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